PitLane entrevista o líder da Stock Car, Cacá Bueno

PitLane entrevista o líder da Stock Car, Cacá Bueno

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Carsten Horst / MF2 / CP



CB - É um bicampeonato. Dois anos, dois títulos. Este ano fomos também campeão por equipe. O Popó disputou o vice-campeonato (Popó e Cacá Bueno correm pela equipe Itaú). A gente fez uma equipe muito redondinha nestes dois anos, colheu bons frutos. Então, fazer parte do Trofeo Linea já é especial, porque hoje estou numa posição diferente da que eu estava em 1995. Quando eu comecei, estava aprendendo correndo contra Chico Serra, Paulo Gomes, Adalberto Jardim, Ingo Hofmann e por aí vai. Hoje é ao contrário, são garotos ou caras com sucesso regional que têm a oportunidade de correr comigo, com o Popó, com o Marquinhos Gomes, com o Christian Fittipaldi, com o Giuliano Losacco. A gente está oferecendo o que me foi oferecido há 15 anos. E isso é muito bacana de se ver porque a transição entre o automobilismo regional e a Stock Car estava larga de mais. Era muito difícil pegar pilotos que corriam em um autódromo com carros de tração dianteira e menos de 200 cv e sentar em um Stock Car, de tração traseira, com mais de 500 cv de potência. A gente estava tendo uma renovação muito pequena na categoria principal do automobilismo brasileiro. Eu acho que o Linea veio se encaixar nessa posição, de botar pilotos de campeonatos regionais correndo com pilotos consagrados num carro muito próximo, mas intermediário do que são os regionais dos Stocks. Fazer parte deste projeto é muito bacana e a questão do título é melhor ainda.

PL - E como está a disputa do título da Stock Car e a possibilidade de ser tetracampeão?

CB - É uma disputa que vale muito mais pela chance de brigar pelo título do que conquistar o tetracampeonato. É um sonho. Mais difícil e mais importante é brigar pelo título. Eu posso falar isso porque eu já conquistei três e posso conquistar mais um. Se vier ou não vier, é o de menos, porque eu tenho certeza que vai acabar vindo num próximo ano. Se você fizer um trabalho bem feito, ele vai acabar vindo. O mais difícil é se manter no topo. Ganhar um campeonato e depois não disputar mais nenhum título. Um título não te garante nada. O que te garante é a briga constante, brigando por vitórias em todas as etapas, estar largando na frente em tudo o que você faz. É fazer bem feito para ganhar. Isto eu venho conseguindo fazer na Stock. Não só na Stock, na minha carreira eu venho conseguindo fazer isso. É mais importante que qualquer título isso. Os patrocínios vêm por causa disso. A possibilidade de correr em equipes boas vêm por causa disso. Estar sempre disputando um título, mesmo ganhando ou perdendo. Tomara que eu consiga o tetra, mas o balanço do ano, mesmo antes que acabe, é bastante positivo. Tem o campeonato do Trofeo Linea, disputando o título da Stock Car, fiz uma etapa do campeonato de turismo mundial (WTCC) e fui terceiro. Tudo o que eu fiz neste ano deu certo. Eu estou bastante contente com tudo.

PL - O que não te permite fazer uma carreira internacional?

CB - O automobilismo europeu está numa crise danada. Aqui no Brasil eu sou o Cacá Bueno, lá na Europa eu sou mais um. Quando você chega, as oportunidades certamente não são as mesmas que aqui, o salário não é o mesmo. Abdicar uma carreira de sucesso nacional para correr fora do país para ganhar 20% do que eu ganho para ter um carro de repente que não vai me dar oportunidade de ser campeão. É uma visão muito difícil. Seria bacana mostrar ao mundo que a gente podia ganhar numa categoria de turismo no mundo  também. Seria bom, pessoalmente, tentar brigar num campeonato do mundo, eu adoraria fazer isso. Mas eu só posso fazer isso se meu calendário comportar isso. Não abandonar o que eu faço no Brasil e somar lá. Tem pilotos que correm em três categorias no Brasil, na Argentina eles também fazem isso. Mas neste ano a Stock e o WTCC conflitavam em cinco datas. E entrar num campeonato sem ter a chance de disputar o título, de ir lá só participar não é o modo que eu gosto de fazer. E não fiz por causa disso. Para o ano que vem eu tive uma possibilidade muito boa, uma oferta de uma equipe de ponta na Europa para disputar o título e isso me deu uma animada a mais. Mas com certeza eu tenho que esperar os calendários saírem para ver se há chance de poder fazer. Se não der conflito no calendário, eu adoraria. Senão, a minha prioridade é a minha carreira no Brasil.

PL - Nascar e DTM nunca te passaram pela cabeça?

CB - Sim. A Nascar ou a DTM eu poderia pensar em abandonar o automobilismo na Brasil para tentar fazer. Não existe nenhum brasileiro nessas categorias. O que o (Miguel) Paludo e o Nelsinho (Piquet) fazem me foi oferecido, mas eles estão começando uma carreira em categorias da Nascar. Dizer que eles  estão correndo na categoria principal é um pouco de ufanismo nosso e exagero. Eles correm na terceira divisão do campeonato. Eu abandonar uma carreira de sucesso para entrar na terceira divisão em uma equipe que não briga pelo campeonato, pelo título, não. O Nelsinho estava um pouco sem opções e está fazendo uma bela carreira lá. Eu desejo sucesso para ele. O Paludo está começando uma carreira lá depois de correr de Porsche. Ele está se medindo lá. Não é uma coisa que eu acho que deveria fazer. Quem sabe se uma Richard Children, se uma Hendrix falasse para mim que tem um carro para eu correr de Nascar, eu iria correndo. Mas se não é para disputar o título na DTM ou na Nascar, se é para entrar numa subdivisão para correr no meio do pelotão, passa pela cabeça, seria bacana de fazer, mas eu tenho que pensar na minha carreira, tenho que pensar no leitinho das crianças, a decisão não é simples assim.

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