Morrodália: uma celebração da diversidade da música brasileira na Serra Gaúcha

Morrodália: uma celebração da diversidade da música brasileira na Serra Gaúcha

Festival marcou seu retorno após hiato de dois anos com nomes como Duda Beat, Gilsons e Otto

Caroline Grüne

Duda Beat fechou o festival com show no fim de tarde

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“Quem deu o maior espetáculo foi a natureza”, conta a cantora e compositora pernambucana Duda Beat. Fechando um festival de cinco dias, Duda comemorou que seu show aconteceu bem na hora do pôr do sol. Após hiato de dois anos, o festival Morrodália, parceria entre o Morrostock e o Psicodália, marcou o seu retorno em novembro, em São Francisco de Paula, na Serra Gaúcha. 

O local que abrigou os acampamentos dos público que se reuniu para consumir música e cultura foi o Paradouro Rota das Barragens, que deu um show à parte. A conexão com a natureza se torna parte da experiência imersiva do festival que chegou à sua terceira edição neste ano com um line up diverso, com muitos artistas locais e headliners de diferentes partes do Brasil.

“É incrível chegar aqui e ver a turma acampada, vivendo em comunidade e partilhando a música”, dizem os Gilsons em entrevista ao Correio do Povo. Direto do festival Rock The Mountain na Serra Carioca, o trio chegou na Serra Gaúcha com o show do álbum “Pra Gente Acordar”. João Gil conta que os shows têm percorrido muitas capitais e comemora a possibilidade de conhecer novos locais no Brasil: “ter a oportunidade de vir para o interior é um presentão. Seria difícil conhecer esses lugares se não fosse através da música”.


Foto: Lucas Leffa / Divulgação / CP

Em um show de 1h30, cantando composições sobre amor como os hits “Várias Queixas” e “Love Love”, o clima de ternura tomou conta do público. Em uma homenagem à Gal Costa, que faleceu no último dia 9, os Gilsons cantaram “Dê Um Rolê”, de Novos Baianos, eternizada na voz de Gal. Parte da família de Gilberto Gil, o trio finalizou o show cantando um dos clássicos da lenda da MPB, “Palco”. 

Outro headliner que captou a atenção de quem subiu à Serra foi o cantor e compositor Otto. Com show energizante que mistura referências do mangue beat, rock e música eletrônica, o percussionista agradeceu a oportunidade de se apresentar em meio à natureza e cantou músicas como “Crua” e “Ciranda de Maluco”.

Diversidade

“Nunca deixem de ser protagonistas da vida de vocês. Sou uma cantora nordestina e estou aqui hoje. Se eu consigo todo mundo consegue”, disse Duda Beat durante a sua performance no festival. Um dos grandes nomes revelados na música brasileira recente, a artista traz seu pop com letras profundas e prega sobre o empoderamento feminino. 

Em entrevista ao Correio do Povo, Duda conta sobre a importância de termos artistas mulheres marcando presença em festivais. “A gente tem que lutar para conquistar nossos espaços. E eu sinto que cada vez mais as mulheres empoderadas entram na música, compõe, produzem e isso é maravilhoso. Fico muito feliz de ver esse movimento acontecer e tenho esperança que ele cresça”.

Em um show no fim da tarde de terça-feira, Duda chegou com um look brilhoso e colorido e pose de diva pop. No setlist, músicas como “Bédi Beat” do aclamado álbum “Sinto Muito”, de 2018, se misturaram com hits atuais como “Nem Um Pouquinho” e “Tocar Você” e fizeram o público vibrar. Ela aproveitou a oportunidade para dizer que o próximo álbum, que será lançado no ano que vem, já está quase pronto - e será dançante. Após o show, a artista recebeu os fãs no backstage e agradeceu o carinho que recebeu durante a performance: "É muito lindo ver o brilho no olho e a troca que a gente tem. É uma conexão de outras vidas. Por isso que quando acaba o show eu gosto de olhar para todas as pessoas porque quero guardar todas no meu coração”. 

Além de Duda, vários nomes femininos estiveram presentes no line up curado pelo festival, como a cantora e ativista indígena Kaê Guajajara, a artista pernambucana Doralyce e a jazzista francesa Camille Bertault. Entre as descobertas que merecem destaque, está também a curitibana Thaïs Morell que conquistou o público com um show cativante e uma música que passeia entre a MPB e o jazz. “A gente leva muito em conta a diversidade musical e a diversidade de gênero na hora da curadoria. Acreditamos que ter paridade entre homens e mulheres, com artistas pretos e pessoas trans” conta o produtor cultural Lucas Hanke, responsável pelo Morrodália. 

Para o festival, fomentar a cultura local também é essencial. “Buscamos ter um olhar para o Rio Grande do Sul. O Morrodália também é para isso, colocar um público de mente aberta e sem preconceitos em contato com artistas que eles poderiam não conhecer de outra forma”, afirma Hanke. Entre os destaques estão a multiartista Valéria Barcellos, que levou os morrostockianos às lágrimas com performances de Geni e o Zepelim, de Chico Buarque, e homenagem à eterna Gal Costa. O Bloco da Laje, que já é um clássico dos domingos de Porto Alegre, botou o festival para dançar com as performances artísticas e teatrais e as letras carnavalescas que já estão na boca do público. Nomes como Bel Medula, Miri Brock e Flor ET também passaram pelo palco.

“A vida passa tão rápido, ouvimos tantas notícias ruins, perdemos tantos artistas, e o que a gente quer é que todo mundo venha viver junto e misturado, como dizem os Gilsons”, finaliza Lucas Hanke. O Morrodália é uma oportunidade de buscar uma conexão com a natureza e com a cultura, ver ao vivo artistas consolidados e conhecer a nova safra da música nacional e local - num espaço que preza pelo respeito e a boa convivência. 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895