Nos caminhos da inclusão

Nos caminhos da inclusão

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Ao receber uma visita da fiscalização governamental, a Fagundes Construção e Mineração, situada em Butiá, na Região Carbonífera do RS, passou a adotar uma cultura organizacional inclusiva e aderiu, há quatro anos, à Lei de Cotas. Conforme a psicóloga Simone Brum, a empresa, que atua em terraplenagem de solo, contava, naquela época, com um quadro funcional de 2 mil trabalhadores e 12 pessoas com deficiência. Hoje, a empresa possui 3 mil colaboradores e mais de 80 PCDs. Mesmo assim, ainda não atingiu a cota estabelecida por lei.

Para promover novas contratações, a organização buscou ainda parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), para qualificar jovens com deficiência com o perfil da companhia. Apesar do esforço, Simone explica que 90% da empresa envolve cargos de motoristas e operadores de máquinas e esses funcionários precisam ter carteira de habilitação. Porém, as leis de trânsito apresentam restrições que colidem com as limitações das PCDs. "Essas normas, muitas vezes, não comungam com a Lei de Cotas, visto que várias deficiências não são aceitas para a carteira de motoristas de caminhões de grande porte. A dificuldade se amplia quando se trata de uma empresa que tem como principal ferramenta de trabalho o caminhão." Esse impasse, segundo Simone, acaba prejudicando o alcance do percentual da legislação.

Na avaliação da psicóloga, a implantação dessa modalidade de seleção e inclusão representa uma lição de vida. Conforme Simone, a intenção é maior do que qualquer dificuldade. Ela explica que a empresa conta com PCDs de diversas idades, desde 18 até 60 anos, que revelam, no dia a dia e em qualquer situação, o quanto o trabalho dignifica. "Eles demonstram que a vontade de trabalhar é inerente a qualquer forma de deficiência", observa.

Aprendizado para todos


A necessidade da criação de um espaço para o desenvolvimento de mudas para reflorestamento nos solos afetados pela mineração uniu o útil ao agradável e proporcionou na Fagundes Construção e Mineração criar mais uma área voltada à inclusão de pessoas com deficiência. No Horto Florestal Fagundes, coordenado pela monitora Glaziela Machado, são produzidas mudas nativas (açoita-cavalo, araticum, aroeira, canela, cedro, pata-de-vaca, guajuvira, entre outras), que são distribuídas a partir de um estudo de biodiversidade. Lá, trabalham seis PCDs (cinco mentais e uma auditiva) bastante envolvidas com as suas atividades, diz a monitora.

Segundo a bióloga Cristiane Schwantes, o departamento, localizado em Minas do Leão, foi instituído em outubro do ano passado. Para ela, está sendo gratificante trabalhar com esse grupo. "No início, alguns colaboradores apresentaram dificuldades, mas hoje desempenham muito bem suas atribuições", conta Cristiane, com orgulho.

Ela acrescenta que alguns preferem atuar individualmente e outros, em dupla. "É preciso respeitar as particularidades de cada um e suas formas de adaptação", ensina.

Lei de Cotas

Artigo 93 - Lei 8.213/91 - A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção: I - até 200 empregados: 2%; II - de 201 a 500:3%; III - de 501 a mil: 4%; IV - de 1.001 em diante: 5%.

§ 1 A dispensa de trabalhador reabilitado ou de deficiente habilitado ao final de contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias, e a imotivada, no contrato por prazo indeterminado, só poderá ocorrer após a contratação de substituto de condição semelhante. § 2 O Ministério do Trabalho e da Previdência Social deverá gerar estatísticas sobre o total de empregados e as vagas preenchidas por reabilitados e deficientes habilitados, fornecendo-as, quando solicitadas, aos sindicatos ou a entidades representativas dos empregados.

Desconhecimento prejudica a inclusão

A falta de conhecimento sobre mecanismos e formas de inclusão é o principal empecilho nesse processo. De acordo com o consultor Marcelo Rodrigues, da Egalité Recursos Humanos Especiais, ainda há muito preconceito na sociedade e nas organizações. Para ele, a indústria e o varejo necessitam avançar nesse sentido. "É preciso mais ações de educação para a inclusão", defende.

Empresas oferecem cursos e capacitação

Diversas instituições oferecem cursos e capacitações para profissionais que trabalham com pessoas com deficiência. Algumas oportunidades podem ser conferidas nos sites da Faders (www.faders.rs.gov.br), da Desenvolver Consultoria em Inclusão de PCDs (www.desenvolver-rs.com.br) e também da Egalité Recursos Humanos Especiais (www.egalite.com.br).

Tecnologia Assistiva para PCDs no RS

O Rio Grande do Sul terá um dos Núcleos de Tecnologia Assistiva, que deverá disseminar tecnologia a pessoas com deficiência (PCDs), por meio do incentivo à pesquisa e à tecnologia assistiva. De acordo com o secretário Nacional da Ciência e Tecnologia para a Inclusão Social, Eliezer Pacheco, a medida faz parte do programa Viver Sem Limites, do governo federal.

 

Reportagem: Simone Lopes     Fotografia: Mauro Schaefer     Edição: Janine Souza

 

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