Barril de pólvora

Barril de pólvora

Quando o agronegócio terá o respeito que merece?

Guilherme Baumhardt

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Foram quatro anos de calmaria, em que as preocupações do produtor rural (seja ele pequeno, médio ou grande) ficaram restritas ao custo da lavoura e o preço de venda da produção, variações cambiais, oscilações de preço do mercado e saber se a chuva viria ou não. Não é pouca coisa, mas tudo isso faz parte do ofício de quem vive do campo. O que ele não precisava era o retorno dos movimentos bandoleiros que invadem, depredam e não respeitam a propriedade privada. Felizmente ainda há juízes em Berlim e as decisões até agora foram todas no sentido de reintegração de posse das áreas invadidas. Ainda assim, há uma tensão no ar, um barril de pólvora sendo destampado. E a culpa não é do produtor rural, mas daqueles que incentivam e promovem este tipo de ação. A pergunta é: quando o agronegócio terá o respeito que merece?

Ele pode
Lula voltou a dizer que Dilma foi vítima de um golpe. Narrativa pura, sem qualquer respaldo com a realidade. Defensor da liberdade, penso que Lula pode proferir a bobagem que bem entender, mas quando afirma que o impeachment (que respeitou todo o rito legal), foi um golpe, ele estaria (segundo o entendimento dos togados) atentando contra as instituições, leia-se Congresso e STF. Qualquer um de nós correria o risco ao fazer o mesmo, inclusive, de ser preso. Mas Lula pode. Vale lembrar: a cassação de Dilma foi aprovada em uma sessão presidida por um ministro do Supremo Tribunal Federal. Se não fossem as pedaladas fiscais, aquilo que a Lava Jato revelou meses depois trazia inúmeras outras razões para apear Dilma do poder.

Malabarismo
O contorcionismo que a imprensa lulista faz para justificar os erros do governo é algo que ultrapassa a linha do constrangimento e da vergonha. Não sabiam que seria assim? Acreditaram que a arrancada seria diferente do que havia sido prometido durante a campanha? Quanta ingenuidade...

Quanto tempo?
Com decisões que afrontam o investimento e a geração de empregos; com um discurso descolado da realidade da geração de riqueza com seriedade; com a volta de práticas e nomes que foram alvejados pela operação Lava Jato para o centro do poder, fica a pergunta: quanto tempo falta para que se passe a falar abertamente na possibilidade de impeachment? O caldo que levou à cessação de Dilma está novamente no horizonte. Se não quiser correr este risco, Lula não precisaria nem copiar Jair Bolsonaro ou Fernando Henrique Cardoso. Bastaria ser o Lula que assumiu a presidência em janeiro deste ano. No lugar de brigar com Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, o mais inteligente seria convidá-lo para o Ministério da Fazenda e dar a ele liberdade de fazer o que precisa ser feito. Mas não alimente esperanças. Não vai acontecer. Uma pena para o Brasil.

Descortesia
Eduardo Leite foi a Brasília tratar da estiagem que assola o Rio Grande do Sul — e que invariavelmente impactará o Brasil. A reunião deveria ser com Lula. Não foi. Mudanças de agenda, ainda mais no caso de um presidente da República, podem ocorrer e são até certo ponto compreensíveis. Mas do outro lado não estava um qualquer. Era o governador do Rio Grande do Sul. A descortesia poderia ser amenizada se um ministro fosse escalado para a missão. O chefe da Casa Civil ou o titular da Agricultura, por exemplo. Não foi o que ocorreu. Leite foi recebido pelo terceiro escalão. A falta de consideração não foi apenas com o governador, mas com todos os gaúchos.

Porto Alegre
As discussões sobre a revisão do plano diretor avançam. A Capital tem uma oportunidade ímpar de dar um salto e se modernizar. O atual prefeito Sebastião Melo não carrega o ranço de gestões passadas, que amarraram a cidade ao atraso. O debate vai muito além da altura dos prédios, mas se a turma do contra insistir neste tópico, saiba que cidades mais adensadas representam menor necessidade de deslocamentos, trazem aumento da segurança e a otimização dos serviços, sejam eles públicos ou privados. E em uma cidade com boa cobertura verde, não estaríamos transformando a capital gaúcha numa selva de pedra. Ou seja, há muito mais a ganhar do que perder.


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