Carta de um lugar outrora chamado Brasil

Carta de um lugar outrora chamado Brasil

Mas até para isso há explicação.

Guilherme Baumhardt

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O Brasil, este lugar sui generis, não vive sem polêmicas. O debate do momento é sobre o público presente para as celebrações do 7 de Setembro. Após discussões acaloradas e análise minuciosa, o novíssimo instituto de pesquisas Datafalha – não confundir com o renomado Datafolha – atestou que o número de pessoas em Brasília, no ano passado, foi exatamente o mesmo do registrado agora, em 2023, dentro da margem de erro, que é de 99,9 pontos percentuais para mais, ou para menos. Portanto, não caia em fake news. Brasília foi, mais uma vez, um sucesso.

Claro, alguns não compareceram. Mas até para isso há explicação. Estamos de volta ao Brasil Maravilha, onde tudo que reluz é ouro e o verde e amarelo aparecem camuflados de vermelho. Já que a economia cresce em um ritmo “nunca antes visto na história ‘deztepaíz’”, todos voltaram a viajar de avião. E de primeira classe, onde o prato servido a bordo é picanha – ou, em inglês, rump steak.

Se em alguns lugares não havia público para acompanhar os desfiles é porque estão todos na Disney, tirando fotos com o Pateta, o Mickey e a Minnie. Brasileiros e brasileiras que aproveitaram para conhecer a nova versão da “Branca de Neve”, agora politicamente correta – sem anões e nada de beijos sem consentimento. Especula-se qual será a maneira utilizada para acordar a princesa, após comer a maçã – envenenada, mas orgânica, livre de defensivos agrícolas e transgênicos. Uns apostam em um balde de água, outros creem em uma música do Pablo Vittar, após dueto com Yoko Ono.

PS.: as linhas acima contêm alguma ironia, mas o colunista garante não ter feito uso de nenhuma substância, mesmo após liberação do STF. São fatos fictícios misturados a uma realidade surreal.

Lições

A enxurrada que devastou cidades do Vale do Taquari precisa produzir mudanças. Foi assim após o incêndio na Boate Kiss, quando uma nova legislação foi criada. No caso das cheias, não basta mudar a lei. São necessárias obras de contenção, como barragens e bacias de amortecimento. Isso demanda estudo, planejamento e, claro, dinheiro. Se não começarmos agora, será apenas questão de tempo até a próxima tragédia.

Fufuca

“Eu peço voto para quem eu acho correto. Eu peço voto para mais de dois milhões de famílias que recebem auxílio no nosso Estado. Isso quem fez foi o presidente Bolsonaro. A gente tem uma missão aqui e no Brasil inteiro, que é dar maioria absoluta a Jair Messias Bolsonaro, no dia 30 de outubro”. As frases acima são de André Fufuca, novo ministro do Esporte, do governo... Lula. O Brasil não é para amadores.

Terneiros

Há no Brasil uma cultura impregnada na política. Quem conhece minimamente a vida do campo sabe que há um momento em que um terneiro precisa ser “desmamado”, ou seja, deixar o úbere da vaca, para se alimentar apenas de pasto ou ração. Fufuca não é o único. Nossa classe política está tomada de gente assim, que age como terneiro que não passou pelo desmame, gente que se move ao sabor dos ventos – curiosamente sempre na direção das gordas tetas estatais.

Janja, a deslumbrada

Na quinta-feira, após o desfile (sem público) do 7 de Setembro, a primeira-dama do país vai a uma rede social e escreve: “Decolando para a Índia. 20h de voo. Vou ter muito tempo para tuitar. Rsrs”. Janja, que se hospeda em alguns dos hotéis mais luxuosos (e caros) do mundo junto com Lula, dá claros sinais de deslumbramento. Há um ditado popular que sintetiza bem o comportamento da primeira-dama (que já vem sendo chamada de “Esbanja”, nas redes sociais): “Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza”. Não haveria problema algum em torrar dinheiro em móveis e hotéis 5 estrelas, desde que a grana não fosse o do pagador de impostos.

Estrago

Alceu Collares, quando governador do Rio Grande do Sul, escolheu a primeira-dama, Neusa Canabarro como secretária da Educação. O calendário rotativo, implantado à época, foi o grande calcanhar de Aquiles do pedetista, uma medida impopular e que sofreu forte resistência. A comparação não é totalmente justa (Collares não é Lula e Neusa não é Janja), mas a atual primeira-dama do país, mesmo sem exercer função ministerial, tem potencial para provocar estrago semelhante no lulopetismo. Aliás, isso já é tratado nos bastidores.

Conversa fiada

O lulopetismo vendeu a ideia de unificação do país a partir do 7 de Setembro. Acreditou nessa baboseira quem quis. O que se viu em Brasília foi um desfile vazio, com direito à primeira-dama desfilando em vestido vermelho (não me digam que foi um acaso), fazendo a letra “L” com as mãos. É este o receituário da pacificação? Melhor manter a guarda alta.


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