O crime do piá de Uruguaiana

O crime do piá de Uruguaiana

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Fotos: Luís Emílio com o ídolo Luís Marenco, em evento do CTG Reminiscências. Caminhão com manifesto dos integrantes do mesmo CTG em seu desfile em Montenegro/RS, no 20 de Setembro. Brasão do CTG demonstrando o luto dos seus integrantes.

Ao cruzarem a avenida Ramiro Barcelos, no centro de Montenegro, na manhã deste 20 de setembro, os integrantes do CTG Reminiscências emocionaram milhares de espectadores do desfile farroupilha na cidade. Mostrando o luto e a dor pela morte bárbara de seu integrante Luís Emílio, em Uruguaiana, abraçados sobre um caminhão com balões pretos e brancos, os integrantes de uma das mais jovens entidades de tradições gaúchas oravam. Suas lágrimas e vozes eram mais que sua homenagem ao grito revolucionário de um povo cansado. Traziam a mensagem doída que pede um pouco de paz, de respeito à juventude brasileira que, todos os dias, vê ceifadas vidas e sonhos nesta violência incontrolável. Luís ingressara na faculdade de Veterinária pela esperança de um futuro melhor e honesto. Pelo sonho de ajudar o próximo. Sua luz se apagou de repente sem qualquer lógica.

Seu assassino é um adolescente. Um jovem drogado que mata para roubar celular e trocar por drogas, como acontece todos os dias cada vez mais no Brasil. Crimes que têm aumentado em todos os centros urbanos do Oiapoque ao Chuí. Aí alguém dirá que se liberasse o consumo de drogas nada disso aconteceria. Talvez num mundo de videogame. Não é a legalização que termina com a violência, mas a educação de um povo com seus valores, o que ele prioriza e vê como respeito ao outro e a forma como ensina seus filhos a vencer ou perder. Os meios para qualquer um ter a chance de ser alguém. O grande aliado dessa máfia que lucra com a morte alheia é a charlatanice de quem pensa e decide essa sociedade no ar fresquinho do seu ar-condicionado, sem sentir o cheiro podre da morte, da miséria, da falta de perspectiva e da safadeza gestora que torna esse país, há séculos, palco de abutres. Na faca assassina que nos levou Luís Emílio, há a digital da bagunça em que vivemos, da incompetência e descaso em lidar com a questão do crack, a hipocrisia de quem cria escolas de desrespeito, repúdio à polícia e às regras de toda ordem.

Quinta, uma operação policial de minhas equipes apreendeu uma fortuna em crack, cocaína e maconha, além de armas, munições e muito dinheiro. Tudo vinculado a uma facção criminosa gerenciada por presos. A Polícia Civil deu outro golpe na máfia do roubo de carro. E é muito dinheiro, dinheiro que um professor não vê em meses de trabalho tentando mudar essa sociedade, que um policial honesto não vê nem fazendo horas extras. Por trás de cada detalhe disso tudo, um jovem e uma arma, prontos para matar em nome do apelo incontrolável de seu vício. E um esquema que enriquece muita gente com o sangue derramado do nosso povo. Eis o Brasil. Um país onde sonhar não é permitido  e lutar com decência pode ser sua pena de morte.

 

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