Alvo definido

Alvo definido

Presidente do Banco Central está no alvo

Guilherme Baumhardt

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A história ensina que a esquerda é incapaz de autocrítica. Ela nunca erra. E, quando as coisas desmoronam, a responsabilidade é sempre de um agente externo. É assim com Cuba, quase 70 anos após a revolução. Você pode comprar rum e charutos feitos por lá, mas a razão pela qual a miséria impera na ilha presídio, segundo a esquerda, é o bloqueio imposto pelos Estados Unidos. Mas, afinal, que embargo é este que permite ao Brasil e ao mundo comprar produtos cubanos? É o embargo que habita a cabeça da turma “Viva, Fidel!”.

Cuba pode estabelecer relações comerciais com uma centena de nações, mas oferece basicamente rum e charutos. Por quê? Porque nada mais se produz por lá, principalmente com qualidade e preço competitivo. A culpa não é dos cubanos, mas do regime econômico. Além dos inimigos da revolução, a livre iniciativa também foi parar no paredão.

Mas há exceções. Varadero é um dos destinos turísticos mais procurados do Caribe e fica em... Cuba! Lá há capitalismo e um grau de liberdade maior. Grandes redes internacionais de hotéis se instalaram e geram emprego, renda e riqueza. Dizem que o primeiro sonho de um cubano é fugir para Miami. Se isso não for possível, trabalhar em Varadero é um alento.

A mesma lógica da esquerda, de apontar o dedo para inimigos imaginários, ocorre na Venezuela. Durante anos viu-se Hugo Chávez e Nicolás Maduro vociferando contra o “imperialismo Yankee”. Pergunta: quem era o principal comprador do petróleo venezuelano? Ganha uma passagem só de ida para a miserável Caracas quem respondeu “Estados Unidos”.

Escrevo as linhas acima para tornar mais claro o modus operandi da turma. Por aqui, Lula já escolheu o culpado do fracasso que se avizinha. Ele tem nome, sobrenome e função. Chama-se Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. Primeiro, Lula abriu fogo ao ser descortês, quando se referiu a Campos Neto como “esse cidadão”. Logo depois, sugeriu que o presidente do BC é um traidor, porque tenta arrastar o país para uma recessão. Na primeira fala, faltou educação. Na segunda, quem sumiu foi a verdade.

A primeira tarefa de qualquer Banco Central é preservar a moeda. E a melhor maneira de fazer isso é manter a inflação em patamares saudáveis. O que Lula III pretende é injetar dinheiro na economia de maneira artificial – a explosão do teto de gastos foi o primeiro passo. Quando isso ocorre, o resultado é aumento de preços. Diante do quadro, o BC entrou em campo e interrompeu a redução da taxa Selic.

Lula adoraria estar surfando agora, de maneira imediata, em uma onda de crédito barato, para compra de imóveis, carros e eletrodomésticos da linha branca (geladeiras, máquinas de lavar, fogões). Populismo na veia. Mas a resposta do mercado não veio. E não veio porque o mercado é malvado, mas porque é realista.

Algo parecido aconteceu no final do segundo mandato lulista. O presidente do BC à época era Henrique Meirelles. Na ocasião, o governo federal abandonou o receituário de prosperidade e crescimento sustentável – metas de inflação, superávit primário, entre outros. Foi uma marca do primeiro mandato petista, que foi impulsionado, também, pelo boom das commodities. No lugar da responsabilidade veio a famigerada “nova matriz econômica”. A bomba foi armada no período Lula II, mas explodiu na gestão Dilma Rousseff, que manteve o Titanic brasileiro em rota de colisão.

Campos Neto tem mais dois anos no cargo, garantidos pela lei aprovada no governo Jair Bolsonaro, que prevê a independência e autonomia ao BC. Não significa que terá vida fácil. Depois de Lula virão os torpedos de ministros, senadores e deputados da base. Enquanto ele estiver lá, temos a certeza de que há alguém esgrimando contra o populismo financeiro. Depois disso, salve-se quem puder.


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