Entrevista com Maiara Walsh: "Eu amo a cultura, a música, o talento e a paixão dos brasileiros"

Entrevista com Maiara Walsh: "Eu amo a cultura, a música, o talento e a paixão dos brasileiros"

Atriz interpreta Abigail na série "Reis" da Record TV

Luciamem Winck

Atriz Maiara Walsh interpreta Abigail na série 'Reis’

publicidade

Atriz, cantora, escritora, diretora e empreendedora, Maiara Walsh está no elenco de “Reis”, na Record. Na trama, ela vive Abigail, uma das esposas de Davi. Com 34 anos, a norte-americana – filha de mãe brasileira e pai norte-americano –, começou a carreira aos 14 anos com “Cory na Casa Branca”, do Disney Channel. Depois, fez séries e filmes nos Estados Unidos, como “Diários Vampiros”, “Donas de Casa Desesperadas”, “Bebês Trocados”, “Meninas Malvadas 2”, “Diários de Intercâmbio” e a produção brasileira “Coisa Mais Linda”. Em 2021, dirigiu seu primeiro longa-metragem, o thriller psicológico “Bight”, que coescreveu e coestrelou. Nos últimos dez anos, ela escreveu roteiros de cinema e televisão de ficção científica e sobrenatural, comédia e drama, e ganhou vários prêmios, incluindo o de melhor diretora pelo curta de ficção científica “Young Blood”. Ela está terminando seu primeiro livro de ficção. Dona de um estúdio em Los Angeles, em breve lançará o primeiro single. Seu trabalho musical tem baladas pop, blues rock e canções com influências latinas.


