Quando se arrisca a vida por um sonho

Quando se arrisca a vida por um sonho

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Quando os bandidos atacaram o ônibus da Turil, que viajava de Livramento a Porto Alegre, aproveitaram a troca de motoristas, apostaram também no sono dos passageiros. Afinal, era em torno de 04h30 da madrugada, seria normal se estivessem todos dormindo e só acordassem com o susto das armas a ameaçarem suas vidas, exigindo todos os seus pertences. Mas policial de verdade dorme com um olho aberto, ou nem dorme. E eles não contavam com a presença do Soldado Emanuel, da Brigada Militar. Contra o breu, o incógnito e assaltantes experimentes e fortemente armados, o policial militar agiu de pronto, sozinho, e escreveu mais um capítulo de heroísmo entre tantos que se sucedem na história abrasiva das nossas polícias.

Dois dias depois, em Porto Alegre, um agente da Susepe reagiu sozinho a um assalto e baleou um dos criminosos que o atacou. E quem é vítima de assalto sabe o quão complicado é enfrentar uma situação onde só um lado tem o domínio da cena. Policiais ou vítimas não sabem quantos são, onde estão, mas eles, os bandidos, dominam plenamente o cenário de ataque e o posicionamento da vítima, ou das vítimas. Além de contar com a surpresa a seu favor. Mesmo assim, por desígnios certamente divinos, muitas vezes eles se dão mal. E estes dois servidores da segurança pública gaúcha, nos dois casos, estavam de folga. Num momento que deveria ser de descanso, mas não é, nunca consegue ser, não para um policial brasileiro. Infelizmente o Rio Grande do Sul já vive, há algum tempo, a triste realidade onde os confrontos armados entre policiais e bandidos são diários.

Pois na tarde de quinta-feira, outro tiroteio em ônibus intermunicipal aconteceu em Jabaquara, zona sul de São Paulo. Um bando armado promovia arrastão dentro do coletivo quando se deparou com um policial militar. Assim como o Soldado Emanuel, seu irmão gaúcho de farda, o PM não pensou duas vezes, falou mais alto seu senso de cumprimento do dever e honra ao juramento feito. Agiu. Porém, infelizmente o destino reservava um triste desfecho para este novo episódio. Três mortos e cinco feridos, entre eles um assaltante e o nosso amigo policial. Que também estava de folga. O pai do criminoso morto, resignado, compareceu no local e disse que o filho havia optado pelo “mau caminho”, então ele já esperava algo assim. E mais uma família de policial brasileiro em luto. Como a do PM executado com mais de trinta tiros ao sair de serviço em Niterói, Rio de Janeiro, onde se mata dezenas de policiais todo ano. Uma amiga escritora portuguesa me perguntou, certa vez: “o que leva um brasileiro a se tornar policial e viver desse jeito?”. Não se sabe. Cada um tem seus motivos. Mas talvez todos, como os que citei acima, queiram apenas um país um pouco melhor. E oferecem a sua vida todos os dias em nome deste sonho.

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