Ingênuos, ignorantes ou surdos?

Ingênuos, ignorantes ou surdos?

Não entendo o espanto com as diretrizes lulistas

Guilherme Baumhardt

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Não entendo o espanto de muita gente (em especial a turma dos “liberais de boutique”) com as diretrizes lulistas para a economia. Ele está fazendo exatamente o que disse durante a campanha. Criticou a reforma trabalhista, o teto de gastos e as privatizações. Veio a disputa, a declaração de vitória pelo TSE, um grupo de transição foi instalado e o que vemos? PEC do rompe teto (R$ 200 bilhões), estatais que permanecerão sob controle do governo, aumento do gasto público e que se exploda a responsabilidade fiscal. Falta apenas a proposta para enterrar a (tímida) reforma trabalhista feita no governo de Michel Temer.

Aos que desejavam ver um governo petista moderado, a semana trouxe mais um choque de realidade. Muitos sonhavam com Geraldo Alckmin em algum ministério de ponta. Governador bem avaliado em São Paulo e avesso a devaneios administrativos, seria uma espécie de porto seguro do governo. Mas Lula deixou claro: “Alckmin não disputa vaga de ministro porque é o vice-presidente da República”. Na lista de apostas para a Fazenda, Henrique Meirelles, outro bastião da saúde fiscal, está mais gelado que traseiro de pinguim. Nem mesmo ele acredita que será convidado, especialmente após dizer que Lula “dilmou”, por adotar a linha radical. É mais um nome que fica pelo caminho. Faz o L agora, Meirelles!

Aqueles que ainda têm um fio de esperança torcem por Pérsio Arida, um dos criadores do Plano Real, e que está no grupo de transição. Mas, enquanto escrevo estas linhas, rumores dão conta de que é questão de tempo para que ele também abandone o barco. Quem sobra? Figuras como Nelson Barbosa e Guido Mantega, responsáveis pelo show de horrores visto no governo Dilma Rousseff. E Lula já disse que gostaria de um político na Fazenda – seria ele Fernando Haddad?

Há alguns dias o jornalista e colunista do Correio do Povo Alexandre Garcia compartilhou com os ouvintes do Agora (Rádio Guaíba) uma breve história. Quando era titular do Ministério da Educação, Haddad ligou para o jornalista e convidou-o para uma visita. Alexandre Garcia foi ao gabinete e ouviu o seguinte: “Você fica dizendo que o marxismo é coisa do passado. Não é! É o futuro da humanidade! Eu separei alguns livros aqui para você ler e se convencer de que o marxismo é o futuro”. Há, portanto, um risco real de termos um marxista convicto no comando da economia do Brasil.

Na quinta-feira, Lula resolveu dar o ar da graça e promover um desarranjo verbal. “Por que as pessoas são levadas a sofrerem por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal nesse país? Por que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gasto, é preciso fazer superávit, é preciso fazer teto de gasto?”, disse o palanque ambulante. Eu respondo: se não fizermos isso, mergulharemos em outra crise como aquela deixada por Lula e Dilma, em 2015.

O impacto da fala lulista veio na hora. O dólar disparou no Brasil (enquanto apresentava queda no restante do mundo), e a Bolsa de Valores de São Paulo despencou. “Ah, mas não tenho ações em bolsa, isso não me atinge”. Atinge, sim, amigão. É a confiança do país que está em jogo. Ninguém minimamente responsável duvidava da irresponsabilidade gerencial de um governo petista. O que não se imaginava é que chegaríamos tão rápido à beira do precipício.

E Armínio Fraga, que defendeu Lula durante a campanha? Também se disse frustrado. Aliás, Armínio, Arida, Meirelles, Alckmin e tantos outros que avalizaram o petismo na campanha são cúmplices da tragédia econômica que se aproxima. E isso nós jamais poderemos esquecer. Essa turma sofre de quê, afinal? São ingênuos, ignorantes ou surdos?

A volta da harmonia
A imagem dos abraços, sorrisos, beijos e tapinhas no rosto e nas costas resumem bem o deboche que virou o país. Lula ser recebido no Supremo Tribunal Federal é do jogo. Mas aquela cena é um tapa na cara do Brasil. Aqueles que estavam saudosos da “harmonia entre os poderes” devem estar soltando foguetes. E a pergunta: foi uma visita de cortesia ou de agradecimento? Sem o STF e suas decisões estapafúrdias, o petista provavelmente ainda estaria na cadeia.

Depois de Alckmin, Rigotto
Já escrevi: poucos rasgaram com tanta vontade a própria biografia quanto Geraldo Alckmin. Temos agora um gaúcho que se aproxima do feito: Germano Rigotto, ex-governador do Rio Grande do Sul. A manchete do Estadão resume: “MDB indica Renan Calheiros, Jader Barbalho e Germano Rigotto para equipe de transição”. Sobre os dois primeiros recomenda-se distância segura. Mas Rigotto, pelo visto, não viu problema. Lamentável.

Falando em MDB...
O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, é hoje o principal nome do MDB, no Rio Grande do Sul. Pedro Simon permanece, obviamente, como referencial histórico, mas não tem mandato e não concorrerá mais. José Ivo Sartori segue respeitado e prestigiado, mas não demonstra intenção de disputar cargo público. Osmar Terra e Alceu Moreira consolidaram posições importantes, mas no legislativo. O outro nome que surge é o de Gabriel Souza, vice-governador eleito. Resta saber se ele terá papel de destaque no governo Eduardo Leite, capaz de alçá-lo à condição de liderança regional, ou se será mero coadjuvante. Dos últimos vices, apenas Miguel Rossetto teve algum êxito eleitoral.


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