Ficaste conhecida por dar vida a uma das personagens da trama de ‘Meninas Malvadas 2’ e ‘Cory na Casa Branca’, entre outros trabalhos. Agora volta às origens brasileiras para estrelar em ‘Reis’, na Record TV. Quais são as expectativas com esse trabalho?
Quero conectar com o público brasileiro e com as pessoas que se conectam com a personagem Abigail, na série “Reis”. Espero que esse trabalho crie um caminho para eu continuar a trabalhar e montar projetos no Brasil.
A nova temporada já está em andamento e conta a história do rei mais aclamado de todos os tempos: Davi. Interpretas uma importante personagem, que viverá fortes emoções ao lado de Davi. Fale um pouco sobre a personagem.
Abigail tem uma força quieta por dentro, que vai crescendo com os anos, após o sofrimento que ela vive com Nabal, o primeiro esposo dela. A história que se desenrola com Davi é muito bonita, sensível e carinhosa. É um amor real e honesto. Abigail vai ser como uma âncora para o Rei Davi.
Um dos temas da trama de Abigail está muito presente na sociedade atual: o relacionamento abusivo. Como você define a personagem?
A realidade é que muitas mulheres e muitas pessoas sofrem nos relacionamentos abusivos. Abigail sofre nove anos de abuso no casamento com Nabal. Naquela época, as mulheres não tinham a opção de sair do casamento sem ser tratadas como culpadas. Ela tenta em cada momento ajudar Nabal a ver o lado bom dele mesmo, mas não consegue. Acho que a maioria das pessoas nesses relacionamentos abusivos pensam que podem mudar o parceiro, ou tem medo de sair do relacionamento. É um tema muito grave. Espero que as pessoas que estão vivendo a experiência de Abigail possam assistir a série e ver como não é possível mudar uma pessoa, e a melhor coisa que pode fazer é se afastar dessa pessoa e dessa situação.
Você já viveu uma relação tóxica. Como te livraste da violência emocional?
A realidade é que eu não tinha autoestima. Não me valorizei e deixei as pessoas me desvalorizarem. Via o bom dentro de todos sem prestar a atenção nas ações deles, e sem ligar como isso me fez muito mal emocionalmente. Fiz e continuo a fazer muito trabalho por dentro para seguir a minha intuição, as minhas emoções, e criar barreiras saudáveis entre eu e as pessoas ao meu redor. Eu aprendi o que eu realmente queria e o que precisava para me manter equilibrada. É uma jornada de vida. Mas estou cada dia me entendendo melhor e fazendo melhores escolhas.
Sempre amaste as artes. Desde criança querias ser cantora e atriz. Começaste a frequentar aulas de atuação com 13 anos, quando fizeste o primeiro teste e gravaste um comercial. Como foi o desenrolar da carreira a partir do comercial?
Foi difícil. Naquela época não sabíamos da indústria. Tomei um golpe de uma companhia que prometeu trabalhos e agentes, mas em vez de me ajudar, falaram que precisava pagar mais aulas. Enfim, achei uma agente de uma amiga da minha mãe, e fiz mais testes do que dá para lembrar. Cada “sim” que recebi, tinha mais de 20 ou 30 rejeições em seguida. Terminei a highschool, com poucos trabalhos conhecidos. Minha família estava me pressionando para ir para a universidade, mas todas eram muito longe de Los Angeles. Não tinha um Plano B, porque eu sabia que isso iria ser a minha carreira, então fiquei em Los Angeles e um mês depois da graduação de highschool consegui “Cory na Casa Branca”. Depois disso, meus pais me apoiaram mais. Mas essa indústria é difícil. Um dia você estava trabalhando e um dia você estava esperando o seu agente ligar. Bem cedo, na minha carreira, eu decidi nunca esperar por ninguém. Foi nesse momento que eu comecei a escrever roteiros e montar meus próprios projetos.
Em 2021, dirigiste teu primeiro longa – ‘Bight’ –, com atuação e roteiro coescrito por ti. Fale sobre essa trama e os desafios do mercado. 
Aprendi muito nessa experiência. Escrevi o roteiro com um dos meus melhores amigos, Cameron Cowperthwaite, que também estrela no filme. Queria escrever com ele fazia muito tempo, mas sempre estávamos muito ocupados. Quando a pandemia começou e não deu para sair de casa, chamei ele e falei que agora não tínhamos desculpa para não escrever. Daí fizemos a pergunta: “Que podemos escrever num local só com só quatro personagens para garantir que iremos gravar o roteiro?”. Um ano depois eu estava dirigindo nosso filme e foi um desafio total, gravando durante a pandemia com tantas regras e restrições. Produzi também com outro grande amigo, Mark Hapka, que atua no filme também. E deu certo e agora estamos em pós produção. O filme vai estrear em 2023. Acho que quando você realmente quer conquistar os seus sonhos, precisa conquistar você mesmo com equipes que você pode confiar. 
Tua terra natal é uma das maiores indústrias do cinema mundial. Mesmo assim, querias atuar no Brasil. O que te motivou a vir para cá? 
Eu amo o Brasil. Amo a cultura, a música, o talento, a paixão dos brasileiros, o clima, a beleza pura do país. Não tinha dúvida de que um dia iria trabalhar aqui, mas não sabia quando ou como. Estou muito feliz aqui. Espero trabalhar nos dois países e montar projetos aqui também.
Costumas dizer que amas o que fazes e que nunca para de trabalhar. Como é essa rotina?
Eu tento ser muito organizada. Faço listas com categorias dos meus projetos. Música, atuação, roteiros, filmes, o estúdio criativo, saúde, financeiros, vida espiritual e social. Tenho objetivos gerais para cada categoria e vejo o que posso fazer a cada mês, a cada semana, a cada dia, e vou passo a passo terminando as listas e criando novas listas. Não entendo a palavra entediado ou preguiçoso. A vida é curta e temos um computador nas mãos, podemos pesquisar ou aprender qualquer coisa no mundo em qualquer momento. Que incrível. 
Quando surgiu a oportunidade de ingressar em ‘Reis’, tinhas acabado de construir um estúdio criativo, em Los Angeles. Como funciona o espaço?
Como faço várias coisas artísticas, nunca tinha um espaço que pudesse juntar todas. Eu tive um sonho de um dia acordar e me perguntar, “qual projeto criativo quero fazer hoje?”. E poder realmente realizar no momento. Achei um espaço depois de esperar um ano e meio e demorou mais um ano de construção que fiz sozinha com meus amigos. Foi duro. É caríssimo, mas terminamos e agora é um espaço que junta artistas, músicos, escritores, cantores, criativos e pessoas interessantes para jantares, festas imersíveis, sessões de fotos, e qualquer coisa criativa que se possa imaginar. É um lugar feito para inspiração e para alcançar os sonhos. Talvez um dia monte um estúdio criativo no Brasil.
Vieste sozinha para o Brasil. A mãe Magda, o pai James e tua irmã seguem nos EUA. Como enfrentas a distância?
Eu amo aventura. Sempre fui independente, viajei sozinha, sempre estava viajando para trabalho. Eu sinto saudades da minha família, mas sei que a experiência que estou vivendo aqui é única e que preciso realmente apreciar cada momento.
Como avalias a produção na indústria de cinema e TV do Brasil em relação a dos Estados Unidos?
Eu acho que a cada dia a distância entre as produções brasileiras e americanas está diminuindo. Também acho que tem coisas que os dois países podem aprender um do outro em relação à indústria criativa.
Quais os desafios que enfrentaste na superprodução? O sotaque e a linguagem dificultaram?
Eu sabia que iria ser um desafio atuar completamente em português, e foi ainda mais difícil do que eu imaginava (risos). Mas estou me sentindo muito mais confortável, porque agora estou melhorando. No início até chorei porque senti que não estava me expressando da maneira que me faz feliz, e em relação ao trabalho tinha muitas falas complicadas.
O que esperas do trabalho na Record TV?
Espero entregar uma personagem complexa e delicada, e que possa ser um ponto emocionante numa história tão enorme e importante como a Bíblia.
Fala um pouco dessa tua relação com o Brasil. Filha de mãe brasileira com pai americano, te sentes em casa?
Eu sempre me sinto em casa no Brasil. Com um mês de idade, eu já estava viajando para o Brasil. No futuro, me vejo repartindo tempo aqui e nos Estados Unidos. Não tem lugar igual como o Brasil. Me sinto muito conectada com a energia daqui. Tenho muito carinho e orgulho do Brasil.
Tens ideia de permanecer no país e emplacar novos personagens na emissora?
Sim, com certeza. Também quero montar meus próprios projetos aqui. Já tenho duas ideias e já sei qual quero começar primeiro.
O que projetas para o futuro?
O futuro vai ser ainda mais criativo. Tour musical, projetos em inglês e português, livros de ficção, filmes, séries, aventuras, arte, projetos imersíveis, sonhos realizados e equipes incríveis. E espero que muita inspiração estará criada no caminho, não só para mim, mas para todos nós na jornada de vida. Não importa quando começamos seguir as nossas paixões, só importa que começamos mesmo.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895