Assalto legalizado

Assalto legalizado

A realidade da imensa maioria, porém, é outra.

Guilherme Baumhardt

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Não chega a ser a mão armada, mas você, trabalhador contratado com carteira assinada, não tem para onde ir, muito menos para onde fugir. Sim, meus caros leitores, mais uma vez, com a ajuda do onipresente Estado (leia-se governo federal), os sindicatos estão prestes a meter a mão no seu bolso, mesmo que você não queira ou não concorde com os métodos dessa gente.

Foi um dos poucos e raros avanços da reforma trabalhista aprovada no governo de Michel Temer. A contribuição compulsória (obrigatória) caiu. Cada assalariado pagava, muitas vezes contra a própria vontade, o valor equivalente a um dia de trabalho. Prepare-se, porque a turma, pelo visto, pretende “tirar o atraso”, e o assalto agora será equivalente a três dias de salário.

Não sou contra a contribuição sindical, desde que ela seja facultativa. Há alguns exemplos de entidades que se modernizaram e passaram a não ser mais apenas representantes de uma determinada categoria em uma mesa de negociações. São instituições que se transformaram em prestadores de serviços. Oferecem aos associados assistência jurídica, contábil, entre outras. Mostram valor e justificam a livre associação daqueles que contribuem. O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul é um exemplo neste sentido.

A realidade da imensa maioria, porém, é outra. Não raras vezes assistimos a uma reunião de fracassados, gente incapaz de gerar valor, que não consegue entender o conceito de mérito e desconhece a necessidade da entrega de resultado para qualquer empresa. Se a ideia da cobrança evoluir – e são grandes as chances –, esta turma se reunirá e voltará a agir como parasita do trabalho e do suor alheio.

A proposta não vem sendo classificada como a volta do imposto sindical, mas sim uma “contribuição”. O atual ministro do Trabalho, Luiz Marinho, um sujeito que pouco produziu na vida e passou mais tempo dentro de sindicatos, teve a coragem de dizer que “uma democracia precisa ter sindicato forte”. Eu posso até concordar que sindicatos fazem parte de uma engrenagem e representam a união de interesses, mas não há qualquer relação disso com democracia.

Vale lembrar que em ditaduras esquerdistas ocorrem dois fenômenos: ou os sindicatos são extintos, ou os líderes sindicais vão parar no governo. E em tiranias não há um pingo sequer de democracia. Já descrevi aqui a cena clássica do seriado Chernobyl: uma das cientistas retratadas na história procura o diretor da agência nuclear para alertá-lo sobre a tragédia. E o sujeito – um inepto que antes ocupava um cargo sindical qualquer – estava naquela cadeira não por mérito, mas por ser filiado ao partido do regime.

Sindicatos esquerdistas estão intimamente ligados ao atraso e servem apenas a um propósito: fazer política partidária dentro das empresas. A Inglaterra das décadas de 1960 e 1970 estava amarrada ao passado graças à força dos parasitas ligados ao sindicalismo das minas de carvão. Foi uma batalha dura, mas Margaret Thatcher comprou a briga e defendeu o interesse dos britânicos, mandando às favas o umbigo daqueles que olhavam apenas para a própria barriga. É mais ou menos o que ocorre agora, na Argentina.

Em números. Se a proposta avançar, um trabalhador que recebe salário mínimo (R$ 1.320 por mês) pagará, no ano, R$ 170 para um sindicato. Pode parecer pouco para quem ganha mais, mas é preciso analisar este cenário sob outro prisma. O dinheiro a ser drenado pelo parasitismo sindical retiraria da mesa, por ano, o equivalente a 37 caixas de leite.

Luta de classes é coisa de cabeça estacionada em 1989, antes da queda do Muro de Berlim. A melhor maneira de gerar emprego e renda é liberdade de mercado, com o mínimo de regulação. De maneira curta e grossa: o dinheiro do trabalhador não precisa ficar bancando gente cuja especialidade é dizer “a luta continua, companheiro”.


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