Respeitem os veteranos de nossas guerras

Respeitem os veteranos de nossas guerras

Oscar Bessi

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impressionante como criamos uma mania de desrespeitar e desconsiderar os mais velhos. Seja pela superficialidade, pelo imediatismo ou pela concepção equivocada de pressa e afobação que a tecnologia empresta ao nosso cotidiano. Há uma certa dificuldade em entender que todos, inclusive os que se acham superiores e mais espertos, chegarão lá, na velhice. E precisarão de alguém que se importe. No mínimo. O mercado de trabalho é injusto com os veteranos. Troca experiência por agilidade frívola, mas numa lógica matemática, de quem não quer pagar o que é merecido a quem se qualificou e gasta menos com iniciantes, fingindo dar oportunidades. Mas no serviço público não há essa desculpa, do lucro. Serviço público é para atender a todos. Com qualidade. Com compreensão. Então a sabedoria de quem tem estrada, por óbvio, só pode qualificar estes serviços. O “novo”, cantado por alguns como uma falsa solução para velhos problemas, não tem relação com a idade das pessoas. Mas com práticas. E elas, infelizmente, têm apenas se repetido.


Na Brigada Militar, muitos praças veteranos, com décadas de experiência, encaram um curso técnico de segurança pública para subir mais alguns degraus na carreira. Ganhar um pouco melhor no final da trajetória. Uma justa recompensa. São veteranos de nossas guerras cotidianas, homens e mulheres calejados que passaram a vida encarando num dia sim e no outro também todo tipo de conflito. Todo tipo de crime. Todo tipo de violência. Muitos saíram dessas batalhas com sequelas. Diversas. Físicas ou na alma. Se alguém se der ao luxo de perguntar a eles quantas vezes quase morreram em combate, quantas vezes se desesperaram, quantas vezes perderam a esperança e quantas vezes sonharam com um mundo minimamente melhor e mais justo, vai se assombrar com as histórias. Com os repetidos capítulos permeados de uma injustiça e falta de reconhecimento intrínsecas à atividade de quem se dispõe a defender, custe o que custar, o que é lei e o que é cidadania. Se alguém tiver tempo de ouvir suas histórias, vai apenas pensar: poucos teriam coragem de passar por tudo isso. E continuar.


Esses veteranos e veteranas, dispostos a sacrifícios como ficar longe dos seus nesta altura da vida, não estão exigindo favor algum. Estão apenas, e tardiamente, recebendo uma contrapartida por tudo que fizeram. Que, convenhamos, nem é tudo isso, então se torna desnecessário acrescentar qualquer falta de consideração que porventura possa passar pela cabeça de alguém. O neuropsicólogo russo-americano Elkhonon Goldberg, no livro “O Paradoxo da Sabedoria”, mostra cientificamente que a sabedoria é um processo natural da idade avançada. Mas a humanidade reluta em aceitar, ainda mais neste mundo mercadológico que arrebanha e comanda mentes consumidoras pouco capazes de pensar criticamente. Segue a filosofia ocidental de valorizar o jovial e belo, em detrimento da experiência, mais valorizada na cultura oriental. Aos jovens policiais sempre digo que ouçam os veteranos, os bons veteranos. Eles viram muita coisa. E só eles podem contar a história através de suas entrelinhas nem sempre expostas. E contra tudo e contra todos, eles deram uma vida inteira pelo seu ofício. Pela sua escolha. Merecem, no mínimo, gratidão.


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