A CPMI

A CPMI

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, está mais gelado que traseiro de pinguim.

Guilherme Baumhardt

publicidade

Daqui para a frente será assim: a cada dia, a cada semana, devem surgir fatos novos − ou, no mínimo, evidências − sobre a invasão das sedes dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro. A informação mais recente é de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) alertou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o Ministério da Justiça e outros treze órgãos federais. E, aparentemente, há um bocado de gente disposta a contar o que sabe. Parece que nem mesmo aqueles que investiram R$ 40 mil em uma cama novinha conseguirão dormir tranquilos.

E a CPI

As atenções principais estão voltadas para a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (que reúne deputados e senadores) que pretende investigar o dia 8 de janeiro. Por isso, há menos holofotes para a CPI do MST, a ser instalada na Câmara dos Deputados. Ela merece mais atenção. O foco principal, por si só, já é digno de um olhar especial − as invasões criminosas de um movimento bandoleiro. O que se descobrirá após o início dos trabalhos, porém, é algo que somente o tempo dirá. Não será surpresa se a CPI do MST acabar encontrando o dia 8 de janeiro pelo caminho, ao longo do trabalho de investigação.


Um ministro esvaziado

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, está mais gelado que traseiro de pinguim. O esfriamento ficou evidente durante a semana com o “desconvite” feito pela organização da Agrishow, um dos maiores eventos do agronegócio brasileiro e o maior do estado de São Paulo. Não é algo gratuito. Manifestações dúbias na defesa do setor fizeram os produtores rurais olharem com desconfiança para o ministro. Sobre a CPI do MST, Fávaro, após criticar a invasão de terras produtivas, partiu para o velho e surrado chavão de que uma comissão parlamentar de inquérito não pode virar “palanque político”. Ministro, uma dica: a CPI pode ser uma importante aliada ao seu trabalho, desde que o senhor queira defender o agronegócio com unhas e dentes. Fica a dica.

Redesenho

Após pressão de todos os lados, o relator do projeto de lei da mordaça (conhecido também como Projeto das Fake News), o deputado federal comunista Orlando Silva, anunciou mudanças na proposta. Tímidas, muito tímidas diante do potencial de estrago de uma ideia que deveria ser descartada desde o princípio. É um sinal de que o governo não tem os votos necessários para a aprovação do texto. E, ao que tudo indica, novas alterações poderão ser feitas no dia da votação.

Dúvida

Mesmo com parcela expressiva da imprensa apoiando uma proposta que, na prática, pretende cercear a liberdade de expressão (um fenômeno visto apenas aqui, em Banânia), arrisco o seguinte prognóstico: se permanecer qualquer linha ou vírgula no texto que possa configurar ataque à livre manifestação, o projeto não será aprovado. A votação está prevista para o início da próxima semana

Ah, a imprensa

Colegas de imprensa, acreditem, saíram em defesa feroz do projeto de mordaça. É como alimentar o algoz, dar arroz e feijão para o carrasco que levanta a guilhotina, para logo depois passivamente posicionar o próprio pescoço no curso da lâmina. Ah, e teve gente que viveu o período militar brasileiro, que sempre se apresentou como defensor da liberdade de expressão, mas agora se posiciona a favor da censura. Haja paciência.

Lágrimas que fizeram o L

Se além das queixas e do ranger de dentes surgissem também lágrimas, o Brasil hoje provavelmente estaria debaixo da água. Armínio Fraga (que endossou a candidatura lulista) deu novas declarações durante a semana criticando a gestão econômica do país. Sobre o arcabouço fiscal, disse o ex-presidente do Banco Central, na gestão tucana: “A aritmética não fecha”. Parabéns, Armínio. E obrigado, mais uma vez, por não ter visto o que todos aqueles com um pingo de razoabilidade viram na campanha de 2022. Não era a volta do Lula I, mas sim a continuação do governo encerrado em 2016, uma espécie de Dilma III.

Mala vazia (ou quase)

Após uma semana na Europa, cumprindo agenda em Portugal e Espanha, o presidente Lula retorna ao Brasil com pouca coisa a ser celebrada. Nenhum grande acordo foi estabelecido, nem mesmo na área ambiental − tema sensível a muitos países do Velho Continente. Na bagagem presidencial algumas parcerias − nada expressivo. Ah, e um bocado de vaias e protestos. A vida de Lula já foi mais fácil.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895