Consagração e história na Indy 500, sinônimos de Castroneves e Kanaan

Consagração e história na Indy 500, sinônimos de Castroneves e Kanaan

Hélio quer o penta para criar panteão exclusivo, Tony busca despedida com vitória

Bernardo Bercht

Hélio levou a Indy 500 nos anos de 2001, 2002, 2009 e 2021

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Contar histórias, fazer história, ser a história. Essas são as etapas do piloto Hélio Castroneves em sua jornada de consagração nas 500 Milhas de Indianápolis. Membro de um panteão de quatro pilotos que detêm quatro vitórias, agora ele olha para cada umas das 23 largadas rumo à rua 16 Oeste do município de Speedway e busca virar lenda com uma quinta e inédita vitória no templo do automobilismo norte-americano.

Castroneves evita eleger uma vitória preferida na carreira, que além da Indy 500 (a primeira em 2001, depois 2002, 2009 e 2021) incluiu 24 Horas de Daytona e 84 troféus da Indycar. “A última é sempre a que fica mais na memória. A maneira que foi em 2021”, comenta o piloto, fazendo uma pausa enquanto dirige seu carrinho de golfe rumo ao motorhome. Dois anos atrás, quando muitos apostavam em uma aposentadoria próxima, Hélio dominou as ações e escalou a cerca como campeão, regendo feito orquestra a torcida que voltava a lotar as arquibancadas após dois anos sem público na pandemia.

“Mas todas são (especiais)”, emendou após refletir. “Em 2009 eu nem sabia se ia correr e no fim estava no winners circle (o pódio da Indy)”, comentou. Naquela ocasião, o piloto foi inocentado de acusações de evasão de divisas e retomou a carreira da melhor forma possível, como tricampeão das 500 Milhas. Largou na pole, foi soberano na liderança e segurou a diferença para Dan Wheldon em uma vitória marcante: o primeiro piloto de fora dos Estados Unidos a vencer três vezes a corrida.

Curiosamente, é provável que pelo intenso espírito competitivo, o brasileiro tem marcado na lembrança com muita força duas provas que não ganhou. “Aí você pega pesado”, brincou ao ser questionado, já estacionando o carrinho. Ao invés de subir logo no motorhome, contudo, ele quer contar histórias. “A de 2003 contra meu companheiro, o Gil de Ferran, doeu bastante”, citou. 

“Eu tinha um super carro, super rápido. Podia passar ele onde eu queria”, avalia Hélio. “Obviamente ele teve experiência, competência. Teve uma situação adversa com um retardatário, eu fui cauteloso pois meu carro estava muito bom, ele acabou vencendo”, descreve. Ele não diz, mas deixa no ar um leve toque de “fazer o jogo de equipe”, algo que executou tão bem, a maior parte das vezes como protagonista, na poderosa Penske.

Castroneves carimbou a pole novamente e liderou 58 voltas contra 31 do companheiro e rival de Penske, que havia largado em 10°. A bandeirada ficou com o colega, contudo. A edição de 2003 foi especialmente marcante para os brasileiros. Foi a única vitória de Gil, e também a única trifeta do país, com Hélio em segundo e Tony Kanaan em terceiro, num domínio completo da corrida mais importante da terra do Tio Sam.

Hélio tem mais uma “engasgada” na memória. "Em 2017, com o Takuma Sato 'foi brabo' de segurar também", relatou. "O carro estava incrível, sem todo aquele motor Honda. Todos os Honda da frente quebraram, menos o do Takuma. Curiosamente, outros Chevrolet como o dele nem tiveram chances, mas o Penske de Hélio, que havia perdido um pedaço, em função do acidente de Scott Dixon, mais cedo, estava no páreo. “Talvez tenha ajudado, aquela asinha que eu perdi. Tinha menos pressão aerodinâmica, mas o equilíbrio do carro se manteve e eu conseguia atacar. Foi complicado não ganhar, mas acontece.”

Kanaan: despedida de olho na vitória

Tony Kanaan, aos 48 anos, pretende ter um adeus de vencedor na Indy 500. O piloto baiano venceu a prova em 2013 e bateu na trave outras tantas vezes, inclusive com um terceiro lugar no ano passado. Nos momentos derradeiros, vive o sonho de guiar pela McLaren do ídolo Ayrton Senna, que inclusive foi propulsor da sua carreira no exterior. “É minha infância, são os carros que eu queria pilotar, pois o Senna era meu mentor", destacou o piloto. "Ele foi o cara que me ajudou depois de me ver em uma corrida de kart, pouco antes de perder sua vida. E isso me impactou", comentou emocionado. “E veja só, em todos esses anos, sou o único brasileiro nessa equipe desde que ele saiu, há 30 anos, em 1993.”

Tony enfatiza que quer aproveitar tudo, cada momento, interagir com a torcida, ver a multidão levantar para aplaudir quando for para a pista. Mas na hora que a bandeira verde baixar na torre, só tem um pensamento. “É tudo ou nada. No fim do dia, se eu errar, algo de ruim acontecer, o Zak Brown não pode me demitir”, brincou.

Neste domingo, às 12h45min, os dois brasileiros vão disparar a mais de 300 km/h em direção à Curva 1 do famoso oval. De um lado, o encerramento de uma história campeã, de olho na vitória definitiva. Do outro, o maior vencedor da corrida quer ainda mais conquistas e se tornar o maior da corrida norte-americana.

Kanaan enfatiza a emoção de guiar pelo time britânico. “Os caras aqui nos EUA nem conseguem entender direito, pois é muito forte essa imagem do Senna com a McLaren no Brasil”, citou. “Inclusive já falei com o Zak que eu quero de presente algum carro da coleção dele se ganhar. Brincadeira, mas pelo menos umas voltas naquela McLaren de 1993, ou 1988 eu preciso fazer”, salientou Tony.

 
Tony Kanaan vive o sonho de guiar pela McLaren do ídolo Ayrton Senna, que inclusive foi propulsor da sua carreira no exterior | Foto: Bernardo Bercht / Especial / CP

"É minha infância, são os carros que eu queria pilotar, pois o Senna era meu mentor (...). Ele foi o cara que me ajudou depois de me ver em uma corrida de kart, pouco antes de perder sua vida. E isso me impactou (...) E veja só, em todos esses anos, sou o único brasileiro nessa equipe desde que ele saiu, há 30 anos, em 1993."


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