Heróis de sinal trocado

Heróis de sinal trocado

Idolatria a figuras erradas e por motivos errados

Guilherme Baumhardt

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Getúlio Vargas, Fidel Castro, Hugo Chávez, Che Guevara, Juan Domingo Perón e, em breve, Lula? Países latino-americanos são pródigos na hora de encastelar e enaltecer gente que deveria ser relegada ao ostracismo ou, em alguns casos, à lata de lixo da história. Mas graças ao raciocínio torto que impera por estas bandas, o que sobram são homenagens.

Muito se fala da ditadura militar brasileira (1964 – 1985), mas pouco se resgata o período ditatorial de Getúlio Vargas. Tal qual o regime liderado pelos generais, houve perseguição, tortura e morte. Mas na imprensa, academia e círculos políticos, pegamos leve, bem leve com o “pai dos pobres”. Alguns citam avanços e lembram sempre a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Poucos dizem, porém, que o documento tinha inspiração fascista (Carta del Lavoro, da Itália de Benito Mussolini). Uma peça que já nasceu atrasada e que há décadas freia o desenvolvimento do país.

Nem mesmo os vínculos e a simpatia do regime varguista com o nazismo (evidenciados pela cooperação entre a política chefiada por Filinto Müller com a Gestapo) são suficientes para melhor calibrar as reverências a Getúlio Vargas. E tome homenagem! Um parque ali, uma praça acolá, em uma cidade uma avenida, em outra, um viaduto. É, sem dúvida alguma, a figura pública mais onipresente nas cidades brasileiras.

Viajando até o Caribe encontraremos a figura de Fidel Castro. Não era ele o “pai dos pobres”, como Vargas, mas “El Comandante”. O homem que livrou Cuba das garras do imperialismo norte-americano. Seus defensores alegam que a ilha caribenha, no período de Fulgencio Batista, era um parque de diversões dos Estados Unidos, com cassinos e prostíbulos por todos os lados. Ninguém dirá que isso era bom. O que muitos fazem é fechar os olhos para a pobreza na qual se transformou a ilha presídio. Se era ruim antes, ficou pior com a ditadura Castro.

Agora tente enumerar as homenagens aos “heróis” do “outro lado”. Não é tarefa fácil. Não porque eles não existam. Havia resistências a Getúlio, havia críticas a Fidel e à esquerda latino-americana. Mas pergunto: quantas praças, parques, ruas ou avenidas há no Brasil com o nome, por exemplo, de Carlos Lacerda? Ou ainda: quantas homenagens foram feitas a Roberto Campos, o primeiro liberal de maior expressão no Brasil? São raras.

Se o leitor acha que o colunista está exagerando, saiba que no Brasil existem, por exemplo, escolas com o nome de Ernesto Che Guevara. Há também rua com o nome de Fidel Castro e, em Porto Alegre, um memorial para o comunista Luís Carlos Prestes. Tente encontrar homenagens semelhantes a figuras como Margaret Thatcher ou Ronald Reagan. Difícil, para não dizer impossível.

Enquanto idolatrarmos as figuras erradas e pelas razões erradas, estaremos amarrados ao atraso.

Festival da hipocrisia

O relato a seguir é um breve flagrante do período de férias do colunista, dos microfones da Rádio Guaíba. A praia é uma das mais badaladas e caras de Florianópolis. À beira do mar, em frente ao hotel igualmente caro, nas cadeiras e guarda-sóis de uso exclusivo dos hóspedes, um sujeito aproveita a brisa, o sol, a paisagem. Em uma busca rápida em um site especializado, uma diária de final de semana, em alta temporada, não sai por menos de R$ 2 mil. Há algum problema nisso? Nenhum, exceto pelo valente estar com um boné alusivo à revolução cubana (estrela vermelha à frente) enfiado na cabeça. Há hipocrisia maior?

O petismo...

Jair Bolsonaro esteve longe de ser um lorde no tratamento com a imprensa. Talvez houvesse ali algum espírito de reciprocidade. Se de um lado vinham chutes, do outro partiam pontapés. Nada que justificasse grosseria e falta de educação. Bolsonaro era uma espécie de João Batista Figueiredo repaginado para o século XXI na relação com jornalistas e veículos de comunicação.

...e a imprensa

Não há, porém, notícia de processos (muito menos uma enxurrada deles) contra profissionais da imprensa, apesar dos rótulos de fascista e genocida, que não se sustentam após uma breve consulta ao dicionário. Já sabemos como Lula trata com a imprensa. Ou melhor, com “as imprensas”. Há aquela que é naturalmente simpática a ele. Existem aqueles que mudam de posição ao sabor dos ventos – más línguas dizem que é apenas uma questão de preço. E existem aqueles que mantêm posições e críticas. É sobre estes que pairam dúvidas.

Histórico nada bom

Lula já ordenou o cancelamento do visto de um jornalista norte-americano (Larry Rohter), por ter sua predileção pelo álcool exposta pelo profissional. Há uma ideia fixa de regular a imprensa, assim como as redes sociais. A criação de um conselho com o poder de cassar diploma por crime de opinião nunca morreu. No Rio Grande do Sul, o governo Olívio Dutra foi o período mais duro para o trabalho da imprensa, com perseguição sistemática, via processos, contra profissionais. O novo titular da comunicação é Paulo Pimenta, deputado federal pelo Rio Grande do Sul. Aguardemos.


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