Gretalândia

Gretalândia

Os olhos e as atenções estarão voltados para o Brasil. Parcela considerável do mundo desenvolvido e da opinião pública global aponta uma espécie de espada na nossa direção

Guilherme Baumhardt

A ativista climática sueca Greta Thunberg já doou um prêmio de 100 mil dólares para combater a pandemia

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A imagem da menina com olhar carregado de raiva, com os dentes cerrados e disparando a frase “how dare you?” (“como vocês ousam?”) seria digna do seriado de televisão Supernanny, que fez sucesso mundial ao mostrar a rotina de casas nas quais as crianças mandavam no pedaço, à revelia dos pais. O problema é que não estamos falando de um show de TV, mas tratando da jovem que virou porta-voz de assuntos ambientais e climáticos, uma grande besteira protagonizada por gente adulta, que deixou que isso acontecesse.

O próximo palco de Greta já está montado e o show tem data para começar. Será na COP-26, em Glasgow, na Escócia, a partir do próximo domingo. Greta não entende patavina sobre a produção agrícola mundial. Greta desconhece completamente a realidade brasileira, mas opina sobre o país. A menina é, ainda, de uma ignorância ímpar sobre as leis que regem a economia. Se soubesse algo, entenderia que há um binômio: ao defender o radicalismo ambiental, Greta defende, também, a fome. Mas a culpa não é dela. A menina, infelizmente, virou um produto, instrumento de gente com interesses bastante claros, mas que ainda encontram incautos dispostos a cair como patos no conto climático.

Não será diferente agora. Os olhos e as atenções estarão voltados para o Brasil. Parcela considerável do mundo desenvolvido e da opinião pública global aponta uma espécie de espada na nossa direção. Isso é até compreensível. O que é impossível de entender é que o discurso externo seja comprado de maneira tão fácil pelos players internos – grande parte da imprensa, inclusive.

O Brasil tem o melhor agronegócio do mundo. É o que melhor produz, com menor impacto, com alguns dos melhores índices de produtividade, com baixo uso de defensivos agrícolas. Em resumo: coloca comida boa e barata na mesa de milhões mundo afora, todos os dias. Tudo isso usando pouco mais de 7% do território nacional para a agricultura – a metade da área destinada a reservas indígenas, por exemplo. Manter esse potencial todo sob constante ameaça é a maneira encontrada por países protecionistas para justificar políticas que cada vez menos encontram respaldo interno. Produtores rurais, especialmente de países europeus (os franceses são os campeões), só permanecem no campo graças a pesados subsídios, bancados pela população dos centros urbanos, que pagam impostos e sustentam a brincadeira que, sem socorro governamental, jamais teria condições de competir com o Brasil.

A patrulha global do politicamente correto já nos empurrou para algumas armadilhas. Comprar o protecionismo agrícola europeu é uma delas, mas não a única. A mais recente é a virada de chave nas fontes de energia. O petróleo (responsável pela geração de riqueza e desenvolvimento ao longo de décadas) é o vilão do momento.

O que muitos esquecem de dizer é que energia limpa (área em que o Brasil também é modelo) é também mais cara – com tendência de redução de custo no médio e longo prazos. E se é mais cara, torna investimentos mais onerosos. Em países carentes de infraestrutura, significa afugentar o capital e, consequentemente, afastar a possibilidade de gerar empregos. Sem emprego, não há renda. Em outras palavras: tornar o mundo mais verde a fórceps também se traduz em condenar populações a viverem na pobreza por mais tempo.

Nações ricas sinalizam com um fundo de 100 bilhões de dólares para financiar “projetos verdes”. Num primeiro olhar, pode parecer uma soma interessante, mas é trocado diante do valor necessário para virar a chave. Neste momento esta é uma pauta que interessa apenas aos países que já entraram no seleto clube das nações ricas. Apesar dos alertas, teremos em Glasgow mais uma vez câmeras e atenções voltadas para aquilo que virou uma espécie de parque de diversões da jovem Greta Thunberg: muito teatro e pouca racionalidade.


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