Kiss em Porto Alegre: Recortes de um tempo que se foi

Kiss em Porto Alegre: Recortes de um tempo que se foi

Banda tocou na Arena do Grêmio

Márcio Gomes*

Cenário futurista na música que abre o show, "Detroit Rock City", do disco "Destroyer", de 1976

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Durante o show de terça-feira, dia 26 de abril, em Porto Alegre, Paul Stanley pegou o microfone e lembrou que era a terceira passagem do Kiss pela capital gaúcha. Uma história que começou em 1999, no Jockey Club, passou pelo Gigantinho, em 2012, e culminou na Arena do Grêmio. As três turnês têm praticamente o mesmo roteiro para quem conhece o quarteto norte-americano, com variações que reforçam a força do espetáculo e elementos que remontam às apresentações do período clássico da banda.

Porto Alegre entrou tardiamente na trajetória do Kiss. Já tinham se passado 16 anos do lendário show da banda para mais de 100 mil pessoas no Maracanã, no Rio de Janeiro, que ajudou a consolidar a cena de heavy metal e de grandes festivais no país. A turnê do álbum “Psycho Circus” contava com um óculos 3D e com os integrantes da formação considerada clássica da banda, como o guitarrista Ace Frehley e o baterista Peter Criss. 

Em 2012, a apresentação no Gigantinho foi a última divulgando um novo disco, “Monster”. O show atrasou duas horas, e à exceção de três músicas do álbum recém-lançado, o set list foi bastante parecido ao do espetáculo de 2022. Nesses 10 anos, o baixista Gene Simmons deu algumas declarações culpando a pirataria e o desinteresse dos fãs por novidades e a preferência pelo material já conhecido como razões para não lançar novas canções. 

Tradicionalmente, os shows do Kiss entregam exatamente o que o público espera. A pirotecnia, a abertura com “Detroit Rock City”, o encerramento com “Rock And Roll Nite”, Gene Simmons cuspindo sangue falso (e no começo do show jogando a espada flamejante ao palco), Paul Stanley voando sobre a plateia, etc. Alguns novos elementos estão ali: o solo de guitarra interage com o telão, e parece que os jogos “Guitar Hero” e “Space Invaders” se fundem brevemente, o palco muda e os vídeos dessa turnê celebram a história. Como o mote é o “fim da estrada”, imagens dos anos iniciais no telão complementavam as movimentações do quarteto ao vivo. 

Visualmente, os efeitos especiais evoluíram. Porém, o modelo de show é o mesmo dos anos 70. Em termos de sonoridade, o Kiss conseguiu chegar até os 80. Nos três shows, Porto Alegre presenciou recortes atualizados de um tempo que se foi. Mas impossibilitados de vivenciar o auge da banda nos palcos, os gaúchos tiveram a melhor versão que conseguiram nesses últimos 23 anos. 
Em uma era em que vídeos de crimes reais são postados com frequência nas redes sociais, o sangue falso escorrendo pela boca de Gene Simmons durante o solo de baixo que antecede “God Of Thunder” tem um efeito de uma brincadeira quase infantil. Algo bem diferente de 30, 40 anos atrás. Mas isso não importa para quem busca vivenciar, por duas horas, algo que fez parte de sua memória afetiva. Afinal, Kiss e algumas de suas músicas já são parte da nossa história. E, desde meados anos 1970, “Rock And Roll Nite” é a trilha sonora oficial do sábado à noite.

* Jornalista, coordenador de online do Correio do Povo. 


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