Os desenhos que pediam socorro

Os desenhos que pediam socorro

Oscar Bessi

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Qualquer ato de violência, de abuso contra crianças nos choca. Pelo menos a nós, que podemos nos admitir como seres humanos normais. Choca e indigna. Mas o caso revelado pela Polícia esta semana, em Canoas, comoveu a todos pela forma como se revelou. Duas meninas, de 6 e 8 anos, passaram a ser agredidas e abusadas sexualmente pelo próprio pai. Que nem merece ser chamado de pai, esta honra, este presente que a vida dá a alguns homens. Só pode ser chamado de outra coisa. Adjetivos que o respeito ao leitor e a este espaço não me permitem usar. Essas crianças, esses pequenos anjos em plena infância, na idade em que se pode brincar e sonhar, para assim começar a entender a vida a partir de valores humanos, foram estupradas várias vezes por este indivíduo. Tudo foi trazido à tona através de exames periciais especializados e depoimentos acompanhados por peritos. Hediondo.

A verdade veio após o pedido de socorro. A avó resolveu dar às meninas um caderno de presente, talvez sem sonhar o horror que seria revelado naquelas páginas. Quando viu os desenhos, mostrou à mãe, que passou a perceber o comportamento alterado, fugidio e irritadiço das pequenas. E que elas tinham medo de ficar com o pai. Procuraram uma psicóloga. Só então, graças à habilidade e perícia dos profissionais que conseguem perceber como estas coisas acontecem, foi descoberta toda a monstruosidade praticada por aquele sujeito. Os desenhos, que eram pedidos de socorro, de fato não salvaram as meninas, pois o mal já estava feito e refeito muitas vezes. Mas, pelo menos, cessaram aquela violência absurda. Que a Justiça seja firme como deve ser ao avaliar mais um caso em que, sem qualquer chance de defesa, vidas são interrompidas antes mesmo de dar um passo na direção de um sonho. Porque o que este sujeito fez às filhas foi condená-las ao pesadelo do horror que viveram.

Vejam o quanto dói saber como estas coisas acontecem. Ouvir que as pobres crianças, ao descobrirem que o pai detestava o cheiro de urina, deixaram para fazer isto quando ele se aproximava. Um sujeito que as ameaçava de morte para que não contassem a ninguém o que ele fazia, que chegou a estrangular uma das menininhas. Brutal. Porém, mais comum do que se imagina. Neste caso, um caderno, ao acaso, desencadeou o processo de descoberta. Falar, elas não conseguiriam. Eis que o mais comum é a criança, vítima desta violência, se fechar totalmente. Então que fique o conselho: preste atenção nos seus filhos. A maior parte desta violência acontece em casa ou entre conhecidos. Não repasse esta responsabilidade a ninguém. Cuide. Não confie totalmente em ninguém. Peça ajuda e não tenha receio de buscar esclarecimentos. É melhor um engano que, talvez, constranja, do que uma tragédia perpetuada que anulará vidas inteiras.  


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