O crime que desafia o Estado, desafia um povo

O crime que desafia o Estado, desafia um povo

Oscar Bessi

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Não foi fácil a caminhada da humanidade para que chegássemos aqui. Nossa história milenar passa por diversos capítulos de barbárie. De uso violento e criminoso da racionalidade como meio de submissão e controle de povos inteiros. Usando justificativas variadas, como desígnios misteriosos e divinos, ou nem isso. O fato é que a brutalidade, a ferocidade e o medo, alavancados pela disputa ou manutenção do poder, sempre andaram lado a lado com os passos outrora lentos, e atualmente acelerados da nossa evolução. Estiveram presentes em milhares de capítulos vividos, diferentes no tempo e no espaço, mas tendo em comum esse descaso ao melhor lado de nossa essência: o que todo o ser humano tem, consigo, que é a busca por afeto, carinho, compreensão e amor. Respeito. Dignidade. Embriões e pilastras de uma sociedade cuja intenção fosse, realmente, alcançar o bem coletivo, para assim proporcionar a possibilidade do bem individual. Mas a evolução da humanidade, que trouxe consigo descobertas e maravilhas científicas, também trouxe a genialidade para organizar o mal. E o crime segue sendo uma bela fonte de renda movida pela ganância e pela falta de escrúpulos.

Há duas formas de o crime organizado enfrentar o Estado e o seu povo. Uma delas é a violência bruta, outra é a corrupção. A violência bruta, essa utilizada por grupos que mandam assassinar desafetos, agentes públicos honestos que estragam esquemas criminosos e aceitam a morte banal em troca de qualquer bem, não pode ser aceita de forma alguma pela gestão do Estado. Toda vez que autoridades encarregadas da segurança pública são perseguidas e ameaçadas, ou até mesmo executadas, por criminosos, a exemplo do plano milionário descoberto pela Polícia Federal no Brasil recentemente, quem também está com a arma ameaçadoramente apontada para a sua cabeça é o cidadão comum. Porque se os representantes legítimos, encarregados pelo regramento social, de fazer a sua proteção estão vulneráveis, então ninguém mais poderá se considerar seguro. Por isso é tão importante que a resposta seja imediata, seja implacável e seja dura. É o medo coletivo, além da insegurança dos agentes públicos, que está em jogo. Ou se reage, ou toda a sociedade se rende e se submete aos criminosos.

O que quase aconteceu no Brasil, já sabemos que ocorreu na Colômbia dos tempos de Pablo Escobar com atentados e execuções sumárias de autoridades que tentavam fazer valer a lei. Aconteceu no México. Aconteceu nos Estados Unidos, dos anos 40 (principalmente em Chicago) e na Itália, que ainda vive sob as sombras das máfias e suas garras assassinas — só para deixar claro que este mal não é privilégio de terceiro mundo. Mas há sempre uma capacidade de enfrentamento desta violência e uma necessidade de que isso ocorra. O plano criminoso para matar autoridades brasileiras precisa ser marco histórico para uma virada de mesa na legislação, ainda tão benevolente com criminosos de todo tipo — inclusive com os corruptos que alimentam esse esquema paralelo –, e tão distante das necessidades do nosso povo sofrido. Há que se ter novas e melhores respostas contra o crime. Que não é organizado por acaso. Mas porque se permite, infelizmente, que assim o seja.


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