‘Get Back’ mostra intimidade do processo criativo dos Beatles

‘Get Back’ mostra intimidade do processo criativo dos Beatles

Brigas à parte, o ápice do documentário são as músicas e a dinâmica que existia entre os quatro

Márcio Gomes

Mais do que um reality show dos Beatles, "Get Back" é um documento sobre a cultura pop no fim dos anos 60

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Uma imersão no processo criativo e na intimidade dos Beatles. É isso que o diretor Peter Jackson mostra em “Get Back”, documentário em três partes disponível na Disney+ com as gravações do álbum “Let It Be” e as discussões sobre o que inicialmente seria um programa de TV e depois se tornaria um filme. A série é baseada nas mais de 55 horas gravadas pelo diretor Michael Lindsay-Hogg, contratado pelo grupo de Liverpool no final dos anos 60 para o projeto. Ao contrário da narrativa mostrada no filme lançado em 1970 e das inúmeras declarações dos próprios integrantes dos Beatles de que tempo passado diante das câmeras foi terrível (John Lennon chegou a dizer que “mesmo o maior fã dos Beatles não conseguiria tolerar aquelas seis semanas lamentáveis”), o que surge no novo documentário é uma banda convivendo e gravando de forma bastante coesa e até amistosa. 

Claro, as rusgas estão ali e arranham a superfície. Em especial, durante o período passado no frio e pouco agradável estúdio de Twickenham, onde banda se sentia desconfortável. Foi ali que George Harrison deixou o grupo, que John Lennon parecia apenas marcar presença e pouco interagir criativamente e que Paul McCartney tentava coordenar o trabalho. Peter Jackson não esconde a tensão que existia por trás das gravações, e contextualiza esse e outros momentos com imagens de época e informações. Até a iminente chegada do empresário Allen Klein, que seria o responsável por representar Lennon, Harrison e Ringo Starr e desencadear uma batalha judicial após o fim da banda, é citada em vários momentos. Quase sempre por John Lennon. 

Brigas a parte, o ápice do documentário são as músicas e a dinâmica que existia entre os quatro. A troca de olhares, os sorrisos, as colaborações, as brincadeiras, e até mesmo a hierarquia no grupo. Está tudo ali. Quando Harrison chega com uma música nova e mostra para Paul McCartney em busca de aprovação logo que ele entra na sala, a cena de Ringo e George, ao piano, com um esboço de “Octopus’s Garden”, e, em um dos grandes momentos da série, Paul dedilhando o baixo e tirando, do nada, o que se tornaria “Get Back”. 

Se os embriões das canções que formariam os dois últimos discos dos Beatles não são o suficiente, ainda vemos o que circulava ao redor do Fab Four. O produtor George Martin, Yoko Ono, que participa de uma jam angustiada e violenta com o então namorado, Paul e Ringo após a saída de George, Mal Evans e sua bigorna, Linda e o ator Peter Sellers. Personagens coadjuvantes que dão um colorido especial e quebram a rotina das gravações. 

Mais do que um reality show dos Beatles, "Get Back" é um documento sobre a cultura pop no fim dos anos 60. A decisão de encerrar as turnês em 1966 e se dedicar as gravações foi que permitiu ao grupo dar novos rumos para música e influenciar tanta gente. Porém, três anos depois, jogou a banda em um beco. Apenas lançar álbuns se tornou enfadonho. Sem saber para onde ir, o show no terraço foi o final possível para o filme e para os Beatles. 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895