Bandido precisa ter medo da polícia

Bandido precisa ter medo da polícia

O episódio em questão não foi em São Paulo, mas na Bahia.

Guilherme Baumhardt

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Na última quinta-feira, dia 27 de julho, um comboio da ROTA fazia o patrulhamento em Guarujá, no litoral paulista. As Rondas Ostensivas Tobias Aguiar são uma espécie de elite do batalhão de choque da Polícia Militar de São Paulo. Durante a ação, o soldado Patrick Bastos Reis, de 30 anos, foi baleado no peito. O tiro mortal teria sido disparado por um bandido conhecido como o “sniper do tráfico” – um especialista em tiros de longa distância. Socorrido e levado às pressas ao hospital, o soldado não resistiu. Patrick deixou esposa e um filho de três anos de idade.

Não se viu na imensa maioria da imprensa qualquer tipo de comoção. Não foram produzidas grandes reportagens mostrando a dor da família, dos amigos e dos colegas de farda. Mas vimos lacração. Muita lacração, principalmente depois que a polícia de São Paulo montou uma ofensiva para localizar o assassino. “Chacina”, escreveram colegas de jornais Brasil afora, após a morte de ao menos dez pessoas, em confronto com a polícia. É a turma que acha que para haver justiça, para cada bandido morto, um agente da lei também deve ser abatido. Um raciocínio torto, injusto e perverso.

Dias depois, os nomes e o histórico dos “anjos” vieram a público. Todos com ficha policial. Em alguns casos, extensa. Um dos sujeitos, de 40 anos de idade, havia sido preso três vezes por tráfico de drogas, roubo e homicídio. Era considerado um dos chefes da facção que atua na Baixada Santista. Outro, com 49 anos, já havia sido preso por roubo e homicídio. E o restante não era muito diferente. Aos que sentem pena quando um vagabundo assim tem o CPF cancelado, deixo uma singela sugestão: leva para casa.

Nas redações militantes, o mundo veio abaixo. Foram produzidos programas intermináveis falando sobre a “violência policial”. Claro que a formação esquerdista – produzida em escala industrial nas universidades brasileiras – ajuda a explicar parte do fenômeno. A relativização é uma chaga. Mas há mais. Como já escrevi em outras oportunidades, essa turma tem método. O episódio do Guarujá virou uma oportunidade ímpar de desgastar aquele que, neste momento, parece ser o principal herdeiro do capital político do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Desde que a polícia intensificou as ações no Guarujá, entrou no olho do furacão o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, que passou a responder a insistentes questionamentos sobre a atuação dos agentes de segurança. Para quem acha que é um exagero, trago uma informação a título de comparação: em outro Estado da federação, três operações policiais, em um curto espaço de tempo, mataram mais gente do que a ROTA. Para ser mais preciso, dezenove pessoas. A divulgação foi tímida.

O episódio em questão não foi em São Paulo, mas na Bahia. E, assim como ocorreu no Guarujá, os mortos entraram em confronto com as forças de segurança. Mas se dezenove pessoas morreram, por que o destaque não foi o mesmo? Ah, talvez porque a Bahia não seja governada por um bolsonarista e quem ocupa hoje o Palácio de Ondina é Jerônimo Rodrigues. Sim, um político filiado ao Partido dos Trabalhadores, cria política do atual ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, também petista. Ficou claro?

A polícia não pode e nem tem poder infinito, muito menos para tirar a vida de alguém. Mas quando um tiroteio inicia e ela entra em confronto com criminosos, só há um lado para o qual torcer. Bandido precisa ter medo da polícia, e não o contrário. Quando isso não acontece, temos um grande problema.


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