Gabriel Bortoleto bota Brasil de novo no radar da Fórmula 1
Piloto de 18 anos detalha abordagem "técnica e planejada", com orientação de Alonso para chegar no topo
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O brasileiro de 18 anos Gabriel Bortoleto tomou de surpresa os flashes do automobilismo europeu em 2023. Numa temporada em que a Fórmula 2 produziu poucos destaques individuais, ele arrebatou as manchetes com sua performance consistente e dominante no ano de estreia na Fórmula 3 FIA. Faltam apenas dois pontos na última etapa, em Monza, para Bortoleto ser campeão e sonhar com voos ainda mais altos. E sim, a Fórmula 1 está na alça de mira e o garoto tem como mentor e entusiasta um bicampeão mundial: Fernando Alonso.
“É uma lenda da Fórmula 1 né? Minha relação com ele é bem tranquila e a gente sempre conversa antes das corridas, discute um pouquinho de como as coisas estão indo”, relata o líder da Fórmula 3, que assinou com a empresa do espanhol, a A14 Management, para gerenciar sua carreira. “Eu não encho muito o saco dele, pois é um cara ocupado, mas tento sempre que tiver uma pergunta importante, mandar”, explica o garoto.
Bortoleto descarta a fama de ‘malvadão’ de Fernando Alonso, conhecido por polêmicas, principalmente no forte confronto com Lewis Hamilton, na McLaren em 2017. “Ele responde na hora, é um cara nota dez. Tem fama de malvadão, mas não é. É muito gentil e é um dos menos estrela com quem eu tive contato”, salienta.
Foco total e atenção nos detalhes estão entre os pontos fortes de piloto brasileiro, que reforça a inspiração no espanhol. Questionado sobre o começo meteórico na Fórmula 3 este ano, ele explica como abordou o começo de temporada, após um ano nem tão bom assim na Euroformula, uma categoria menos prestigiada. “Minha vida inteira foi focada em automobilismo. Na escola eu olhava a hora para sair e ir treinar na pista de kart”, lembra. “Então, eu sempre me dediquei a estudar pistas, concorrentes, regulamento de campeonato”, completa.
“Antes desta temporada eu estudei as regras em detalhes para ver onde tirar alguma vantagem”, enfatiza o piloto. “Antes de cada corrida em cada pista, eu faço sessões de simulador de umas quatro horas, para compreender cada curva”, acrescenta. “Tento me esforçar o máximo para não me arrepender de que, em algum momento, eu podia ter me dedicado mais”, finaliza.
O esforço se transformou em enorme vantagem na tabela de pontuação, com uma equipe pouco acostumada a liderar campeonatos. A pequena italiana Trident nunca foi campeã com um piloto na escada da Federação Internacional de Automobilismo. Nem F3, nem F2. As vitórias foram esporádicas e espaçadas.
Com Bortoleto, entretanto, venceu nas duas primeiras provas de 2023 e circulou perto do pódio o tempo todo. E o primeiro troféu de campeão de pilotos deve ir para a prateleira exatamente no GP caseiro do time, o da Itália, no templo de Monza. De certa forma, será uma celebração na segunda casa para o brasileiro também. “Eu decidi me mudar para Milão esse ano e ficar perto da equipe. Assim, consegui trabalhar com o pessoal e me dei muito bem. Eu moro na Itália desde os meus 12 anos e eu estou muito entrosado com a equipe”, aponta. “Acho que a gente encaixou tudo. Engenheiro, piloto, mecânico, todo mundo. Por isso que a gente tá tendo esse resultado”, comemora o paulista Bortoleto.
Com essa boa conexão e as orientações de Alonso, a evolução foi muito rápida para o jovem piloto. “Eu tive todo o apoio para aprender o mais rápido possível esse carro da F3. Tem umas manhas, como é melhor fazer tal coisa com os pneus, a frenagem. Mas assim, isso tudo é uma questão de estudo, né?”, observa ele.
“Já com o Alonso, a gente sempre conversa mais de pilotagem, o que fazer em tal curva, de tal pista”, explica o piloto brasileiro. “Em Melbourne (no GP da Austrália), a gente se encontrou e ele falou sobre uma curva que fecha do nada, me avisou que se pisar na grama vai rodar. Esse tipo de dica ele sempre é prestativo”, detalha o brasileiro, que ainda brinca sobre a longevidade da carreira do espanhol de 42 anos. “Ele é fominha, capaz de eu me aposentar e ele ainda estar na Fórmula 1”, diverte-se.
Preparação mental e uma ‘academia’ chamada Alonso
O automobilismo tornou-se um esporte cada vez mais seguro com a evolução tecnológica, mas a fatalidade ainda ronda as pistas. E atingiu diretamente um contemporâneo de Bortoleto. Semanas antes dele mesmo correr na famosa pista de Spa-Francorchamps, na Bélgica, o holandês Dilano Van’t Hoff sofreu fortíssimo acidente após a curva Eau-Rouge e perdeu a vida.
Um baque que sacudiu todo o padoque da F3. “Conheci o Dilano, ele pegou um capacete meu emprestado em 2021, pois tinha esquecido o dele. Era um cara bacana. Não era amigo próximo, mas eu senti a perda dele. Fiquei muito pensativo”, lembra Bortoleto.
A preparação mental, então, entrou em ação para correr o GP da Bélgica, com o agravante da chuva presente em vários momentos. “Na hora que fecha a viseira, esquece de tudo isso. É foco e concentração”, enfatiza. Neste caso, o foco ainda teve que deixar de lado o smartphone: “Eu evitei rede social na semana de corrida. Sabia que ia estar por todo lado, que a F3 ia correr após o acidente fatal, em Spa.”
Superada a prova tensa, Bortoleto mira o agora do título provável, mas com uma meta concreta para 2024. “Quero subir para a Fórmula 2. Se me tornar campeão vai ser o passo certo. Espero conseguir uma boa equipe para lutar pela ponta e ir para cima no campeonato. Temos conversas com alguns times e nada está fechado. Alguns programas de pilotos também vieram falar”, explica o piloto paulista.
As academias de times da Fórmula 1 são alguns dos grandes trampolins para uma vaga oficial. Vaga que para o Brasil, não existe de forma fixa desde que Felipe Massa se aposentou, em 2017. Pietro Fittipaldi ainda correu duas etapas em 2020, mas ficou por aí. Atualmente, Felipe Drugovich é piloto de desenvolvimento da Aston Martin; Pietro segue na Haas F1 e Enzo Fittipaldi faz parte do programa da Red Bull.
“É bom ter apoio da academia, mas não é impossível avançar sem”, avalia Bortoleto. “Um contrato ao seu lado com time de F1 favorece. Mas garanto que a melhor academia para estar é com esse apoio do Fernando Alonso. Eu tenho que pensar no dia de hoje, não estou pensando tanto no que vai vir ano que vem, quem vai vir patrocinar”, diz.