O desafio de fazer um filme sobre economia

O desafio de fazer um filme sobre economia

Luiz Alberto Cassol*

Hermes Zaneti em cena do filme O Complô

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Se você fizer uma pesquisa rápida sobre gêneros cinematográficos, certamente não encontrará um relacionado a economia. Geralmente, essa temática acaba se encaixando na categoria drama (e, acho, combina bem), ou no thriller - o que faz sentido, já que algumas pessoas ficam bastante sensíveis quando o assunto é ganhar ou perder dinheiro. Dentro do cinema nacional essa temática específica não é usual. 

Ainda assim, aceitei o convite para um projeto desafiador: realizar um curta-metragem suficientemente didático sobre a dívida pública brasileira. O assunto é espinhoso e, mesmo que a maioria tenha ouvido falar sobre, ouso dizer que essa mesma maioria não entende as origens desse gigantesco débito nacional pelo qual todos nós pagamos para satisfação de poucos, que lucram com a nossa perda. A saber: o tal do “mercado”, sistema financeiro e rentista.

O roteiro do filme “O Complô” se baseia no livro homônimo do deputado federal constituinte Hermes Zaneti. À época da feitura da Carta Magna, o gaúcho tentou estabelecer um artigo que auditasse as origens e o crescimento da dívida pública (hoje superior a R$ 7,1 trilhões). As propostas do Zaneti para não cairmos em tal situação foram barradas. No livro, ele explica o porquê. E no filme?
Na Constituição Federal, em seu artigo 166, na letra B, está escrito “Serviço da Dívida. A partir disso, trabalho com a reflexão que se adicionarmos uma letra “a” à frente, muito se explica: “a serviço da dívida”! Um país a serviço de algo que não sabe o porquê.

Nosso desafio é apresentar os conceitos econômicos envolvidos nessa mixórdia nacional, informando a partir da tela grande e depois irmos para diversas outras telas. Para isso, a ideia é lançar mão de recursos narrativos para explicar conceitos da dívida, do rentismo, do lucro pelo lucro e chamar a atenção para manchetes expressivas em jornais como “Lucro do mercado financeiro aumenta na pandemia” ou uma cartela escrita “Osso de primeira, R$ 9 e osso de segunda, R$ 5”. 

E quando lemos ou ouvimos que o “mercado reagiu a determinada afirmação”. Quem é esse mercado? Quem representa? O lucro pelo lucro em contraponto à miséria. A proposta é refletir junto com o público sobre tudo isso. As entrevistas com o Zaneti, fotos da época, animações gráficas e uma grande pesquisa compõem esse mosaico estarrecedor. 

É um universo de colocar o economês no cotidiano do público e explicar como a dívida faz parte do empobrecimento de todos nós, favorecendo um grupo seleto de pessoas. Para elas, o que interessa é que o governo e o sistema tenham dinheiro para pagar seus lucros. De onde vai sair esse dinheiro, para o mercado, tanto faz. Que seja por cortes na saúde, na educação, na cultura, na pesquisa; que se retiram direitos de trabalhadores. Esse é o complô. E é isso que o filme vai contar. Saiba mais sobre essa empreitada pelo endereço www.instagram.com/ocomplofilme.

* Cineasta, roteirista, produtor e cineclubista.

 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895