O RS, a Semana Farroupilha e os profissionais de saúde

O RS, a Semana Farroupilha e os profissionais de saúde

Acácia Wakasugi *

Hospital em Erechim durante a Revolução 1923, com os profissionais de saúde e os pacientes, combatentes do movimento armado ocorrido no Rio Grande do Sul

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Em toda a guerra, há os grandes personagens, guerreiros, líderes, heróis. A história do Rio Grande do Sul é repleta. Um exemplo é a dos profissionais de saúde, que tiveram papel essencial durante os combates armados e situações de emergência que marcaram o estado do Rio Grande do Sul e que pouco são lembrados. E é isso que o Piquete Xirú do Coice buscou fazer. Um dos mais antigos do Acampamento Farroupilha de Porto Alegre, decidiu homenagear médicos e enfermeiros ligados à Cruz Vermelha e que tiveram papel importante no histórico de guerras e confrontos do RS. O Piquet realizou uma série de eventos, discussões e um levantamento histórico importante que destaca, por exemplo, a primeira médica formada do RS.


Os confrontos entre sul-rio-grandenses começaram em 1835, com a Revolução Farroupilha, que durou até 1845. Depois veio a Revolução Federalista, em 1893, famosa por sua violência. A última guerra no RS foi a Revolução de 1923, em alusão ao ano em que terminou. Nessa época, o Estado estava dividido entre os aliados de Borges de Medeiros, reeleito presidente do RS em 1923, e os defensores de Assis Brasil, seu opositor. Centralizadores e defensores da permanência vitalícia do então presidente no poder, os correligionários de Borges de Medeiros usavam lenço branco no pescoço e tinham o apelido de “chimangos”. Já os aliados de Assis Brasil usavam lenços vermelhos, eram os “maragatos”, e lutavam por uma oposição organizada e pela descentralização política.

PESQUISA

A pesquisa realizada pelo Piquete Xirú Coice evidencia, por exemplo, a primeira turma de médicos da Faculdade Livre de Medicina e Farmácia de Porto Alegre que formou também a primeira médica do RS. Alice Hess Maeffer era natural de Gravataí, exercia o magistério, quando deixou de lecionar para iniciar novos estudos, os quais foram custeados graças à ajuda financeira de sua irmã Natalina Maeffer Mesquita, também professora. Em 1901, obteve seu primeiro título de Farmacêutica, conquistado na Escola Livre de Pharmacia e de Chimica Industrial, criada em 1896. Em 1904, adquiriu o título de médica, fazendo parte da primeira turma de formandos de medicina na, então, Faculdade Livre de Medicina e Farmácia, apresentando sua tese Hematologia da Disenteria Amnebiana na Infância. Formada, doutora Alice Hess Maeffer exerceu a profissão na especialidade de pediatria e teve consultório na cidade de Antônio Prado. Mas sua atuação como médica foi breve, pois pouco tempo depois casou-se com o doutor Carlos Emílio Hardergger, também médico que fez absoluta questão de que sua esposa se dedicasse exclusivamente à vida do lar. No Rio Grande do Sul, a primeira enfermeira foi Izaura Barbosa Lima. Formada pela escola Anna Nery, veio para o Estado, em 1939, para formar visitadoras sanitárias, iniciando o período de transição da enfermagem pré-profissional para o profissional.


No tratamento dos feridos de guerra, o papel da Cruz Vermelha no Estado teve papel destacado, dado o enorme prestígio da instituição para a causa oposicionista durante o ano de 1923, assim como a importância daquele tipo de assistência para sociedade rio-grandense durante a primeira república. A chamada “Cruz Vermelha” foi composta por homens e mulheres, jovens e adultos, que colaboraram em diversas atividades durante o período de confrontos bélicos, como por exemplo, através da acolhida e tratamento de soldados feridos nos hospitais improvisados, a realização de festas beneficentes visando à arrecadação de fundos para auxiliar famílias prejudicadas pela guerra e o envio de médicos aos acampamentos.

Nesse período, em meio a tantas guerras e confrontos, esses profissionais tiveram papel preponderante no Estado. Não só faziam o atendimento dos feridos das batalhas, como atuaram fortemente durante a Gripe Espanhola, que assolou o RS, como ocorreu recentemente com a Covid-19. Foram essas pessoas que estiveram na linha de frente, prestando socorro e atendimentos aos feridos e enfermos. Portanto, em meio à celebração de nossas tradições, rende lembrarmos de todos os gaúchos e gaúchas que em, algum momento da batalha pela vida, naquele passado distante e no recente, tiveram a perda de seus familiares e amigos. E, a partir dessa memória, fazermos menção valorosa aos profissionais que se dedicaram e se dedicam incondicionalmente ao cuidado das pessoas, em tempos de guerra e em tempos de paz.

 

* Sócia do escritório Wakasugi Advogados e apoiadora do Piquete Xirú do Coice.

 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895