Estelionato

Estelionato

O eleitor brasileiro é merecedor de uma indenização, uma gorda indenização

Guilherme Baumhardt

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O eleitor brasileiro é merecedor de uma indenização, uma gorda indenização. Durante anos, ele foi induzido a acreditar que PT e PSDB eram partidos diferentes, de ideologias diferentes, com pensamentos e condutas diferentes. Hoje sabemos que tudo não passava de uma grande e imensa bobagem, uma gigantesca mentira, levada a público para enganar os bobos – ou seja, nós.

Estamos diante de mais uma prova (a fase das evidências já passou faz tempo) de que os embates vistos nas eleições de 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014 não passavam de um teatro. Tucanos e petistas têm muito mais em comum do que você imagina. Algum leitor mais atento pode dizer: “Mas eles faziam aquilo tão bem!”. Verdade. Mas também fomos patetas.

Durante o auge da crise do Mensalão foram reais as chances de impeachment do ex-presidiário Lula. Sem apoio político, enfraquecido, com a popularidade em queda e olhando para o céu na esperança de que uma desculpa menos esfarrapada caísse sobre as suas mãos, o ocupante do Palácio do Planalto teve sua cabeça preservada por... Fernando Henrique Cardoso! Sim, ele mesmo.

A tese vendida na época foi a de que “vamos fazer Lula sangrar até as eleições e ganharemos nas urnas”. Balela. Veio 2006 e Geraldo Alckmin tomou um laço. Sim, Alckmin, este mesmo que agora será vice de Lula, foi em 2006 o seu “oponente”. Nossa luz de alerta deveria ter acendido ali. Não foi o caso.

Naquela mesma eleição, o PSDB foi taxado de neoliberal, por ter vendido meia dúzia de “DinossaurosBrás”. Era uma crítica às privatizações, entre elas a da Telebrás, que abriu caminho para que milhões de brasileiros não fossem mais obrigados a virar sócios de estatais falidas Brasil afora. Uma linha telefônica passou a ser barata, o serviço ficou acessível e celulares viraram instrumento de trabalho de domésticas e pedreiros.

No lugar de ficar orgulhoso e defender um legado virtuoso, o PSDB (que é e sempre foi de esquerda) ficou envergonhado. Um patético Geraldo Alckmin foi para as ruas vestindo um macacão laranja da Petrobras, um boné azul dos Correios e disse que não privatizaria mais nada. Outra vez fomos avisados. E ignoramos.

Como diz um querido amigo: a diferença entre PT e PSDB é que o segundo aprendeu a usar mais talheres na hora do jantar de gala. Se não fossem o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal, duas boas heranças tucanas para o país, eu seria obrigado a concordar com ele.

Sobre o título da coluna, reforço: há algo em torno de 50 milhões de brasileiros esperando indenização por estelionato eleitoral.

POA...

Porto Alegre exerce uma espécie de magnetismo sobre mim. Explico: nasci no interior de São Paulo. Antes de completar um ano de vida, a família voltou ao Estado de origem para morar na capital do Rio Grande do Sul. Tempos depois, volto a São Paulo, para quatro anos depois retornar. No início da fase adulta, o novo destino foi uma cidade no interior de Massachusetts, nos Estados Unidos. E, um ano depois, a volta. Eu saio, mas Porto Alegre me traz de volta.

250...

A cidade que agora completa 250 anos desperta amores e algum ódio. E, em alguns casos, uma mesma situação desperta os dois sentimentos. O de cidade provinciana, em que quase tudo fecha cedo – um contraste com megalópoles como São Paulo, em que há vida e agito durante 24h. É uma característica que é vista em pequenas cidades do interior, mas também em grandes cidades europeias. Experimente sair para jantar depois das 21h em Munique, Alemanha, e você vai dar com a cara na porta de boa parte dos restaurantes da cidade. Somos europeus e interioranos ao mesmo tempo.

Anos

Porto Alegre durante muito tempo passou a impressão de ter estacionado no tempo. São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba... Inúmeras capitais brasileiras deram saltos de desenvolvimento. Passaram a oferecer equipamentos de lazer mais contemporâneos, fizeram grandes obras de infraestrutura, viraram objeto de desejo (Florianópolis talvez seja o grande exemplo). Hoje há um ar diferente. Regiões degradadas estão sendo revitalizadas. Há uma ideia que se espalha entre os moradores: a de que Porto Alegre precisa ser cuidada. Praças, parques, ruas, avenidas, prédios públicos e privados. Que o aniversário de 250 anos seja o marco dessa virada. Porto Alegre é, sim, demais. Só precisava de mais carinho. E liberdade. Já começamos não dando mais tanta importância para a vanguarda do atraso – não elegendo a comunista, por exemplo. Estamos no caminho certo.


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