Quem valoriza o policial?

Quem valoriza o policial?

Oscar Bessi

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São Sebastião, no Distrito Federal. Blumenau, Santa Catarina. Aqui em Imbé. Piedade, interior de São Paulo. Juiz de Fora, Minas Gerais. Chapada Diamantina. Porto Velho. Em cada uma dessas cidades que listei, apenas nas últimas horas, policiais militares brasileiros salvaram a vida de bebês com ações rápidas e muita dedicação ao próximo. Mais do que gente que faz, é gente que se importa. A lista total é muito mais longa. E se colocássemos quantos assassinos, assaltantes, estupradores, golpistas, traficantes e por aí vai foram presos pelos policiais militares em todo o país, só nas últimas 24 horas, bom, a gente até criaria alguma confiança no futuro. Mas se a ação desses policiais não é muito valorizada pelo próprio sistema de persecução penal, tão complexo e distante dos anseios deste pobre povo que o sustenta, e a esmagadora maioria desses bandidos presos estará, já no dia seguinte, liberada para seguir aterrorizando, roubando e matando, a valorização real do ser humano policial, por parte de quem deveria ser o mais interessado nisto – o gestor público –, aí mesmo é que não acontece.


A despeito do incremento das políticas de aparelhamento da segurança pública, do enfrentamento à violência e do combate à criminalidade, o óbvio anseio das pessoas é estar protegido pelo Estado. Este Estado que banca com seus suados impostos e que deveria existir apenas para lhes representar de forma autêntica. E por mais complexo que sejam estes temas, há uma verdade óbvia que permeia toda e qualquer iniciativa que fala em seres humanos: só se atinge resultados positivos com pessoas motivadas. Valorizadas. Incentivadas. Pasmem, destes lugares todos que citei acima, nenhum policial militar ouviu uma notícia de valorização por seus chefes legítimos. Afora São Paulo, onde o governador ofereceu um reajuste que vai até 34%, todos amargam as perdas dessa inflação  camuflada e, o pior, alguns ainda ouviram notícias de novas perdas. Alguém consegue ser feliz com gente tirando até o pão da sua mesa?


Time de futebol, operários de fábrica, galera do escritório. Nenhum grupo humano cresce sem motivação. Estatísticas? Por favor. Elas são as bisavós das fakenews e dos filtros nas fotos de rede social. Maquiagem para deixar tudo bonito como quem as manipula quer mostrar. Ser humano não pode ser número. É preciso criar condições para que esteja bem, e saber ouvir, e entender, orientar, retribuir, valorizar, premiar, oferecer perspectivas. Que ele é gente e é importante apenas por isto, e por estar junto numa causa. E que o objetivo é o mesmo e é sempre claro, nunca escuso. Policiais todos os dias se jogam ao encontro do perigo para salvar qualquer um, até mesmo aqueles que os odeiam. A melhor parte? O povo sabe muito bem disso. O povo conversa a todo momento com os policiais que os atendem. O povo não está nem aí para as estatísticas. A verdade não é para amadores, é para quem enfia o pé no barro. E enfiar o pé no barro não é olhar de perto e teorizar. É viver. E com a vida – a verdadeira, plural e multifacetada –, aprender a valorizar o outro. A única estatística que importa para policiais é saber que, ao lado de suas famílias, são 100% valorizados. Se for assim, até os números – aqueles –, dispensarão tanta maquiagem.


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