Independência verde e amarela

Independência verde e amarela

A ideia de pátria, por si só, não quer dizer muita coisa. Exceto se junto dela vierem, também, valores, que, aí sim, constituem uma nação

Guilherme Baumhardt

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O 7 de Setembro foi grande. E foi assim em praticamente todo o país. Foi um dia de celebrar o país, a independência, de renovar votos e reforçar valores. Não é uma data partidária, mas de uma nação. E assim foi encarada pela maioria. Não é a celebração de um ou outro candidato. Houve choro e ranger de dentes, dentro de um espectro político. E há razões que explicam o fenômeno. Peço desculpas se volto ao assunto – já abordei este tema na coluna.

Há uma queixa de que símbolos da pátria foram apropriados (ou “sequestrados”) pelo atual presidente da República e seus apoiadores. Acredite se quiser, houve até uma tentativa de tornar crime eleitoral o uso da bandeira e das cores nacionais, por uma juíza eleitoral – felizmente interrompida pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul.

Aqueles que hoje reclamam, jamais deram valor a tais símbolos. Marisa Letícia, já falecida, resolveu decorar os jardins do Palácio da Alvorada com flores vermelhas, no formato de uma estrela, quando era primeira-dama – uma clara tentativa de tornar algo público (a residência presidencial) em algo privado, de um partido ou ideologia.

Nunca houve apreço da esquerda pelo verde e amarelo. A bandeira? Era até brega. Lembro de professoras (esquerdistas) voltando para a sala de aula, fazendo mil e uma ressalvas às datas da pátria, após o hasteamento da bandeira e a execução do hino, no pátio da escola, em datas comemorativas.

A bandeira era alvo de menosprezo tão grande que algumas foram, inclusive, queimadas em manifestações. Ou, como no caso mais recente, pisoteada pela cantora Bebel Gilberto, durante um show. As cores? Nada de verde e amarelo. Bom mesmo era o vermelho. Tão bom que ele, o vermelho, substituiu o verde na bandeira brasileira, em um quadro na casa do ex-radical e "neo moderado" Marcelo Freixo (há inúmeras imagens disponíveis na rede).

A ideia de pátria, por si só, não quer dizer muita coisa. Exceto se junto dela vierem, também, valores, que, aí sim, constituem uma nação. E são os valores que dizem se estamos diante de algo pelo qual vale a pena brigar. Cubanos amam o seu país, mas não têm liberdade. Os caribenhos são simpáticos, gostam da música, das praias e de tudo que eles (ainda) podem produzir por lá. Mas não nutrem o amor que poderiam se aquilo não fosse o que é: uma ilha presídio, sede de uma ditadura fétida, putrefata. Se não fosse assim, não construiriam embarcações precárias, arriscando a própria vida, rumo aos... Estados Unidos.

Falando nos Estados Unidos, norte-americanos saem às ruas no 4 de Julho, para celebrar a independência. Diferentemente do que ocorre em Cuba, há valores pelos quais a população não abre mão. Liberdade é o principal deles.

Como já foi dito, não houve sequestro de símbolos e cores nacionais. O que houve foi um resgate. Diante do desprezo com que a ideia de uma nação foi tratada nos últimos anos (e tudo de bom que nela existe), vivemos hoje uma espécie de redenção. A esquerda atirou nossa bandeira no lixo, relativizou ao máximo a nossa história, ridicularizou personagens importantes do Brasil. Aqueles que não concordavam com isso foram até essa mesma lixeira, limparam o que era possível e agora tratam de reconstruir o estrago causado.

Mais do que uma manifestação pró-presidente, as centenas de milhares de brasileiros que foram às ruas ontem, dia da Independência, gritaram por algo muito maior: gritaram por liberdade. E brigaram por algo que, apesar dos maus tratos, dos chutes e pontapés, ainda vale a pena. Parabéns, Brasil.


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