As armas que temos

As armas que temos

Guilherme Baumhardt

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A cerimônia de posse de Lula não poderia ter sido mais significativa. Um festival de péssimas notícias, o falatório de sempre e um país com os olhos no retrovisor. E, claro, embuste, como a caneta usada na cerimônia. Segundo Lula, um presente de um eleitor do Piauí. De simples, nada havia. Tratava-se de uma Montblanc, uma tinteiro feita para poucos – coisa de R$ 6 mil a peça. Mais uma prova de que o pai dos pobres, que há anos só viaja em jatinho particular, só existe na cabeça da seita e na militância das redações. Aliás, já estão com saudades da BIC bolsonarista?

A transmissão da faixa coube a uma catadora. Aline Souza tem 33 anos e desde os 14 anos vive de encontrar e revender material reciclável encontrado no lixo. É sintomático que ao longo destes quase 20 anos, o petismo tenha governado o país durante a maior parte – praticamente 14 anos. E Aline continua fazendo a mesma coisa: catando lixo. Ou seja, o “Brasil Maravilha” só existiu na propaganda oficial lulopetista.

Durante a caminhada até o Palácio do Planalto, Lula ignorou solenemente os oficiais das forças armadas que lhe prestavam continência. Zero surpresa. O problema neste caso é o derretimento de uma instituição que gozava de confiança e prestígios quase absolutos. Não é por acaso. Estamos falando de quebra de confiança. As pessoas imaginavam que nos quartéis havia a força capaz de ser uma espécie de fiel da balança, algo que não ocorreu.
Além do vácuo oferecido aos militares, Lula também passou lotado pela bandeira do Brasil. Más línguas dizem que houve uma certa confusão mental no petista. Como se tratava do Pavilhão Nacional, nas cores verde, amarelo e azul, Lula teria se equivocado. Se fosse uma bandeira vermelha e com uma estrela no meio, tal equívoco jamais teria ocorrido.

Deixando de lado o festival de patuscadas e o time de horrores que se instalará na Esplanada dos Ministérios (tema de uma próxima coluna), cabe a nós, pessoas que não passam a mão na cabeça de bandido e que não justificam assaltos e assassinatos com a vontade do ladrão de “tomar uma cervejinha”, pensarmos nas armas que temos. Sim, o cenário no horizonte não é dos melhores, mas há maneiras de exercemos pressão para que a turma que agora volta a Brasília não liquide com o país.

Temos força e ferramentas de pressão. Caminhoneiros já deram algumas demonstrações de que unidos podem fazer governantes ficarem de joelhos, nem sempre com as melhores bandeiras ou exigências – tabelamento de frete, além de não resolver o problema, é uma afronta ao livre mercado. Mas é um grupo que se mostrou organizado e que tem lideranças.

O agronegócio é um gigante que, por vezes, parece desconhecer o poder que possui. Há lideranças fortes de norte a sul do Brasil. Se o país cresceu nos últimos anos foi graças ao produtor rural, que tem o poder econômico (é um setor rico e pujante) e que não se acovarda (manifestações em frente a agências bancárias e tratoraços recentes são apenas alguns exemplos), mas ainda não explora todo o seu potencial.

O setor industrial também sabe dar demonstrações de força, assim como o comércio, mas nestes dois casos cabe uma ressalva: há segmentos bastante específicos nestas áreas em que os olhos brilham com determinadas iniciativas do governo federal. Basta lembrar da construção de casas populares ou das isenções de IPI para carros e a chamada linha branca. Indústria e comércio têm força, mas não apresentam a mesma coesão do agronegócio.
São apenas alguns exemplos. Existem alguns outros. Fato é que todos eles serão fundamentais, especialmente quando lembramos que no Congresso há gente que tem preço e dobradiça na espinha.

O que não podemos é desistir.


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