Bolsonaro venceu

Bolsonaro venceu

Bolsonaro tem uma missão difícil, mas não impossível

Guilherme Baumhardt

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Não, o colunista não enlouqueceu. É para provocar mesmo. Provocar reflexão e análise que vão além da frieza dos números. O que eles nos mostram? Que, no primeiro turno, Lula teve mais votos do que Bolsonaro. O que há por trás disso? Água no chope petista e fogos de artifício guardados. Em suma: assistimos à frustração do lado vermelho. E o tombo só ocorreu porque a imensa maioria das pesquisas induziu a turma ao erro. Aliás, por que ainda tem gente que acredita no que dizem Datafolha e Ipec (o antigo Ibope)?
A segunda-feira reservou um dia de sol ao Brasil. A Bolsa de Valores de São Paulo subiu. O dólar? Caiu. E lá fora? Os papéis da Petrobras, nos Estados Unidos, voltaram a se valorizar. E o que explica isso? Assim como muitos brasileiros, o mercado também acreditou nas pesquisas – fajutas e vergonhosas. Com o segundo turno, reacende a esperança de que as reformas feitas até aqui terão sequência. Além disso, a possibilidade de privatização de estatais permanece viva.

Se no lado petista o sentimento foi de derrota (apesar do maior número de votos), do lado bolsonarista a festa só não foi maior porque se criou uma falsa expectativa. O atual presidente arrancou na frente, no início da contagem de votos. Isso fez com que muitos imaginassem que aquela vantagem seria mantida até o final, algo pouco provável – e que, de fato, não ocorreu. Deixando de lado o passado e as frustrações, miremos o horizonte. A candidatura de Jair Bolsonaro tem uma missão difícil pela frente. Mas não impossível. São quase quatro semanas para reverter o quadro e construir uma vantagem.

Há razões para acreditar? Sim. E elas moram basicamente em três Estados. Em São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas deve ampliar a vantagem sobre o petista Fernando Haddad, contando com votos de um eleitorado não tão conservador, que votou no tucano Rodrigo Garcia, mas que rechaça o PT. São Paulo é o maior colégio eleitoral do país. Em Minas Gerais, segundo Estado em número de eleitores, Bolsonaro tem potencial para mais. Para isso é fundamental o apoio integral do governador reeleito Romeu Zema, que já mostrou ser imune a picuinhas do partido Novo e que, quando necessário, anda na pista do “pragmatismo”, sem atentar contra princípios ou valores. Na Bahia, onde Bolsonaro fez pouquíssimos votos, ACM Neto, se quiser ter alguma chance de êxito contra Jerônimo (PT), precisará descer do muro. Se os petistas já têm candidato, resta a ele uma aliança com o atual presidente.

Por aqui, a campanha de Eduardo Leite tem como principal desafio reencontrar a motivação, após ser patrolado por Onyx Lorenzoni. O tucanato foi mais uma vítima das pesquisas que miraram a lua, mas fotografaram o sol. O eleitorado petista (leia-se Edegar Pretto) deve migrar para Leite, mas há obstáculos. O tucano privatizou a CEEE e abriu as portas para a venda da Corsan – na campanha de 2018 ele havia prometido que manteria a empresa sob controle do Estado. E este é um tema sensível para a esquerda.

Algumas breves observações finais. O Novo nacional continua sem um timoneiro. Luiz Felipe D’Ávila, perguntado na manhã de domingo sobre um segundo turno entre Lula e Bolsonaro, mostrou que ainda não entendeu o que está em jogo. Disse que vai anular o voto. Candidatos a deputado do Novo “agradeceram”. E não era preciso abrir voto em Bolsonaro, bastava dizer que esperaria o resultado das urnas.

Sobre urnas? Já expressei minha opinião sobre a tecnologia brasileira neste espaço em outras ocasiões. É o que temos. E se desconfiarmos dos resultados? Peçam recontagem! E encontraremos sempre o mesmo número que a eletrônica (e só ela) vai nos oferecer. Piada.

As pesquisas merecem uma coluna à parte. Por enquanto trago duas linhas. O resultado é tão escandaloso que está a um passo de virar caso de polícia. E, no segundo turno, elas (especialmente dos grandes institutos) estarão erradas novamente. Portanto, não dê bola para pesquisa.


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