Dois caminhos para Bolsonaro

Dois caminhos para Bolsonaro

O presidente tem duas alternativas: ou adota uma linha populista com a dos antecessores, ou opta por uma rota mais difícil

Guilherme Baumhardt

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Em 1991, o marqueteiro de Bill Clinton, James Carville, cunhou a frase que até hoje é uma espécie de mantra na área política: “É a economia, estúpido”. Muitos acreditavam que o então presidente George Bush (o pai) caminhava para uma tranquila reeleição, especialmente após o resultado da Guerra do Golfo, que serviu para resgatar parte da autoestima norte-americana, bastante abalada após a Guerra do Vietnã. Olhou para fora, para o papel dos Estados Unidos no tabuleiro internacional, mas esqueceu do próprio umbigo. Ou melhor, esqueceu do bolso dos americanos, esvaziado após uma grave recessão. O resto é história. Bill Clinton vence e, mesmo após o escândalo Monica Lewinsky, conquista mais quatro anos na Casa Branca.

Por aqui, o futuro de Jair Bolsonaro passa por caminho semelhante. O atual presidente brasileiro relegou a segundo ou terceiro plano o combate à corrupção. Nem faço referência à saída turbulenta do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, mas à escolha para a Procuradoria-Geral da República (Augusto Aras) e à primeira indicação ao Supremo Tribunal Federal (Kassio Nunes Marques). O mais novo ministro do STF, aliás, desferiu mais um duro golpe na tentativa de moralização do país, suspendendo um trecho da Lei da Ficha Limpa, ao impedir que o prazo de inelegibilidade de políticos ultrapasse oito anos após a condenação. Se isso não é favorecer quem corrompe, não sei do que se trata.

De volta ao título, é a economia, estúpido! Bolsonaro já entendeu isso. Ao dar aval para o auxílio emergencial, experimentou uma explosão de popularidade, especialmente nos estados do Norte e Nordeste do país, algo muito semelhante ao fenômeno criado com o advento do Bolsa Família, quando Lula, Dilma, o PT e seus satélites passaram a dominar as eleições naquelas regiões. A pergunta agora é: qual o caminho que será adotado pelo atual presidente brasileiro?

Que a questão ética tem limitadores para fins eleitorais, todos já sabemos – Lula se reelegeu em meio ao escândalo do Mensalão, enquanto Dilma conquistou o segundo mandato com a Lava Jato batendo às portas do seu governo. A moralidade na política ganhou força no pleito de 2018, mas misturada a uma crise econômica, em um país que tentava se reerguer após sucessivos tombos, com desemprego, queda de renda e empobrecimento da população. Bolsonaro tem dois caminhos. O primeiro é adotar uma linha populista como a dos antecessores, distribuindo auxílios, bolsas, uma política baseada no assistencialismo fácil. É o caminho mais fácil para uma reeleição ou para fazer o sucessor. Agrada ao centrão, reduz as chances de um impeachment e catapulta a popularidade para níveis vistos apenas no auge da gestão lulista. Ou...

Ou adota um caminho mais tortuoso, mas que se lograr êxito, lança as bases para o Brasil das próximas décadas. Não é um atalho. É a estrada de serra, cheia de curvas, sinuosa, com trechos em aclive, difíceis de serem vencidos. É abrir o país para o investimento internacional, garantindo segurança jurídica e a atratividade necessária para geração de emprego e renda. É permitir que reformas avancem e amarras sejam retiradas dos setores produtivos nacionais, com as reformas tributária e administrativa. O efeito destas medidas geralmente demora mais a aparecer, por isso os frutos eleitorais também são mais incertos.

De uma forma ou de outra, tudo passa pelo comando do Ministério da Economia. O titular da pasta hoje, Paulo Guedes, parece chamuscado. Se não será ele, restam duas alternativas. Ou o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, assume a bronca e leva adiante a agenda liberal e de privatizações, ou cairemos nas mãos de um novo Guido Mantega, que fazia o que Dilma mandava. O resultado todos nós sabemos, basta olhar o Produto Interno Bruto entre os anos de 2014 e 2016. O atalho é tentador, pode garantir uma reeleição fácil, mas não fará de Bolsonaro o estadista que o país precisa se quiser realmente erradicar pobreza e entrar no clube das grandes e consistentes economias.


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