Gasolina

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A gasolina já subiu, assim como o etanol

Guilherme Baumhardt

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Já abasteceu o carro? Bem, se não abasteceu, agora pouco importa. A gasolina já subiu, assim como o etanol (pouco utilizado como combustível principal nos Estados do Sul do Brasil). Como parcela da imprensa está se esforçando sobremaneira para transformar um aumento de impostos em algo bom, vamos novamente “desenhar” – é cansativo, mas necessário.

Todo aumento de carga tributária significa tirar mais dinheiro do bolso do contribuinte. Não é o dono do posto que vai pagar mais, não é a empresa dos postos de distribuição que vai arcar com este custo. Neste caso (assim como em todos os outros) seremos eu e você. Com a retomada da cobrança de PIS e Cofins, estamos falando de um aumento que pode chegar a 70 centavos no preço final ao consumidor, na bomba, por litro – caso da gasolina, já que no etanol o impacto foi menor.

Parece pouco, mas não é. Tomando como base um tanque de 50 litros, bastante comum nos carros nacionais, em um veículo que é abastecido duas vezes no mês, estamos falando de R$ 70 a menos no bolso do contribuinte – e R$ 70 a mais nos cofres do governo. É dinheiro suficiente para comprar 15 litros de leite. Ou ainda 14 quilos de arroz. Para piorar, há o efeito cascata. Motoboys, táxis e veículos de aplicativo ficam mais caros. E, com isso, sobra menos dinheiro no bolso de usuários destes serviços. Só quem ganha (?) é o governo.

Você continua achando pouco? Bem, embora nossa conta seja modesta (motoristas profissionais usam bem mais que dois tanques por mês), com uma única mudança de alíquota, ao longo de 12 meses, o governo vai retirar do meu, do seu, do nosso bolso 840 reais. E estamos falando apenas de PIS e Cofins, que são de arrecadação federal. O debate sobre o ICMS ainda não foi encerrado e há uma forte cobrança de governadores e prefeitos para a elevação das alíquotas, hoje limitadas por lei federal. Ou seja, existe uma chance de que os combustíveis fiquem ainda mais caros ao longo do ano.
Tudo isso gera pressão inflacionária. Quem mais sofre quando os preços sobem? Sim, os mais pobres, que não têm armas para buscar investimentos mais rentáveis (a maioria sequer consegue fazer uma poupança) e que dependem do transporte. E se você está entre aqueles que acreditam que gasolina é coisa de rico, vou lembrar que é este mesmo combustível que abastece não apenas as motos de tele-entrega, mas também aquela Marajó 1988, ou aquela Caravan 1977, utilizada pelo seu Zé, que faz serviços gerais, desde instalações hidráulicas até corte de grama, e que utiliza um carro velho, antigo, para realizar os serviços para os quais é contratado. Ah, e o carro dele não é flex, muito menos híbrido, Ok?

Tudo isso para ouvir, nesta semana, da boca presidencial, que, se o Brasil produz comida suficiente para atender a todos e ainda assim há fome, é porque há gente comendo demais. Pronto! Agora Lula virou o fiscal da barriga alheia. Meu caro presidente, por favor, quem come demais é o governo, esse mastodonte insaciável, que devora boa parte da riqueza produzida no Brasil. É ele o glutão! Mas esperar que Lula mude de ideia é pedir demais.

Enquanto isso, colegas da imprensa dizem que o aumento de tributos sobre combustíveis promove “justiça social”. Ou ainda: afirmam que a gasolina mais cara é benéfica para o meio ambiente, já que os veículos devem rodar menos e, portanto, emitir menos gases. Bem, se o raciocínio é este, que voltemos ao tempo das carroças. Só não reclamem da flatulência equina e do cheiro horroroso das ruas e avenidas da cidade, cobertas com esterco.

Haja malabarismo (e paciência).


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