Poesia aclamada no Leste Europeu

Poesia aclamada no Leste Europeu

Eduardo Jablonski *

Avenida Andrassy no coração da capital húngara, Budapeste, é retratada em poema de J.E. Degrazia

publicidade

O médico oftalmologista, escritor e membro da Academia Rio-Grandense de Letras, José Eduardo Degrazia, faz sucesso não só no Estado pampeano, como no Brasil e no mundo. Autor de mais de 30 obras, entre contos, poemas, novelas e traduções, é recebido por academias de escritores na Moldávia, na Romênia e em outros países do Leste Europeu. Inclusive já ganhou prêmios, como o International Aco Karamanov Poetry Award, idealizado para homenagear Karamanov, um poeta da região. 

Seu reconhecimento é tanto, que recentemente alguns escritores do Leste Europeu defenderam a indicação de José Eduardo Degrazia ao Prêmio Nobel de Literatura. Uma forte característica do escritor é que ele diferencia-se de livro a livro, como um poeta novo a cada empreendimento. Já experimentou de tudo. Explorou a musicalidade, as imagens, o espaço, como os poetas concretos. Mas é na imagem que se destaca.


Para comemorar seus prêmios internacionais, organizou uma antologia bilíngue em português e inglês, a fim de circular nos meios em que é reconhecido. Chama-se “Cidades Condenadas”, publicado pela Class/Bestiário, do editor, poeta e artista plástico Roberto Schmitt Prym, mas que já havia circulado na Macedônia do Norte, em língua local, e, também, na Hungria.


Em termos gerais, essa coletânea engloba poemas feitos para lembrar os lugares que o poeta visitou ao longo dos anos. Uma de suas características são as constantes viagens que fez ao redor do mundo. “Desde os anos 70, quando viajei pelo Nordeste brasileiro e pela América do Sul de mochila às costas, me tornei um viajante apaixonado. Fui inúmeras vezes para Cuba, Estados Unidos, Europa, Turquia e outros países, procurando entender a cultura e a história locais. E cultivei o amor pelas línguas e pelas literaturas”, comenta Degrazia.


Quando o eu lírico diz que “a montanha parece que se aproxima / e caminha na direção do teu coração” (do poema “A montanha se aproxima”), faz uma prosopopeia e doa linhas humanas ao objeto, ampliando o significado para uma espécie de envolvimento emocional entre o viajante e a paisagem. 


O lado sensível o acompanha aos lugares onde for. O poeta viaja, analisa as culturas e transforma as observações em imagens. O eu lírico garante que “pode ser que a luz das estrelas / faça um jogo com a retina,/ um movimento que nada mais é / além da eterna luta entre a Luz e a Sombra”. 
Quem ler a produção de José Eduardo Degrazia perceberá que essa luta entre o bem e o mal está sempre em destaque, embora nunca apareça. O poeta sugere, no não-dito, que não se agrada com o mal, com a escuridão, com a sombra, e assim enfatiza o belo, o sentimento positivo, a fraternidade, a compaixão e a luz.


Ainda que não seja um ferrenho crítico, porque não deixa clara a sua contrariedade com os assuntos humanos, constrói um mundo em que só entra o “bem, o belo e o bom”, para lembrar uma passagem de Aristóteles. Montaigne disse, nos seus “Ensaios”, que a vida é a mesma, no entanto pode trazer um alento positivo ou negativo, dependendo de como a pessoa se posicionar com relação a tudo que nos envolve. É mais ou menos o que pretende o eu lírico na entrelinha desta passagem: “A montanha muda sua forma sendo a mesma, / conforme a luz do sol a banhe ou a abandone”.


O eu lírico observa como se fosse um artista visual, prestando atenção nos detalhes: “A montanha parece caminhar no poente / quando a sombra estende sombras desde o cimo”. Mais uma vez por trás da palavra, convida o leitor a refletir sobre a natureza, para que se consiga aprender por meio de observações. Henry David Thoreau, inspirado em Ralph Waldo Emerson, aconselhava as pessoas a tirarem lições do comportamento da fauna e da flora. 


Enfim, José Eduardo Degrazia é um dos grandes escritores do Sul.

 

* Mestre em Literatura Brasileira pela Ufrgs

 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895