"Elu"

"Elu"

Respeito é primordial, eu tenho uma visão não compartilhada pela prefeitura em questão

Guilherme Baumhardt

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Segundo a Prefeitura de Pelotas, “respeito é primordial”. Eu concordo. De acordo com a administração de um dos mais importantes municípios do Rio Grande do Sul, é preciso respeitar a diversidade sexual. E eu, mais uma vez, concordo. A diferença é o caminho a ser seguido. Eu tenho uma visão. A prefeitura em questão tem outra.

Uma publicação da cidade, em uma rede social, “ensina”: “Conheceu alguma pessoa transexual, travesti ou intersexo? Então pergunte: qual o seu pronome?”. E aí são listadas as alternativas: “Ela/dela, ele/dele, elu/delu ou indefinido”. E finaliza: “Use o pronome correto! Respeite!”. A saber: janeiro é o mês da visibilidade trans.

Dito isso: alguém sabe me dizer o que é “elu”? Duvido que você tenha a resposta. E por uma razão simples: tal palavra não existe na língua portuguesa. Não é um vocábulo, muito menos um pronome. Não passa de uma invenção, um arremedo, alimentado provavelmente por doses cavalares da chamada “lacração”.

O leitor provavelmente lembra do caso “nós pega o peixe”. Aos que não se recordam, em 2011, um livro distribuído pelo Ministério da Educação “ensinava” que era certo falar... errado! Anos depois a Justiça decidiu que aquilo era um absurdo. Quanto tempo foi gasto em uma discussão infrutífera? Quanto dinheiro do pagador de impostos movimentou a máquina pública para algo que não deveria sequer ter sido cogitado? Principalmente em um país com graves problemas educacionais, em que crianças saem da escola sem saber interpretar um texto e dominar as operações matemáticas mais simples. No Brasil do lulopetismo nos demos ao luxo de ensinar errado quem já sofria com ensino ruim.

Surpreende você, leitor, que esse tipo de iniciativa venha de sempre de governos de esquerda? Faz parte de uma agenda. É problematizar o que muitas vezes não é problema. É tirar do foco aquilo que merece atenção, com o objetivo de criar um grande debate que vai decidir porcaria nenhuma, algo que não vai mudar absolutamente nada. Serve apenas para dividir, criar cizânia. Mas gastamos tempo, energia e dinheiro do pagador de impostos com esse tipo de ação.

Querem outro exemplo? Tempos atrás, especialmente em redes sociais, surgiu uma espécie de campanha: “Eu luto pelo fim da cultura do estupro”. Perfeito. Agora pergunte: quantos dos entusiastas da ideia estavam realmente dispostos a resolver o problema? Todos os anos milhares de mulheres são vítimas de violência sexual. Mudar a lei, penas mais duras, prisão perpétua para quem é reincidente? Nada disso entrou na onda dos avatares engajados de redes sociais.

Voltando ao caso de Pelotas. Não seria mais interessante simplesmente trabalhar os conceitos de liberdade e respeito? As preferências, orientações ou opções de uma determinada pessoa dizem respeito apenas a ela. Se alguém é heterossexual, homossexual, bissexual, travesti, transformista, pouco importa.
Mas não há regras? Sim, existem. É o que está previsto em lei. E o que a lei diz? São premissas básicas e que atingem todos os casos acima citados. Sexo com menor de idade é pedofilia, é crime. Sexo em local público pode ser caracterizado como atentado violento ao pudor. Vale para todos.

Um sujeito preconceituoso dificilmente mudará de opinião com a iniciativa de Pelotas. A imensa maioria das pessoas não usará “elu”. O que de forma alguma se traduzirá em um ato de desrespeito. O maior potencial da campanha da prefeitura é despertar naqueles que nunca viram problema nas preferências alheias um sentimento de “de novo isso? Haja paciência”. Sim, é sempre um teste de paciência.


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