Ao mestre, com certeza

Ao mestre, com certeza

Marcos Santuario

Documentário está disponível na Apple TV +

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Ao unir a história de vida de Sidney Poitier com a visão e o poder empresarial da comunicadora Oprah Winfrey o resultado não poderia ser outro. Surge uma pérola narrativa e audiovisual, transformada no documentário “O Legado de Sidney Poitier”, lançado há poucos dias pela Apple TV +. O escolhido para a direção do projeto foi o cineasta Reginald Hudlin, que já mostrou seu talento ao, em 2020, apresentar “Marshall: Igualdade e Justiça”, contando a história do primeiro juiz afro-descendente da Corte Suprema Americana, Thurgood Marshall. O filme sobre Thurgood também pode ser visto, já disponível na Netflix.
Mas voltando ao legado de Poitier, o documentário incentivado por Oprah coloca o próprio ator contando os principais fatos de sua vida, enquanto imagens vão dando os contornos da difícil trajetória do homem e do ator. Desde o nascimento prematuro deste filho de agricultores, até as primeiras percepções sobre a segregação racial, a narrativa vai crescendo, à medida em que se aprofunda nas vivências do homem que há por trás do ator. 
Com visível sensibilidade à flor da pele, Poitier conta para a câmera como foi seu primeiro encontro com o conceito e a prática do racismo. Fala de como sofreu “na pele” o preconceito e a dor da falta de empatia e até de humanidade. Viveu os tempos mais duros da Ku Klux Klan e viu sua família ser perseguida e até atacada. Mesmo com todas as possibilidades de tornar-se um simples homem sofredor e à margem da sociedade, Sidney Poitier tornou-se ator, diretor, autor e diplomata. Poitier, que faleceu aos 94 anos em janeiro deste ano, foi o primeiro ator negro a vencer o Oscar, e hoje é nome reconhecidíssimo do universo da arte cinematográfica. Levou o troféu de Hollywood em 1964, por “Lilies of the Field”, traduzido no Brasil como “Uma Voz nas Sombras”. Ele também fez história ao estrelar “No Calor da Noite”, de 1967, primeiro vencedor do Oscar de melhor filme com um protagonista negro. No mesmo ano, com “Adivinhe Quem Vem para o Jantar” e “Ao Mestre, com Carinho”, Sidney Poitier foi o ator que somou a maior bilheteria, mostrando que atores negros poderiam ser rentáveis. Parte de sua dura e difícil vida, com os desafios e as conquistas, ganha visibilidade e pode envolver a partir deste documentário visceral e necessário.


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