Futuro

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O sonho do MST finalmente se concretizou: viramos um imenso latifúndio que nada produz.

Guilherme Baumhardt

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Estamos em 2040. E o Brasil mudou bastante. Mais de 90% do território nacional agora é área indígena, enquanto outros 5% pertencem aos chamados “coletivos” – gente ligada à esquerda e, embalados por substâncias, ainda acredita em velhas fantasias marxistas, como a “mais valia”. O restante da área nacional pertence à casta que comanda o país e manda em tudo. O setor produtivo? Foi embora. O sonho do MST finalmente se concretizou: viramos um imenso latifúndio que nada produz. O MTST deixou de existir porque perdeu a missão. O oceano de edifícios vazios das grandes cidades não precisa mais ser invadido. Agora são prédios de todos, de todas e de todes.

Anos atrás a população foi convocada a participar de um grande plebiscito. A presença nos locais de votação era obrigatória – os ausentes teriam a ração mensal cortada. Sendo assim, a iniciativa foi um sucesso. Com ampla maioria (100% de aprovação nas urnas eletrônicas), os brasileiros confirmaram o que já previam os institutos de pesquisa Datafail e Vox Deux: o nome do país mudaria. No lugar de “República Federativa do Brasil”, viramos a “República Democrática, Popular e da Justiça Social Brasileira”.

O passo seguinte foi ampliar a democracia, aumentando o número de partidos e suas representações. No lugar de 513 deputados, são agora 5 mil. O Senado passou a contar com 2 mil integrantes. A população tem um leque quase infinito de partidos porque, afinal, somos uma democracia e é importante poder escolher. Vamos do Partido Socialista, passando pelo Comunista, até chegar a agremiações como a União do Proletariado, os Operários Republicanos e os concorrentes e radicais Partido da Esquerda e o Partido Mais à Esquerda.

Na nova nação, feriados mudaram de data ou foram extintos. Dia das Mães ou dos Pais? Esquece. Patriarcal demais. Agora temos o Dia da Responsabilidade Parental PoliPan Afetiva, que representa todxs que se veem pais, que se sentem pais e até aqueles que sob hipótese alguma querem ser pai ou mãe, mas se sentiam excluídxs. Feriado de Tiradentes? Não, não, não. Melhor tirar do mapa. Era liberal demais. Esse negócio de questionar carga tributária não pertence mais ao país. Proclamação da República? Mudou de página no calendário. No lugar do antigo 15 de Novembro foi antecipado para o dia 30 de Outubro – ninguém sabe exatamente o porquê, mas alguns acreditam ser uma homenagem ao ano de 2022.

O português ainda é a língua oficial, mas com inúmeras alterações. Verbos agora são verbxs e artigos morreram. Idioma e direito animal se aproximaram e expressões antigas e aceitas agora são politicamente incorretas. “Nem que a vaca tussa” está vetada, porque revelava uma incapacidade bovina. Um preconceito, afinal. “Vai pentear macaco” agora dá cana. Cinco a dez anos de prisão. O sindicato dos símios, após a volta do imposto sindical, contratou as melhores bancas de advogados e ingressou com uma ação alegando opressão. Nem todos os macacos queriam ter seus pelos alisados, o que configurava agressão e desrespeito.

Após uma implacável perseguição aos que se opunham à ideia do “ensino público, gratuito e de qualidade”, escolas e universidades estatais entraram em greve. Já estão assim há mais ou menos 15 anos, mas ninguém sentiu muito a diferença. Não fossem faixas penduradas nos prédios com os dizeres “Agora, é greve!”, o movimento já teria caído no esquecimento. A meritocracia virou crime, tão grave quanto homofobia e racismo. Fazer algo fora da curva? Nem pensar. Estabelecer uma meta? Sem chance. Não há mais conservadores, liberais e muito menos anarcocapitalistas.

Acordo. Coração na garganta, quase saindo pela boca. Batimento cardíaco acelerado e respiração ofegante. Ainda temos tempo.


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