O caso da viatura

O caso da viatura

Criminosos afrontam agentes públicos da lei, danificam patrimônio que são pagos pelo povo. Mas o que acontece com eles, ao final das contas?

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Leitores me questionam se haverá uma punição exemplar ao sujeito que levou uma viatura policial em Porto Alegre e fugiu, abandonando-a na rodovia. Olha. Vamos torcer. Porque torcer é o que nos resta. O que mais acontece neste país é a polícia fazer o seu papel e a própria coisa pública, pelo seu cacoete de não punir com rigor - e pelas mil voltas possíveis que o sistema legal permite -, toda esta ação se tornar um mero "enxugar de gelo". Mais um.

Vamos começar com o crime de dano. É praticamente não punido na nossa legislação. Pena irrisória, se houver. Aham. Se houver! E quando o dano é causado ao patrimônio público, não muda muita coisa. Pena curtíssima ou multa. Ou, como é de costume, perdão. Que nada mais é do que uma liberação oficial para fazer de novo, ou para outros acharem bonito e fazer também.

Certa feita eu estava lendo uma jurisprudência sobre o caso de um criminoso que, ao ser preso, quebrou os vidros da viatura policial, resistindo. Diz a sentença que não houve um dolo específico, não foi intencional, mas algo casual e decorrente, tipo, "ô, é meu direito tentar fugir, e como vou tentar fugir sem quebrar os vidros?". Tá. Imagino que ele não tenha batido na janela do carro com intenção de quebrar. Como o assassino que atira e diz não ter intenção de matar, ou o corrupto assombrado com o dinheiro desviado que, nossa!, caiu no seu bolso sem querer. Compreensível. O contribuinte que pague. E o contribuinte que fique sem o atendimento daquele veículo, bancado pelos seus impostos, até que seja consertado.

Enfim. Não entendi muito, sou fraco no juridiquês, mas é da vida. Lembrei de um (na verdade mais de um, mas é que este foi gritante) preso que, para nos sacanear e aparecer ferido na delegacia, quebrou os vidros da nossa viatura com pontapés e cabeçadas. Nem vou contar o resto desta ocorrência que eu e meu parceiro atendemos porque é ainda mais decepcionante. Só sei que dias depois o cara estava desfilando pela cidade e sendo denunciado ao 190 por furto em comércios. E a nossa viatura ainda estava esperando a verba para ser arrumada.

As coisas públicas precisam respeito. Patrimônio público não é do governador, nem do presidente (como alguns pareciam acreditar nos vandalismos de janeiro) ou do prefeito. É do povo. De todos os que suam bicas para se sustentar todos os dias e pagam impostos até no mínimo pãozinho que compram na padaria. É um desaforo à cidadania e uma falta de respeito inaceitável. Precisava ser punida com um rigor exemplar, não ser considerado assim, coisa pouca. Por isso se repete tanto. A coisa pública precisa ser muito respeitada pelo seu povo. Tá, precisa se dar ao respeito também, mas aí é outra conversa. Vamos fazer a nossa parte. Pelo menos.

 


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