Rio: ataque de guerra

Rio: ataque de guerra

Oscar Bessi

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A ação de criminosos esta semana na comunidade de Bateau Mouche, zona Oeste do Rio de Janeiro, extrapola qualquer parâmetro aceitável de violência para uma sociedade pretensamente civilizada. E deixa claro que o estado de guerra, aqui no país, não é mais reversível. Muito menos mascarável pelas autoridades públicas que gerenciam este caos e demonstram, ano após ano, sua incompetência, proposital ou não, para inverter este quadro. Sim, o Rio está em guerra. Pois quando um grupo numeroso de homens armados de fuzis, granadas e coquetéis molotov ataca uma base policial, e depois bombardeia e incendeia um veículo blindado de alta segurança com policiais dentro, é porque qualquer respeito possível pelo poder público, pela sociedade como um todo, pela paz ou pela democracia já foi jogado no lixo. Não há mais credibilidade em discursos de ocasião. Não há mais esperança para o pobre povo inocente, a grande maioria, que vive sob o terror diário e preso a estes cenários. É preciso fazer algo, urgente.

Mas, para isso, os três poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) precisam relembrar que são sustentados pelos impostos do povo, precisam deixar de lado disputas de poder e as lorotas de sempre e, por e para este povo sofrido, é que devem trabalhar. Agir. E para ontem! Ninguém quer essa guerra, esse medo. É tão difícil assim entender? Então que se descruzem os braços, cessem as teorias sobre a rebimboca da parafuseta, e se arregacem as mangas para dar um fim em tudo isso. Caso contrário, a guerra se espalhará. Se já está fora de controle lá no Rio de Janeiro, as prisões e apreensões ocorridas em outros estados mostram que o país está doente faz tempo. Desde o “paladino” em 1992, precursor dos primeiros “caveirões” a atuar pela PM do Rio, a realidade só piorou. Nenhuma ação de gestão pública deu qualquer resultado. Os crimes aumentam, o poder paralelo se amplia, corrupção e envolvimento de autoridades vêm na esteira desse quadro caótico e a população carioca sofre cada vez mais.

Não adianta os ditos especialistas dizerem que se atacou um símbolo do poder do estado, ao se bombardear o “caveirão”. O poder do estado já está pisoteado faz tempo. O que se atacou foi o respeito que a população que não se envolve com o crime ainda teimava em crer que existe. O que se atacou foi a figura da reação. O limite. Uma guerra não respeita esses tais limites. Uma guerra só causa dor. Ninguém evolui, individual ou coletivamente, com guerras. A não ser os abutres, que lucram com elas. Esses adoram os conflitos, trabalham inclusive pela sua longevidade, pois é a desgraça alheia que promove o seu prazer. Enquanto ficamos reféns dessa batalha interminável, o bombardeio planejado à base da PM e ao “caveirão” são sinais que os doutos, hoje de braços cruzados, precisam considerar como alterar o quadro. Quando o outro lado está incontrolável, nem aí para limites, cuidado: o próximo alvo pode ser outro referencial público bem mais impactante. Guerra é guerra. E assassinos são assassinos. Cuidado, abutres. A coisa tá feia. E o próximo alvo pode ser seus ninhos. 


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