Devagar com o andor

Devagar com o andor

“Advogado recua e diz que confissão não vai tratar de joias”

Guilherme Baumhardt

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O noticiário da última quinta-feira à noite foi incendiário. Quem acessava determinados portais e canais de televisão ficou com a sensação de que a prisão de Jair Bolsonaro era questão de horas. Há relatos de festa em redações, faltando apenas o espocar de um espumante para um brinde. A origem de tanta alegria estava na quebra de sigilo bancário e telefônico de Jair Bolsonaro, determinada por Alexandre de Moraes, somada à manchete da revista Veja, que dizia que Mauro Cid admitiria a venda joias a mando do ex-presidente. No dia seguinte, no Estadão, a ducha de água fria: “Advogado recua e diz que confissão não vai tratar de joias”. No texto, a frase: “Não tem nada a ver com joias! Isso foi erro da (REVISTA) Veja, não se falou em joias (SIC)”.

Jornalismo precoce

Quando a lacração fala mais alto, o jornalismo e a prudência ficam em segundo plano. Em 2018, em meio à disputa eleitoral, uma jovem afirmou ter sido atacada por neonazistas, em Porto Alegre. A história, carregada de fantasia e inconsistências, era um relato que não parava em pé. Como havia a intenção de colar a pecha de nazista em Jair Bolsonaro (algo parecido com o que ocorre hoje com o argentino Javier Milei) rádios, jornais e emissoras de televisão compraram a história, sem desconfiar. Alguns dias depois, a verdade: tudo não passou de invenção da menina.

Pesos e medidas diferentes

Quando Lula deixou o Palácio da Alvorada, em janeiro de 2011, foram necessários onze caminhões para transportar a mudança – um deles refrigerado, para levar vinhos da adega. À época, a definição do que era público ou privado tinha como referência uma lei de 1991. Mais 1,4 milhão de itens (entre eles obras de arte, joias, bebidas, cartas e presentes de populares) deixaram a residência oficial. Anos mais tarde, em 2016, o Tribunal de Contas da União revisitou o tema e produziu nova interpretação. Uma auditoria foi realizada e constatou que Lula deveria devolver pouco mais de 400 itens, sendo que 100 deles não foram localizados. Os critérios a serem usados para definir o que vira acervo e o que configura item de uso “personalíssimo” também são alvo de debate atualmente. Mas, sem qualquer surpresa, a imprensa nacional militante que usa lupa para olhar uma formiga (o caso de Jair Bolsonaro) é incapaz de ver a manada de elefantes que passa ao lado.

Confiança pelo ralo

A primeira quinzena de agosto foi amarga para o mercado de ações brasileiro, com treze quedas seguidas, na Bolsa de Valores São Paulo, algo que não ocorria desde a década de 1970. Investidores estrangeiros retiraram mais de R$ 8,6 bilhões do país. O número supera o de março (o pior até então), quando R$ 4,3 bilhões abandonaram o Brasil. Para quem entende um pingo de economia, a dupla Lula/Haddad não inspira nenhuma confiança.

Milei lidera

O candidato libertário Javier Milei lidera a preferência dos eleitores argentinos, na primeira pesquisa após as primárias. Ele tem avaliação positiva de 44,5% dos eleitores, enquanto Patricia Bullrich aparece com 40,9% e o governista Sergio Massa (da esquerda peronista) surge com percepção positiva de 26,1% do eleitorado. A pesquisa não é de resposta única. Quando é colocada em pauta a rejeição, as posições se invertem: Massa é o campeão, com 69%, enquanto Patricia e Millei aparecem, respectivamente, com 51,8% e 45,6%.

Primeiro turno?

A disputa presidencial na Argentina traz peculiaridades. Para vencer no primeiro turno, um candidato não precisa conquistar a “metade mais um” dos votos. Para não haver segundo turno, há dois cenários: atingir 45% dos votos (independentemente da votação dos outros postulantes) ou 40% e abrir diferença igual ou superior a dez pontos percentuais em relação aos demais. As chances de Javier Milei estão no primeiro turno. Se a decisão for para o segundo, a candidata Patricia Bullrich – apoiada pelo ex-presidente Mauricio Macri – deve amealhar os votos da esquerda.

Populismo sem limites

O candidato Sergio Massa é também o atual ministro da Economia da Argentina. Em uma decisão populista e sem-vergonha, o sujeito decidiu que os preços dos combustíveis permanecerão congelados até o final da eleição, algo absurdo para um país que enfrenta inflação anual superior a 120%. Massa ainda rejeitou a ideia de renunciar ao cargo durante a campanha, alegando que a medida “causaria muitos danos à estabilidade econômica do país”. Trata-se da mistura de arrogância com burrice. Para fazer bem à economia da Argentina, Massa e Fernández deveriam dar o fora o mais rápido possível.


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