Pequeno manual da não violência

Pequeno manual da não violência

Oscar Bessi

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Há uma velha máxima que talvez, como eu, os caros leitores ouçam desde a infância: a palavra convence, o exemplo arrasta. De nada adianta discursar algo e fazer exatamente o contrário. Esse mantra precisa ser repetido e praticado por cada um de nós. Educação começa em casa. Respeito, amor e tolerância, assim como o ódio e o desdém à vida, vêm de berço. O exemplo de Maquiné preocupa e a ação policial foi corretíssima. Nenhuma criança ou adolescente idolatra um dos maiores assassinos da humanidade sem que haja uma influência dos adultos com os quais convive. E esses adultos precisam ser investigados com rigor. Porque ali há um potencial enorme de violência gratuita e coletiva. Por isto, e por outros tantos motivos, a presença policial nas escolas faz bem para as comunidades escolares afetadas pelo medo após o ataqua macabro em Blumenau. Ainda que a disseminação de notícias falsas e brincadeiras irresponsáveis seja o que mais alvanca o medo de professores, pais e alunos. Mas, como se pode esperar tudo de qualquer um a qualquer momento e em qualquer lugar, é ótimo que as políciais estejam agindo com tamanho afinco. 

Só que essa presença policial não será perpétua. Sabemos disso. E jamais haverá efetivo de segurança pública suficiente, em lugar algum do mundo, para cuidar de todas as escolas, o tempo inteiro, ao mesmo tempo. Uma hora dessas a preocupação esfria e a realidade volta ao que sempre foi. Como estaremos preparados para evitar que novos horrores levem nossas crianças? Bom, segurança humana e predial é importante. Cercar bem as escolas, controlar e restringir os acessos, estabelecer mecanismos de controle rígidos, tudo ajuda. Mas o fator humano sempre será imprevisível. E é aí que o papel de cada um se torna fundamental. A verdadeira educação, aquela do exemplo, aquela que a escola não tem como corrigir porque estão impregnadas na alma de cada criança ou adolecente. Há que se prestar atenção nos filhos, sim, verdade necessária. Mas há que se prestar atenção principalmente em si mesmos, caros pais e mães. Como eu me comporto no trânsito? E quando eu quero discutir política? O que faço quando o meu time perde? Como eu trato as outras pessoas na frente dos meus filhos? Como eu trato os animais e o ambiente ao meu redor? Que excessos eu cometo na frente deles sem me importar com o que ensino?  E ainda há essa hipocrisia consumista que, particularmente, me incomoda muito.

 Não é defender alguma censura, mas há certas letras de música e outras manifestações ditas artísticas, ou de costumes, que são pura incitação à violência e ao desrespeito. E de que adianta falarmos tanto sobre a loucura da violência em Blumenau e celebrar, como li ainda neste semana mesmo, um jogo de videogame inspirado no filme “Massacre da serra elétrica”? (que, aliás, com todo respeito aos que gostam do gênero, mas acho de um extremo mau gosto). Um jogo, como tantos outros por aí, onde ganha pontos quem matar mais? É isto que queremos como diversão para os nossos filhos? Absurdo! E quanto mais fazemos ou deixamos acontecer sem perceber as consequências funestas que vêm de carona? Bom, me perguntaram se eu seria capaz de redigir - para uma prefeitura de outro estado, cujo solicitante é leitor desta coluna - um manual de comportamentos que evitem a violência. Pois meu manual teria uma página apenas. E uma frase: Preste atenção! Em tudo. Só isso.


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