O Professor e a piada de português

O Professor e a piada de português

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Logo após os atentados na Espanha, li em rede social que “tá difícil viver ou passear num país de primeiro mundo: o sujeito está num café, tranquilo, de repente alguém abre o casaco, grita por Alá e explode tudo, ou mete um caminhão por cima, aí prefiro meu medo de assalto”. Chocante. Estamos resumidos a escolher sob qual medo viver? Repasso os vídeos onde horror e sangue se misturam com a beleza das paisagens europeias. Parece não combinar, o belo e o bárbaro. Mas é da humanidade a violência inexplicável, o fanatismo cego, o terror. Curioso, pesquiso sobre os países mais violentos e pacíficos do mundo. Suas realidades. E onde nós, brasileiros, estamos no meio disso tudo.

Inicio por Portugal. Nossa “pátria-mãe”, dizem alguns, embora eu prefira chamar de madrasta, já que nunca fomos seus “filhos biológicos”. Sei, uma infeliz metáfora, eis que maternidade é o inverso de qualquer significado similar à colonização depredatória, e criminosa, como foi a nossa. No presente, o Brasil sem guerras não tem um bom diagnóstico graças à carnificina promovida pelo trânsito, tráfico de drogas, latrocínios e muito mais, crias da óbvia incompetência estatal de décadas (ou séculos). Já Portugal anda no topo dos países mais pacíficos do mundo e melhores para se viver (a liderança, se não me engano, segue com a Islândia do romancista policial Arnaldur Indridason). Corri à pesquisa de alguns comparativos que julgo fundamentais, como as políticas públicas em relação aos policiais e professores. Ou à Segurança e Educação como um todo, mas sempre feitas de pessoas, de profissionais. E não consigo desvincular ambas, ainda que os gestores públicos daqui tenham essa mania de “políticas de segurança” que só joga mais lenha na fogueira do front sem sequer cogitar prevenção. E a única prevenção eficiente é educar.

Enquanto em toda a Europa os salários dos docentes beiram o máximo dos limites legais, em Portugal ainda se busca isso, mas os governos investem nessa ótica. Um professor ganha, em média, nove mil reais em moeda de hoje. Boa remuneração, perspectiva de carreira, valorização e condições de trabalho é a filosofia portuguesa. Dispensável comentar o conhecido e ridículo oposto brasileiro. Pois neste país, minha primeira lei necessária sextuplicaria o salário mínimo do magistério e cassaria governos que não cumprissem a regra. E onde se constrói prédio de luxo para sede de poder executivo, legislativo ou judiciário, deveria haver escolas no mesmo padrão, antes disso. É, me chamarão de louco ou utópico. Mas insisto, nos falta exigir mais desses que sustentamos e têm como obrigação corrigir o andar da nossa sociedade. Ou a maior piada, para os portugueses, continuará sendo saber que fazemos piadas sobre a inteligência do português. Logo nós!

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