Governo mofado

Governo mofado

Falta pouco para que o novo governo complete 90 dias

Guilherme Baumhardt

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Falta pouco para que o novo governo complete 90 dias. E o que temos até aqui? Quase nada. É um início fraco, bastante previsível, o famoso “mais do mesmo”. E é uma arrancada tão carente de novas ações que chegamos ao ponto de questionar se não é um exagero chamar a gestão atual de “novo governo”. Absurdo ainda maior talvez seja classificar a desorientação que predomina em Brasília como “gestão”.

O que vemos até aqui é um amontoado de frases soltas, ações difusas e gente enfiando os pés pelas mãos. Já teve ministro prometendo passagens aéreas a R$ 200. Como isso seria colocado em prática? Ninguém soube explicar até agora. De outro lado, encontramos um ministro da Agricultura absolutamente perdido, que no lugar de participar da abertura da colheita do arroz, no Rio Grande do Sul, resolveu emprestar seu tempo e prestígio a um evento do bandoleiro MST, inimigo natural do agronegócio e braço auxiliar do PT.

Até quando tenta tirar uma casquinha de uma ação de um órgão independente, como é a Polícia Federal, o governo bate cabeça. Flávio Dino e Gleisi Hoffmann procuraram capitalizar, dizendo que a PF salvou a vida do senador Sergio Moro, mas viram Lula colocar em xeque a instituição, o Ministério Público e a Justiça, ao dizer que tudo não passava de uma “armação” do ex-juiz e ex-ministro.

Na economia, nem Fernando Haddad e nem Simone Tebet conseguiram explicar até agora o que será o tal “arcabouço fiscal”, que substituirá o teto de gastos. Talvez porque nem mesmo eles tenham entendido. Ou porque a ideia é tão ruim, mas tão ruim que eles sabem que a reação do mercado poderá ser trágica. Para muitos economistas, o dólar já deveria estar abaixo dos R$ 5, acompanhando um movimento de desvalorização da moeda norte-americana que ocorre no mundo. Já a Bolsa de Valores de São Paulo derrete, caindo abaixo dos 100 mil pontos. Enquanto fracassa na área econômica, Lula direciona as baterias contra a única coisa que funciona: o Banco Central independente, presidido por Roberto Campos Neto.

Na saúde a grande “novidade” é, mais uma vez, o Mais Médicos, programa que serviu para o envio de dinheiro brasileiro para Cuba. A intenção agora é priorizar profissionais brasileiros, mas há uma diferença entre discurso e prática. Assim como ocorreu na primeira edição do projeto, não há a necessidade de revalidar o diploma obtido no exterior, uma exigência comum em países desenvolvidos. É assim nos Estados Unidos, na Alemanha e em outras nações. Não há reserva de mercado, mas o profissional precisa atestar as credenciais antes de atuar. Aqui o governo fará vistas grossas. E o povo que se vire com profissionais de formação duvidosa. Ah, e por se tratar de uma bolsa, as garantias trabalhistas, tão exigidas do setor privado nacional por órgãos de fiscalização e controle, como MPT e Ministério do Trabalho, ficam relegadas a segundo plano.

Na área de infraestrutura, as parcerias público-privadas que foram destravadas na gestão anterior, sob a batuta de Tarcísio Gomes de Freitas, agora sumiram do noticiário. Não se sabe exatamente qual será o caminho adotado, mas alguém se surpreenderia se a decisão fosse pelas grandes obras, bancadas por dinheiro do pagador de impostos e que, no passado, serviram para irrigar dutos e mais dutos de corrupção? Do ministro dos Transportes, Renan Calheiros Filho, pouco se ouviu até agora.

Na articulação política talvez surja a grande surpresa. E ela não vem do bloco governista, mas da oposição. Há coletas de assinaturas para comissões parlamentares de inquérito com potencial para deixar o Palácio do Planalto de cabelo em pé. Desde a proposta que pretende investigar os atos do dia 8 de janeiro até uma CPI que pretende mergulhar nas entranhas do MST. Com tanto atropelo, quem segue em silêncio e bastante reservado é o vice, Geraldo Alckmin.

 


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