Os dentistas no front da Brigada

Os dentistas no front da Brigada

Oscar Bessi

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Era uma manhã de verão em Porto Alegre e recém havíamos combinado, eu e meu parceiro que dirigia a viatura, onde almoçaríamos dali uma hora. Passava um pouco das 11h. Eu cheguei a pegar a batatinha do rádio para informar à sala de operações o que havíamos combinado, para que o batalhão soubesse. Não cheguei nem a pronunciar a primeira sílaba. Um assalto a banco foi anunciado na rede da BM e corremos para apoiar no cerco aos criminosos. Foi-se o almoço. Lá pelas 16h conseguimos parar para um lanche. Pegamos dois cachorros-quentes, mais prático para a hora. Não havíamos chegado à metade quando anunciaram o assalto a uma farmácia, perto de onde estávamos. Voou pão e salsicha pela janela. Tiros e correria. Prendemos os caras, recuperamos o que haviam roubado e ninguém se feriu. Mas só saímos da delegacia no amanhecer do dia seguinte.
 
Eu lembrei disso enquanto ouvia uma palestra do Centro Médico-Odontológico da Brigada Militar (CMOBM) durante as ações do “maio vermelho”, quando se trabalha a conscientização sobre o câncer bucal. Os oficiais dentistas da BM atuam forte na questão preventiva e frisam que nossa rotina policial pode facilitar o descuido. Um dentista falava sobre isso e lembrei dessa ocorrência e tantas outras, quando  comemos com pressa e seguimos na missão. Uma escovação calma e detalhada, dentro daqueles ritos que a saúde bucal pede? Se der. “Mas quem podemos ajudar, socorrer, amparar, se não tivermos saúde?”, perguntou o palestrante. Bah, esses guerreiros de branco são fundamentais para o sucesso de todas as ações operacionais. Eles estão junto, no front, quando criam condições de saúde e prevenção para que os defensores da comunidade cumpram seu papel com êxito. E pensei que se perder alguns minutinhos a mais, numa escovação bem feita, o quanto ganho depois, em disponibilidade para o trabalho e, quiçá, até em tempo de vida?
 
Decidi escrever sobre os dentistas da BM porque um amigo, que olhou uma foto minha de curso, perguntou: “Por que tem sempre alguém de branco entre vocês?”. Bacana explicar, pois o que é normal para quem integra a corporação nem sempre é do conhecimento de todos. A Brigada Militar tem seu quadro de saúde. São oficiais, médicos de diversas especialidades, como dentistas, enfermeiros, farmacêuticos e veterinários, e praças que usam a farda branca para lutar ao nosso lado. Guerreiros brilhantes, seres iluminados pela ciência e profissionalismo. Já falei, em coluna de algum tempo atrás, sobre o Hospital da Brigada Militar. Pois temos também os combatentes dentistas do CMOBM que atendem com dedicação os colegas de farda e familiares nas policlínicas, cada vez mais pujantes e acolhedoras. Sou suspeito para falar, confio no meu dentista, colega de farda, como num grande amigo e sou fã das minhas três colegas de curso. Admiro seu conhecimento e abnegação. Invejo, confesso, sua paciência (nunca fui bom nisso). Toda segurança de um ser humano começa pela sua saúde. E a vida no front policial é dura demais. Mas, graças a atenção, parceria, suporte e segurança desses combatentes de branco, toda dureza pode ser sempre amenizada.

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