E agora, Moraes?

E agora, Moraes?

Guilherme Baumhardt

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Lula disse, com todas as letras: o impeachment de Dilma Rousseff foi um “golpe de Estado”. Que a indústria de narrativas existe e produz desinformação há bastante tempo não é segredo para ninguém. Mas, neste caso, ainda me surpreendo com a insistência do PT e suas figuras mais ilustres por seguirem batendo nesta tecla. É cansativo. Assim como Lula não foi inocentado (uma coisa é um júri considerar alguém inocente, outra é anular condenações), Dilma não foi alvo de golpe algum.

Apesar da ladainha petista, não passa pela minha cabeça cercear qualquer tipo de manifestação de Lula ou qualquer outro que venha a levantar a bandeira do “foi ‘górpi’”. Se para mim a liberdade está acima de tudo, ela deve prevalecer, também, para que as pessoas externem suas estultices, por mais absurdas que sejam.

A pergunta é outra: e agora, Alexandre de Moraes? Como fica? Olha, sem qualquer pretensão de querer ensinar togado da Suprema Corte, mas já que o senhor inventou essa excrescência em que o STF é vítima e ao mesmo tempo investigador e julgador, não seria o caso de enquadrar Lula nas fake news, não? Afinal, quem presidiu a sessão do impeachment, no Senado, foi um ministro do STF. No seu lugar, eu não faria absolutamente nada – assim como não produziria inúmeras decisões absurdas proferidas pelo ilustre ministro. Por uma questão de coerência, porém, acho que Lula deveria ser enquadrado. Ok, Moraes?

O episódio é revelador – mais uma vez – do duplipensar que reina no país. Levantar o debate, por exemplo, sobre o processo eleitoral no Brasil, é “atentar contra a democracia”, mas chamar uma cassação de mandato (com a qual pode-se concordar ou não) de “golpe” é algo que não traz risco algum de condenação. E nem deveria. Para mim, em nenhum dos dois casos, mas pela lógica vigente no país – em algumas redações Brasil afora, inclusive –, o primeiro caso está justificado. E pouco importa se na Alemanha ou Estados Unidos (países de primeiro mundo) as eleições foram alvo de questionamento. Aqui em Banânia o nosso sistema é perfeito e ai daqueles que ousam questioná-lo.

O que pensa o colunista? Sim, houve um golpe no caso Dilma. Golpe contra a lei, contra a Constituição, contra a história, contra aquilo que era a regra: governante com mandato cassado fica inelegível por oito anos, mas no caso dilmista isso foi reescrito e uma nova regra inventada, na hora, com as tintas de Ricardo Lewandowski (STF) e Renan Calheiros (Senado) – com o absurdo beneplácito dos demais integrantes da Suprema Corte. Se há um golpe, é este.

Quanto ao discurso lulista e o silêncio de setores estridentes da sociedade, mais uma vez não interessa o que é dito, mas de que lado se está.

Tensão

Depois de determinar a troca do comandante do Exército (as razões alegadas não passam de cortina de fumaça), Lula deu sinais de que não deve parar por aí. A imagem em que o general Tomás Ribeiro Paiva aparece sorridente cumprimentando o atual presidente da República não foi bem digerida por muitos, assim como a manchete de que ele seria o “preferido” do ministro do STF Alexandre de Moraes (sim, chegamos a este ponto). A tensão aumentou. Nos bastidores já tem gente propondo até um bolão: quem deixará primeiro a Esplanada dos Ministérios? José Múcio, ministro da Defesa, que não parece disposto a queimar ainda mais seu filme e trajetória com as interferências lulistas, ou o titular da Justiça, Flávio Dino, que está despertando ira e inveja em setores do petismo, pelo espaço midiático ocupado. O comunista hoje está no PSB.


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