Depois de "Reis", Junior Vieira sonha em voar mais alto

Depois de "Reis", Junior Vieira sonha em voar mais alto

Com mais de 20 anos de carreira, o ator e diretor festeja o momento da carreira na TV, cinema e streaming


Luciamem Winck

Junior Vieira: "Temos um cinema com muita qualidade de narrativa, de direção e atuação"

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Com mais de 20 anos de carreira e 36 de idade, Junior Vieira festeja o momento profissional. Maranhense, ele é o diretor da peça “Abismo das Rosas”, estrelada por Vitoria Strada e Isabel Fillardis, que esteve em cartaz no Rio até final de novembro. O artista se prepara para atuar no filme “Cansei de ser nerd” e desenvolve o roteiro de um filme que será produzido por Fernando Meirelles. Em breve, poderá ser visto nas séries “Estranho Amor”, na AXN, “Matches”, na Warner, e nova temporada de “D.P.A”, no Gloob. Ele também está no elenco dos filmes “Precisamos falar sobre nossos filhos”, ao lado de Marjorie Estiano, “Durocher” e “O Último Animal”, do qual é protagonista e que estreia este mês no circuito em Portugal.

Junior Vieira participou da sétima temporada de “Reis”, da Record, e é codiretor, ao lado de Eduardo Albergaria, do longa “Nosso sonho – a história de Claudinho e Buchecha”, que já é a maior bilheteria do cinema nacional do ano. Em seu currículo ainda constam trabalhos na série “Reis”. No streaming, está em “Galera FC”, da HBOmax, e em “Era uma vez uma história”, dirigida pelo vencedor do Oscar, Juan Campanella, na Warner. Na obra, interpreta o líder abolicionista José do Patrocínio. Na Prime Video, pode ser visto nas séries “Impuros” e “O Jogo” e no filme musical “Maré, nossa história de amor”. Junior ainda atua em “É fada”, da Netflix.


No teatro, ele deu vida a Martinho da Vila no musical que retrata sua vida. Como roteirista, foi um dos colaboradores da série “A Toca”, no catálogo da Netflix. Engajado, Junior concebeu e dirigiu a campanha “Quero ser feliz”, que abriu a Assembleia Geral da ONU em 2022, em Nova Iorque, e foi a Melhor Web Publicidade no Festival Internacional Web Fest. 


Como foi ter feito parte da sétima temporada de Reis, dando vida ao príncipe Kotar, dos Amonitas?
Importante retratar o reinado Amonita e ver a potência negra retratada em forma de realeza e não só como escravizados. Foi interessante fazer parte desse reinado, ainda mais ao lado de amigos e pessoas que admiro.


Quais as dificuldades de se fazer um trabalho de época? E o que aprendeu com essa oportunidade?
Acredito que os textos e principalmente as vestimentas. Figurinos lindos, mas repletos de tecidos que eram sufocantes em um calor excessivo e o texto bem formal e não coloquial. Aprendi a andar a cavalo, a valorizar mais a nossa evolução enquanto sociedade e convivência em coletivo, de uma forma mais atenciosa. 


Você é um artista que pouco vemos na TV aberta. Como isso influencia na sua carreira? Acha fundamental estar numa novela para movimentar a engrenagem de uma carreira artística no país?
Faço mais cinema. Isso é um fato! Já fiz séries e novelas importantes. E sei que para uma imagem midiática estar em uma novela de TV aberta traz mais visibilidade e com isso, melhora a imagem para outros produtos. Não acho que seja fundamental, mas acredito que de fato ajuda. Acho que você ter autonomia e se auto-produzir dá bem mais valor a você artista do que uma novela. 


Aliás, como surgiu o seu interesse pelas artes dramáticas?
Um grupo de amigos fazia figuração e os acompanhei. Vi ali um outro mundo, fiquei deslumbrado e quis entender como aquilo funcionava. Criei minha autonomia para que hoje eu possa dirigir, escrever e atuar com um alicerce mais sólido. Se preparar e ter um repertório é bem importante.


Você foi um dos diretores do filme “Nosso sonho”, sobre a vida de Claudinho e Buchecha e que já é a maior bilheteria do cinema nacional do ano. Como é ver o sucesso do cinema nacional em tempos de streaming “roubando’ gente das salas de cinema?
Assino a direção de segunda unidade, diretor Assistente e consultor de desenvolvimento de roteiro. É uma felicidade fazer parte disso e saber que contribui de maneira efetiva para que o filme também tivesse um olhar negro, periférico, com lugar de fala e identidade própria. O streaming é uma realidade, mas ser o filme nacional mais visto, com pouco mais de 500 mil é um lugar para se ligar o alerta. Normalmente, passavam da casa de 1 milhão, com facilidade e o streaming veio para democratizar os acessos, facilitar a vida, mas para quebrar o império cinematográfico. Por isso se produz com muita velocidade e em um processo quase de fast food. Ainda acredito na magia do cinema e que vão ter mais projetos surpreendendo os espectadores nos cinemas, acredito.


Você é protagonista do filme luso-brasileiro “O último animal”, que já ganhou vários prêmios e está estreando no cinema de Portugal. Você pensa em seguir carreira internacional? Como é ver um filme com artistas nacionais ganhando tanto reconhecimento em importantes festivais?
Temos um cinema com muita qualidade de narrativa, de direção e atuação. Tenho estudado outras línguas e já tenho alguns convites para filmes fora do país. Há alguns dias fui a Portugal para lançar esse filme e voltei pro Brasil já para filmar outro. É bom ver nossos filmes e nossos artistas ganhando reconhecimento internacional. Tem muito por vir!


Com tantos trabalhos na TV, no cinema, no streaming, no teatro, como você escolhe os projetos em que vai se envolver?
Tenho visto o que essa história ou esse personagem vai me acrescentar. Em que lugar querem me colocar como ator ou porque tenho que escrever esse tipo de história. Contar histórias é importante! E mais importante que isso é saber, como contar essas histórias. Luto por promoção de igualdade. Observo se nas histórias em que querem que eu participe há algo positivo ou que tenha um ineditismo no ponto de vista. Isso me faz querer. Tenho recebido muitos convites para inúmeras obras, para escrever, dirigir ou atuar, mas se não me tocar como pessoa, não me interessa!


Você nasceu no Maranhão e está ganhando o mundo graças ao seu trabalho, a sua arte. Como avalia sua trajetória? Há algo de que se arrepende? 

Trajetória de muita labuta, persistência e resiliência. Não me arrependo, mas acho que seria mais observador do que falador no início da carreira. E começaria cedo a estudar inglês. Me viro bem, mas poderia estar falando fluente hoje em dia. 


Você ainda escreve e dirige. Quais seus grandes sonhos profissionais para o futuro?
Estou à frente de projetos importantes com nomes como Fernando Meirelles, Jefferson D, Marton Olympio. Desejo trabalhar cada vez mais e poder devolver para a favela, tudo o que ela me deu. Há potências e talentos ao nosso redor, abrir porta para essa galera é o que me faz continuar a fazer arte! Quero trabalhar mais fora do país e quem sabe, ter uma carreira sólida internacionalmente.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895