Fábrica de fantasias

Fábrica de fantasias

A lógica da esquerda é ignorar a lógica e a vida real

Guilherme Baumhardt

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O Brasil tem um Ministério do Trabalho. Quando a esquerda está no poder, poderíamos muito bem chamar a pasta de Ministério da Fantasia. O atual ministro, o eterno sindicalista Luiz Marinho, é o nome perfeito para a missão. Marinho, que passou mais tempo dentro de um sindicato do que no chão de fábrica, quer revogar alguns dos poucos e raros avanços obtidos por estas bandas, nos últimos anos, com a reforma trabalhista.

Na sua cruzada, Marinho já escolheu um dos alvos: o saque aniversário, do FGTS. O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço é uma das grandes empulhações produzidas por estas bandas. Quem desconhece a lógica econômica, enxerga nele um direito e uma proteção. Quem sabe fazer contas, vê que não passa de uma tunga no bolso do trabalhador.

Se não vejamos: o dinheiro é do assalariado, mas é justamente ele que mais enfrenta obstáculos para ter acesso a algo que é... dele! O governo mexe na grana e alguns setores da economia também tem acesso, dependendo de como decide o... governo (sempre ele). Vamos além: o dinheiro que está preso na conta do FGTS rende, via de regra menos do que a inflação, ou seja, o dinheiro do “protegido” trabalhador brasileiro derrete.

"Se não houvesse o FGTS, a grana iria para o bolso do empresário”, dirão alguns. É coisa de quem adora se curvar ao Estado, mas é incapaz de ver a lógica do mercado. Estes valores hoje já entram no custo do empregado. E virariam salário. O empreendedor que optasse por não inseri-lo no contracheque perderia os melhores profissionais para empresas concorrentes. E arcaria com o preço da suas escolhas.

Quando chega ao poder, a esquerda trata de produzir aquilo que faz melhor: falsas narrativas. Entre elas, a de que o empregador é sempre mau, e o trabalhador, alguém que precisa ser amparado. Para isso, cria leis, regras e instrumentos de fiscalização de cunho paternalista. O que a turma da canhota esquece de dizer é que o muro que "protege" é o mesmo que dificulta a contratação. Do contrário, um empregador não pensaria um milhão e meio de vezes antes de assinar uma carteira de trabalho. No Brasil, é assim.

“Ah, o colunista gostaria de ver o país amarrado ao passado, em que a classe trabalhadora era explorada”, dirão os patetas e incautos. Claro que não. Para isso, vou além. Em 2008 (dados do Fundo Monetário Internacional), as economias dos Estados Unidos e da Comunidade Europeia tinham praticamente o mesmo tamanho. O Produto Interno Bruto das duas potências beirava os 15 trilhões de dólares. Hoje, uma década e meia depois, o Velho Continente ostenta praticamente o mesmo número, enquanto os norte-americanos praticamente dobraram o PIB. Qual a principal diferença? A economia norte-americana é muito mais livre e sem amarras, enquanto os europeus estão carregados de social-democracia, com seus amparos e socorros estatais. Alguém aí ainda vai acusar o colunista de querer amarrar o Brasil ao passado?

Lembro bem do período em que morei e trabalhei (legalmente) nos Estados Unidos. Em um dia, preenchi um formulário em um supermercado da região onde morava. No dia seguinte, o telefone tocou perguntando se eu tinha interesse na vaga. E, no outro, estava trabalhando, ganhando 7,5 dólares por hora. Na hora de voltar ao Brasil, avisei ao meu chefe que estava com data marcada para sair. Ele me perguntou até quando eu poderia trabalhar. Não havia sindicato, exame médico demissional, ida até o banco estatal para sacar qualquer fundo por tempo de serviço e toda a novela que temos no Brasil. No último dia de trabalho, recebi meu último contracheque, assinei a rescisão e a vida seguiu, para mim e para a empresa.

A lógica da esquerda é ignorar a lógica e a vida real. Jair Bolsonaro, na entrevista concedida a uma emissora de TV, em 2018, expôs a hipocrisia dominante, ao perguntar ao apresentador do programa (que defendia a CLT) se o contrato dele era celetista ou era PJ (pessoa jurídica).

Perguntas: quantas empresas já teve o atual ministro do Trabalho? Quantos empregos gerou? Quantas carteiras ele, como pessoa física ou empreendedor, já assinou? É o retrato do Brasil. Aqueles que adoram ditar como deve ser a vida dos outros, jamais trocaram estiveram do outro lado do balcão.


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