Os desafios para quem quer se profissionalizar em farmoquímica no Brasil

Os desafios para quem quer se profissionalizar em farmoquímica no Brasil

Embora este setor abra muitas oportunidades, ainda existe um grande desafio de mão de obra qualificada

Correio do Povo

Setor farmoquímico abre muitas oportunidades para que um químico tenha uma carreira brilhante

publicidade

No decorrer dos anos muita coisa mudou, exceto a dúvida de os jovens sobre qual carreira seguir – e isso é comprovado por estudos. Pesquisa aplicada pela Universidade Positivo em 10 mil vestibulandos em 2021 apontou que 30% dos jovens ainda não haviam decidido qual profissão seguir. Tal incerteza pode derivar, principalmente, da falta de conhecimento ou incentivo dos setores, como é o caso da indústria farmoquímica.

Com a chegada da pandemia, muito se falou sobre a indústria farmoquímica, acima de tudo, por conta dos insumos farmacêuticos ativos (IFAs) para a fabricação de vacinas e medicamentos do kit intubação da Covid-19. Desde então, os químicos, engenheiros químicos e farmacêuticos passaram a ser mais reconhecidos como uma profissão indispensável para a sociedade. Não à toa, química está entre as mais importantes para o desenvolvendo da economia brasileira, colocando o país em 6º lugar no ranking mundial em faturamento do setor, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).

Embora este setor abra muitas oportunidades para que um químico tenha uma carreira brilhante, para o presidente da Nortec Química, indústria farmoquímica líder na fabricação de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) da América Latina, Marcelo Mansur, ainda existe um grande desafio de mão de obra qualificada. “Por falta de conhecimento da área, muitos jovens nem cogitam a química como uma possibilidade. Essa falta de informação pode ser um empecilho para que a indústria brasileira alcance todo o seu potencial a longo prazo”, opina.

Para ir na contramão dessa realidade, Mansur reflete sobre iniciativas de outros países para fomentar a indústria. “A China, por exemplo, tem um incentivo de convidar grupos de estudantes para visitar eventos da indústria química para conhecerem o mercado e entenderem o leque de oportunidades que o setor tem. Isso dá uma noção do quanto o Brasil ainda precisa avançar nesse sentido, considerando que muitos alunos que cursam Engenharia Química ou Farmácia desconhecem o que é um IFA”, pontua.

Investimento e incentivo

Gabriel Castelo, carioca de 21 anos, que tem o sonho de seguir carreira em química, só conseguiu entender melhor a profissão ao iniciar como aprendiz no laboratório da Nortec Química. O jovem revela: “Eu não fazia ideia como era a rotina de um químico dentro de um laboratório e, muito menos, que ele é tão fundamental, pois sem o químico não é possível produzir insumos para medicamentos. Sem dúvidas, é necessário melhorar as iniciativas para mostrar os bastidores da profissão”.

Atualmente, a indústria química está concentrada na China e Índia, países que, há décadas, encaram este setor como fundamental para estratégias na geopolítica. Sobre isso, Mansur destaca que essa postura contribuiu para a capilaridade e crescimento contínuo do setor. “Além de investirem em fábricas supermodernas e prover até moradia para os trabalhadores migrarem para as regiões industriais, a China por exemplo, também investe e incentiva na formação de pessoas, fomentando cursos técnicos e superiores focados na indústria de IFAs, na química e suas ramificações”.

Para o Brasil, Mansur acredita que a solução está em investir recursos focado na indústria química e em parcerias com universidades. “Além de investir em cursos com foco em produção de IFA, necessitamos também de uma política de governo contínua e consistente, que valorize a profissão e trace um plano estratégico, que realmente faça a diferença, abastecendo o mercado com mão de obra qualificada.”

Integração entre universidades e indústrias

Ainda sobre parceria com universidades, o professor do Instituto de Química da UFRJ, Rodrigo Souza, diz que, para o setor de farmoquímica crescer, essa distância entre escolas e indústrias precisa diminuir. “Fazer uso da estrutura das universidades é importante para um crescimento mais rápido desse setor. Para isso é preciso estreitar o contato entre indústria e universidades para uma interação mais profícua para ambos os lados. A universidade, em alguns setores, ainda tem uma cabeça muito academia e a indústria está muito focada em resultado imediato. É preciso um meio termo para que ambos possam trabalhar em conjunto”, comenta, que reforça que essa falta de interação continuará fazendo com que este setor se mantenha a passos lentos.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895