O sorriso dos abutres

O sorriso dos abutres

É incompreensível que pessoas fiquem apenas criando fake news, enquanto o povo gaúcho sofre com a tragédia climática

Oscar Bessi

publicidade

“Vamos prender todo mundo”. A fala do Secretário de Segurança Pública, Sandro Caron, do alto dos seus muitos anos de experiência no combate ao crime como delegado da Polícia Federal, ecoou como um alento aos milhões de gaúchos que, direta ou indiretamente, foram atingidos pelas enchentes que estamos vivendo. As pessoas perderam demais só com a invasão das águas. Com cheias e enxurradas. Largaram casas, negócios, histórias e sacrifícios de uma vida inteira. E criminosos se aproveitam, aliás, estes deveriam ter um tratamento muito mais pesado da lei por agir se aproveitando nas calamidades, no desespero alheio. Emblemáticas as imagens da cúpula da Segurança, alto comando da Brigada Militar e demais forças sem se importar com as águas quase na cintura, acompanhando as ações policiais na tragédia. Policiais Civis largaram suas delegacias. Policiais de outros estados, guardas municipais, policiais federais, um mutirão em defesa da cidadania ameaçada. E ainda houve quem achasse argumento para fake news.

Aliás, não me espanta bandido sendo bandido. Não espero nada além da falta de escrúpulos de alguém que escolhe roubar como meio de vida. E, muitas vezes, mata por isto. O que me espanta são os desocupados sem caráter que as redes sociais infelizmente criaram. Que ficam publicando brigas mesquinhas entre esquerda e direita enquanto o povo, mas o povo de verdade, chora no centro da lama dessa tragédia toda, entre seus mortos e desaparecidos, entre sua falta de amanhã e seu ontem arrastado pelas águas violentas. Sinceramente, acho de uma pobreza de espírito tão tacanha, tão desprezível quanto a dos ladrões que vilipendiam residências e comércios abandonados, toda vez que essas pessoas ficam postando acusações mútuas, querendo se aproveitar como sanguessugas de uma tragédia para destilar suas fúrias e frustrações político-partidárias. Sinceramente, não há lado inocente nesta hora. Há só inúteis que poderiam gastar energia ajudando ao próximo. Mas não. Em regra, esses fanáticos não são simpatizantes do trabalho, muito menos braçal.

E aí, como aos ladrões, até os fanáticos a gente entende: faz parte de sua natureza limitada destilar verborragias nas horas mais inadequadas. Não sabem mesmo fazer outra coisa. Agora, se dar ao trabalho de criar notícias falsas só para ver o pânico alheio? Criar fake news para se divertir num momento em que o desespero dá o tom de milhares de vozes que pedem ajuda? Sobre a atitude destes abutres, francamente, não há o que possa explicar. Sorrir, ou pior, até gargalhar com o sofrimento e o desespero dos outros? Mentir para justificar uma fantasia, uma ideia maluca, seja lá o que for? Não, aí não dá para entender. O Rio Grande do Sul está sendo abraçado país afora, mundo afora, por milhões. Mas, infelizmente há certos estragos patrocinados por uns poucos que não consigo aceitar. E me perdoem o tom. Mas tenho lidado muito no meio da dor e da lama para ter paciência com gente sem noção.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895