Quem precisa de medida protetiva

Quem precisa de medida protetiva

Oscar Bessi

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Recentemente, um número elevado de decisões levou ao desconforto extremo no serviço policial militar e à indignação da sociedade gaúcha. Medidas protetivas sendo concedidas em favor de suspeitos de crimes presos pelos policiais no cumprimento do seu dever. Inclusive um sujeito armado, que fugiu dos PMs após confronto entre facções e reagiu à prisão, teve o benefício concedido. Claro que é uma medida possível e legal. Ou não teria sido sequer cogitada. Afinal, é Brasil. E somos famosos no planeta por nosso tanto de leis estapafúrdias e nossa clássica, histórica e secular impunidade. Alguns até tentam enfrentar, mas esbarram na predisposição cultural que temos de defender quem precisaria ser, na verdade, acusado. E é aí que se faz necessário perguntar sempre, e isso sem aderir a qualquer panfleto ideológico de lá ou cá (até porque a maioria dos “baluartes ideológicos” que andam por aí não servem de exemplo para nada), que tipo de legislação e legisladores nossa sociedade legitima. A democracia é uma joia rara, mas, aliada à ignorância coletiva e à educação deficiente, resulta em tragédias embasadas no absurdo.

Então a Record RS mostrou ao mundo, em primeira mão, os áudios de conversas entre criminosos combinando formas de simular que os policiais teriam agredido, invadido domicílios e por aí vai nas suas ações contra o crime. Alguns viram aquilo e ficaram pasmos. Bom, eu estou há quase 33 anos nesta trincheira e vejo isto acontecer desde o meu primeiro dia. Claro, ninguém está aqui dizendo que coisas erradas não existem, pois elas acontecem onde quer que haja seres humanos. Até os monges erram, ou adoecem, e perdem a cabeça. Mas tem que viver num mundo paralelo ao real para não saber, de cara, que criminoso é um tipo que escolheu o caminho da mentira e do prejuízo ao próximo. Mente descaradamente. Mente sem qualquer pudor. Como mata, esfaqueia, vende drogas ou desvia verbas (pois não há diferença entre os bandidos das armas e os das canetas na mão). Debocham da sociedade e riem da facilidade com que os “contos do vigário” são acolhidos e servem de instrumento para os seus golpes.

Fico pensando no pobre e acuado cidadão que, sem um aparato eficiente para defendê-lo, tem medo de ser testemunha contra criminosos. Que logo serão liberados para praticar novos crimes e, é claro, irão se vingar daqueles que ousaram denunciá-los ou reconhecê-los. São incontáveis os casos assim. Mas alguém já ouviu falar de medida protetiva concedida a alguém que reconheceu o assaltante do mercado que baleou o proprietário? Serviço de proteção à testemunha é para investigação que envolva grandes máfias (as que conseguem a façanha de serem descobertas), não daria conta de atender essa demanda. Como uma moça, cujo ladrão de celular, horas depois de ser preso, já estava solto e rondando o trabalho dela para intimidá-la, apenas porque ela deu o nome para os policiais como testemunha da coronhada que ele deu numa criança. Enfim. Viva nós! Hora dessas vou pedir uma medida protetiva só pelo fato de continuar sendo brasileiro.

 


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