Uma importante descoberta arqueológica

Uma importante descoberta arqueológica

Escritor Alcy Cheuiche escreve um conto sobre as descobertas arqueológicas do futuro

Correio do Povo

Agora, as cores do arco-íris desenham cenas bucólicas por todo o anfiteatro. - Sim, meus amigos. Finalmente aprendemos essa lição. Mas apenas mil anos depois...

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-Chamamos à tribuna o professor que propôs este debate a seus pares do Instituto de Arqueologia Aplicada.

Após ouvir essas palavras, que lhe soam como o farfalhar de folhas verdes ao vento, o venerando mestre levita suavemente até o palco. Abre as mãos com as palmas brancas viradas para seus colegas, recebendo deles a energia que o faz brilhar em diferentes cores.

- Verde que te quero verde, é a que usarei hoje, a imortal cor da poesia, síntese da aplicação dos conhecimentos arqueológicos para o bem da Humanidade.

De imediato, todo o anfiteatro veste-se do brilho da esmeralda. E o velho arqueólogo continua a falar, em linha direta para milhares de mentes que a ele se conectam:

- Meus amigos, por um desses milagres da preservação do papel, um composto primitivo feito a partir da madeira das árvores, chegaram às minhas mãos os restos da edição do jornal Correio do Povo, datado do dia 5 de janeiro de 2024 e alguns pedaços mais, que foram impressos em dias subsequentes.

Luzes vermelhas começam a piscar por todo o anfiteatro, construindo um belo sorriso, ainda mais verde, no rosto do professor. E suas palavras, agora, soam como o murmúrio das águas sobre as pedras de um riacho:

- Sim, é difícil de acreditar, eu concordo... Dez séculos depois, considerando-se a catástrofe universal que eliminou quase por completo a civilização antiga, tudo o que era inflamável sucumbiu... O que torna estas folhas, como os primitivos as chamavam, talvez para homenagear as árvores abatidas, relíquias dignas de vos mostrar alguns detalhes que explicam a estupidez e ignorância daqueles ancestrais que se autodestruíram.

Luzes brancas passam a piscar, ofuscando os olhos do velho mestre.

- Um exemplo? Querem um exemplo? Basta ler trechos recuperados da matéria de capa intitulada Explosão deixa oito feridos e risco de prédio desabar, encimada por uma imagem do edifício atingido e das seguintes palavras: Vazamento de gás em um condomínio da zona Norte de Porto Alegre. Local está isolado pelo risco de queda a qualquer momento. Dentre os feridos, dois bombeiros, certamente homens treinados para desarmar essas bombas.

De pronto, surgem pelo auditório luzes semelhantes a coriscos, o que faz o professor sorrir novamente.

- Sim, incêndios espontâneas continuam a nos atingir, principalmente produzidos por raios. Mas, quem de nós levaria para casa botijões cheios de gás inflamável para alimentar o fogo de uso doméstico? Quem seria tão ignorante do perigo a ponto de continuar comprando esses instrumentos de morte, ou canalizando gás para dentro das próprias casas, quando a eletricidade já era produzida naquela época, até pela energia do sol e do vento?

Luzes roxas em várias tonalidades envolvem completamente o mestre, sempre no seu refúgio esmeralda.

- Sim, concordo com todos, já eram os sintomas da autodestruição... Imaginem quantos outros prédios como este devem ter explodido junto com os tais botijões de gás em todo o Planeta Terra? Os prédios desmoronavam, pessoas morriam, e os seres primitivos não discutiam nada sobre a segurança, só preocupados quando subia o preço do gás de uso doméstico... Toda essa ignorância, apesar de que a dita imprensa os prevenia, como vemos neste fragmento publicado no dia 12 de janeiro de 2024, onde consegui decifrar a seguinte frase: Um vazamento de gás acontece por dia na capital.

Agora, a cor amarela toma conta do auditório.

- Sim, meus amigos, uma situação desesperadora. Considerado tal nível de insensatez em todas as classes dominantes do Planeta Terra, nada a estranhar que tenham utilizado armas atômicas uns contra os outros, mesmo que tivessem conhecimento do perigo, como está escrito em uma das folhas deste jornal: As guerras envolvendo Rússia e Ucrânia, há quase dois anos, e Israel contra o Hamas, há quatro meses, não têm perspectiva de terminar a curto prazo. E a ameaça de nova e mais perigosa conflagração vem da Coreia do Norte. O que dá um certo alívio é que Kim Jong-un deve saber que, se atrever-se a um confronto nuclear, nada sobrará de seu país.

Luzes semelhantes a explosões nucleares ferem os olhos do mestre, fazendo-o aconchegar-se mais em sua cor da esperança.

- Na verdade, dada a ignorância dos nossos ancestrais, quase nada sobrou de nenhum país, dito civilizado. O que era de se prever pela causa maior do conflito final: o acúmulo da riqueza e do poder nas mãos de alguns poucos, fazendo com que muitos países estocassem imensos arsenais atômicos, prontos a autodestruição a qualquer momento. Manter a miséria e a riqueza lado a lado foi a causa maior da grande catástrofe. Lição que nos fez cultivar a igualdade social para conseguirmos criar este mundo de fraternidade planetária…

Agora, as cores do arco-íris desenham cenas bucólicas por todo o anfiteatro.

- Sim, meus amigos. Finalmente aprendemos essa lição. Mas apenas mil anos depois...


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895