A dois passos da Blitz

A dois passos da Blitz

Chico Izidro

Formação atual da Blitz que se apresenta neste sábado, 21h, no Araújo Vianna

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“Você Não Soube Me Amar”. Com esta música despretensiosa lançada há 41 anos, uma banda carioca chamada Blitz mudou a história do Rock no Brasil. Era 1982 e eu estava na oitava série, à época o último do ensino fundamental, no Colégio Estadual Paula Soares, no centro da capital. Quando não estava na escola, estava jogando bola, ou passava horas lendo e escutando rádio. Nas ondas sonoras rolava além do pop estrangeiro, muita MPB. E esse era um som com quem a gurizada não conseguia se identificar. Até que um dia apareceu uma tal de Blitz, fazendo com que os adolescentes prestassem atenção, e falassem: opa, é isso. 

Não recordo exatamente o dia em 1982 que escutei “Você Não Soube Me Amar” pela primeira vez. Mas lembro de a letra engraçada, falando sobre um casal discutindo a relação num bar, enquanto comiam batata frita e tomavam um chope. No dia seguinte, a canção foi o assunto na escola: “Você escutou aquela música?”, a gente perguntava uns aos outros. E nas semanas posteriores, nossa diversão era cantar a música pelos corredores do colégio, com os meninos fazendo a parte do Evandro Mesquita e as meninas, os vocais da Fernanda Abreu e da Márcia Bulcão. Logo teve clipe no Fantástico, e saiu o compacto, que era um disco pequeno, com apenas uma música de cada lado. A banda registrou nele apenas “Você Não Soube Me Amar”, que já era sucesso nacional, e no lado 2, como não havia nenhuma outra faixa pronta, aparece Mesquita dizendo “nada, nada, nada” por cerca de um minuto. Vendeu mais de 1 milhão de cópias.

Então saiu o LP completo, “As Aventuras da Blitz”, que vendeu milhares de cópias, mas esbarrou na censura. Duas faixas foram vetadas, mas como o disco já estava prensado e sairia muito caro refazer tudo, a solução da gravadora foi riscar, sim, riscar os vinis, para impedir as pessoas de escutar as músicas. Bem, o sucesso da Blitz acabou sendo o pontapé para o Rock Brasil tomar de assalto as programações de rádio e TV país afora, com Titãs, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Kid Abelha, Legião Urbana, Camisa de Vênus, RPM, Ultraje a Rigor e Ira, e respingando aqui no Sul. Aqui a produção também foi enorme, com grupos como Tanaratiriça, Replicantes, Garotos da Rua, TNT, Engenheiros do Hawaii, entre outros. Todos fazendo a cabeça da juventude nos anos 1980. Uma época diferente, de música de qualidade, com cada banda tendo seu som característico, e entrando eternamente em nossos corações. 

Pois bem, neste sábado, dia 27, a Blitz, ainda capitaneada por seu fundador Evandro Mesquita, se apresenta no Auditório Araújo Viana (Osvaldo Aranha, 685), no show Turnê Sem Fim, onde comemora 40 anos de estrada. Na programação, um repertório com cerca de 25 canções, com sonoridades que vão do Rock, Pop, Funk, Reggaes, Soul, Blues e Samba, os fãs vão escutar além claro, do clássico “Você Não Soube me Amar”, sucessos como “A Dois Passos do Paraíso”, “Mais uma de Amor”, “Biquíni de Bolinha Amarelinha”, “Weekend”, “Betty Frígida”, “Egotrip” e “A Verdadeira História de Adão e Eva”. O show começa às 21h. 

A Blitz (relâmpago), batizada assim por Lobão, lembrando as batidas policiais que estava acostumado a sofrer. E sim, ele mesmo Lobão, e que foi o primeiro baterista, mas saiu antes da estreia em disco. A banda, em sua primeira encarnação durou de 1981 até 1986, chegando a participar do Rock In Rio em 1985, voltou à ativa entre 1994 e 2000, e de novo a partir de 2004, sem nunca mais parar. A banda tem em sua formação atual Evandro Mesquita (vocal, guitarra e violão), Billy Forghieri (teclados), que está no grupo desde sempre, Juba (bateria) e substituto de Lobão, além de Rogério Meanda (guitarra), Alana Alberg (baixo), Andréa Coutinho (backing vocal) e Nicole Cyrne (backing vocal). E incríveis quatro décadas depois, a Blitz segue tomando de assalto as memórias dos adolescentes que viveram com vigor os anos 1980, e também conseguindo novos fãs com seu som alegre. E eu finalmente verei, pasmem, um show da banda pela primeira vez. Estarei a dois passos do paraíso.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895